quarta-feira, 4 de maio de 2011
"NÃO HÁ RAZÃO PARA COMEMORAR UM ASSASSINATO", diz historiadora
“A primeira reação de grande parte da população americana diante da notícia da morte de Osama bin Laden, o rosto mais famoso do terrorismo internacional, foi sair às ruas para comemorar a derrota de seu inimigo. No entanto, a operação contra o terrorista saudita foi um assassinato sumário e como tal não deveria ser comemorado, de acordo com a análise da historiadora Maria Aparecida de Aquino.
"Há meses vinha sendo preparada, junto com o governo do Paquistão, toda uma operação para chegar à casa de Osama bin Laden. A ordem que se tinha era metralhar; a ordem era atirar. Fica difícil pensar em motivo para comemoração", pondera Aquino, professora em História Social da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisadora também questiona os precedentes abertos pela ação americana. "Isso não significa defender o que aconteceu em 11 de setembro de 2001, que foi um ato terrível e ofendeu a humanidade. Não significa negar o direito da população americana de buscar os culpados.
Mas defender a forma como isso foi feito será dar aos Estados Unidos a possibilidade de amanhã entrar em qualquer uma de nossas casas e dizer: ‘olha, imaginei que aqui houvesse um terrorista e andei metralhando’. É muito grave o que aconteceu".
Acompanhe a íntegra da entrevista:
UOL Notícias: Os americanos reagiram à notícia da morte de Bin Laden com festa e era possível ver cenas de comemoração e euforia nas ruas. Existe razão para comemorar? Essa euforia é justificável?
Maria Aparecida Aquino: Não. Se a gente admitir que existe razão para comemorações neste momento, então estaríamos admitindo que existe razão para comemorar um assassinato. Uma coisa que normalmente não se comenta é que os Estados Unidos gostam de jogar na cara de todos os outros países que eles são os guardiões da democracia do mundo, e sempre interferem em outros países para assegurar a democracia.
Entretanto, o que eles fizeram nesse caso é simplesmente um assassinato. Se houve um crime e você está atrás de uma pessoa que é teoricamente uma das responsáveis por esse crime, você tem o direito de pegar essa pessoa e submetê-la a um julgamento. Mas o que aconteceu foi simplesmente um assassinato.
O que podemos observar é que toda a euforia inicial nos Estados Unidos já baixou um pouco, porque eles têm temor muito grande –e devem mesmo. Pensar que a Al Qaeda se restringe a um homem só, Osama bin Laden, é uma tolice. A Al Qaeda é uma imensa organização. E é muito possível que haja retaliações. Então, em circunstância alguma teríamos motivos para comemorar, mesmo pertencendo à população americana, mesmo sendo o presidente dos Estados Unidos.
Se pessoas como nós, pessoas comuns, simplesmente coadunássemos com a ideia de comemoração, estaríamos coadunando contra todos os princípios que os próprios Estados Unidos dizem defender com tanta força.
UOL Notícias: Então é possível imaginar que os Estados Unidos poderiam ter feito uma captura sem recorrer a assassinato?
Aquino: Lógico. Eles tinham [exata] noção da localização. Planejaram a ação muito cuidadosamente. Chegaram até a casa e, uma vez lá, não havia condições de reação. Eles simplesmente metralharam quem estava pela frente.
UOL Notícias: Com relação ao corpo, como a senhora interpreta essa decisão dos Estados Unidos, de jogá-lo ao mar?
Aquino: A notícia de que eles teriam jogado o corpo ao mar é mais grave ainda, porque você não só submete o inimigo a um assassinato, como você também impede o ritual da morte.
Mesmo que não haja retaliação imediata, em breve essa ficha acaba caindo, mesmo entre a população, de que nem mesmo o direito à morte foi dado. Um dos maiores pilares da democracia é o habeas corpus, que em tradução muito simples do latim quer dizer: que se tenha direito ao corpo. Então, foi negado um elemento característico do estado de Direito.
