domingo, 1 de maio de 2011

XADREZ PALESTINO


Pacto entre Fatah e Hamas, mediado pelo Egito, indica que a mudança no Oriente Médio pode romper paralisia nas negociações com Israel

Um acordo anunciado no Cairo abre caminho para a reconciliação das duas principais facções palestinas, o grupo secular Fatah e o islâmico Hamas, mas ainda precisa passar pelo teste da realidade.

Os dois grupos travaram quase guerra civil em 2007, um ano após o Hamas vencer as últimas eleições legislativas nos territórios palestinos. O Fatah mantém controle parcial da Cisjordânia (2,5 milhões de habitantes); o Hamas, da faixa de Gaza (1,5 milhão). Ambos já anunciaram dois pactos semelhantes que fracassaram.

Embora tal histórico recomende cautela, as circunstâncias que agora impulsionam o acordo indicam que seria maior a possibilidade de êxito. Nesse caso, seria formado um governo de unidade, unificadas as forças de segurança e instituído um tribunal eleitoral, para realizar eleições em um ano.

O anúncio é, em primeiro lugar, resultado das rebeliões populares no Oriente Médio.

O Egito já atuava como interlocutor entre os grupos. O ditador Hosni Mubarak, contudo, mantinha viés contra o Hamas, próximo da organização egípcia Irmandade Muçulmana, então banida. O governo provisório que sucedeu Mubarak fez avançar a mediação.

Os protestos na Síria também influenciaram, ao enfraquecer o ditador Bashar Assad, que dá abrigo à cúpula do Hamas. Finalmente, jovens palestinos foram às ruas no início do mês para exigir o entendimento entre as facções.

O novo ambiente regional coincidiu, por outro lado, com a baixa popularidade dos líderes palestinos. Em Gaza, a administração do Hamas é mal avaliada pela população, que resiste à tentativa de islamizar a sociedade. Mahmoud Abbas, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), que é do Fatah, desgastou-se com a paralisia da negociação com Israel.

O acordo foi atacado pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Ele citou as ações terroristas do Hamas e sua recusa a reconhecer Israel -embora dirigentes da facção tenham admitido um Estado palestino nas fronteiras anteriores a 1967, forma indireta de aceitar o Estado israelense.

A contínua e crescente invasão e apropriação de territórios dos palestinos por Israel

Até analistas de Israel avaliam que Netanyahu perdeu a iniciativa quando se recusou a prolongar a moratória de novas construções na Cisjordânia. Suspenso o diálogo, os palestinos passaram a apostar num voto na Assembleia Geral das Nações Unidas que reconheça unilateralmente seu Estado.

Talvez o mais relevante, porém, seja o fato de o acordo ter ocorrido à margem de esforços dos EUA, que há meses tentam convencer Abbas e Netanyahu a retomar a negociação. O peso de Washington, aliado de Israel e financiador da ANP, continua grande.

Mas o pacto palestino confirma que o Oriente Médio entrou em rota bem menos previsível. Em cenário ideal, o acordo evoluirá para uma entidade palestina com força suficiente para moderar seus radicais e fazer a paz com Israel.”

FONTE: editorial da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2904201101.htm) [imagens do Google adicionadas por este blog].

Um comentário:

Laninha disse...

O governo israelense não devolverá as terras ocupadas aos palestinos por conta dos aquíferos e da reserva de xisto betuminoso em Hebron.

A esplanada das mesquitas já está murada e os árabes muçulmanos não podem ir até lá.

Jerusalém é a capital do cristianismo ortodoxo não por questão religiosa mas por questão demográfica.