Os americanos têm direito de estar muito zangados com o que aconteceu no 11 de setembro? Sim. Têm direito de investigar quem seriam os responsáveis? Sim. Mas a forma como se faz isso pode acabar por retirar todos os direitos que nos restam.
UOL Notícias: É possível imaginar que os Estados Unidos enxerguem a morte de Bin Laden como a morte do “mal”?
Aquino: É o que eles defendem. No fundo, eles pretendem impor ao mundo inteiro uma ideia: de que estão cobertos de razão, de que a humanidade pode respirar aliviada e de que agora estamos livres do mal, já que o mal estava condensado em uma pessoa. Mas isso é ilusão de ótica. É como os mágicos fazem: você olha para o outro lado, não presta atenção na prestidigitação que ele está fazendo com as mãos. Não podemos cair nessa história.
Isso não significa defender o que aconteceu em 11 de setembro de 2001, que foi um ato terrível e ofendeu a humanidade. Não significa negar o direito da população americana de buscar os culpados. Mas defender a forma como isso foi feito será dar aos Estados Unidos a possibilidade de amanhã entrar em qualquer uma de nossas casas e dizer: ‘olha, imaginei que aqui houvesse um terrorista e andei metralhando’. É muito grave o que aconteceu. Ou seja, não há motivo para comemoração.”
FONTE: UOL Notícias (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=153270&id_secao=9) [imagem do Google adicionada por este blog].
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4 comentários:
Essa puta fala assim porque não morreu nenhum familiar dela. Falam na porra de direitos humanos para um cara que acabou com muitas vidas. Fiquei muito feliz com a morte dele, mas não acredito que tenha sido ele. Acredito que os Estados Unidos forjaram a morte de Osama Bin Laden, e o mesmo permanece em cativeiro pelos americanos, com o objetivo de arrancar alguma informação. Nao acredito que tão rápido assim seus restos mortais seriam jogados ao mar. No mínimo um estudo de uma mente tão doente e insanamente inteligente.
Roselaine,
Se não acreditamos que tenha sido ele o culpado, assim como Saddam Hussein também não era, por que ficarmos felizes com a morte dele?
Suspeito que as "mentes doentes e insanamente inteligentes" estejam do outro lado.
Maria Tereza
O artigo "A intrigante (e oportuna) morte de Bin Laden", por M K Bhadrakumar, no “Strategic Review”, apresentado neste mesmo "blog",é bem elucidativo a respeito do que pode ter ocorrido no que diga respeito ao assassinato de Bin Laden. Dali deduzimos que o terrorista era carta fora de baralho há algum tempo, esperando o momento certo de ser imolado. Se houver ataques terroristas, estes se darão principalmente em países muçulmanos. Chego a afirmar que o Ocidente (Am. do Norte e Europa) não sofrerá um ataque sequer. Osa ma Bin Laden e a Al Qaeda já cumpriram o seu papel. Posições foram asseguradas no OM, inclusive com a "revolta" no Egito,pois Mubarak já se foi e agora o protagonista é o Exército Egípcio, que não poupará esforços para manter a ordem interna. Não haverá direitos humanos se uma revolta popular puser em perigo o poder no Egito. Realmente, os alvos preferenciais são Líbia e Síria, estando a China no primeiro e a Rússia no segundo. Lembram que Israel declarou que acabaria com o poder dos Al Assad na Síria? O que está ocorrendo por lá?Provavelmente, o poder na Arábia Saudita não será colocado em xeque. Se isto acontecer, o articulista já deu a resposta de quem será o interventor. Aí, também, não haverá direitos humanos. E assim o ódio irá plantando suas sementes. China e Rússia apoiarão o Irã, mesmo nos bastidores? É uma situação muito complexa. O Paquistão atacará o Irã em apoio a uma provável invasão ocidental do Irã?
Fluxo,
Sua excelente e realista análise enriquece o nosso conhecimento sobre o assunto. Suas prospectivas têm grande probabilidade de ocorrerem.
Maria Tereza
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