quarta-feira, 5 de junho de 2013

GILMAR MENDES (STF) ERRA AO FAZER POLÍTICA PARTIDÁRIA ENQUANTO USA TOGA



Por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”

“No clima de feriadão, durante uma palestra, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou o governo Dilma. Disse que o governo sofre de "gigantismo" e "muita burocracia".

O governo, que tem 39 ministérios, sofre mesmo de gigantismo. Gigantismo inclusive na sua base de apoio parlamentar. E o Brasil é sim um reino da burocracia. É o país dos cartórios. O governo, os governos, são burocráticos.

Tudo isso é fato. Como é fato que, mais uma vez, o ministro Gilmar Mendes foi além dos seus tamancos. Mais uma vez, ele falou muito mais do que deve falar um ministro do Supremo.

Se esse tema chegasse ao Supremo, aí sim o ministro poderia falar. Nunca falar apenas para ouvir sua própria voz, ver sua imagem na mídia. Jamais falar apenas pelo prazer de chegar às manchetes. Em qualquer lugar civilizado do mundo, juízes só falam nos processos, nos autos.

E se a presidente Dilma Rousseff decidir-se por responder? E se a ela disser: "Ministro Gilmar, o tamanho do governo não é da sua conta". Ou: "Ministro Gilmar, preocupe-se com a quantidade de erros que o senhor cometeu e comete".

Se ela fizer isso, teremos manchetes sobre "crise entre o Executivo e o Judiciário". Aliás, é importante notar que, desta vez, o assunto passou batido. Está sendo debatido nas redes sociais, mas quase nada se diz na mídia sempre atenta às tais "crises".

O ministro Gilmar Mendes erra ao trocar a toga pelo comentário político. Direito de falar ele tem, como temos todos. Mas manda o bom senso que juiz não deve dizer como deve ser o governo, e governo não ensina como deve agir um juiz.

Alguém precisa lembrar ao ministro Gilmar Mendes que ele erra, e erra muito. À parte decisões técnicas -essas exigem saber específico para debater- ele erra quase sempre por falar demais. Como errou ao levar à demissão o então diretor da ABIN, Paulo Lacerda.

Errou ao atribuir à ABIN e a Lacerda grampos que eles não haviam feito [e nunca existiram]. Errou ao nunca desculpar-se por aquele gravíssimo erro. Erro que lhe rendeu manchetes como se fosse um acerto. Erro que levou a uma patética CPI, a "dos grampos".

Gilmar Mendes errou ao ter Demóstenes Torres [DEM] como parceiro naquela desastrada aventura. Como errou, e isso é grave para um juiz, ao não saber avaliar, ou avaliar mal, a vida e obra do então senador Demóstenes, que depois seria cassado.

O ministro errou muitas vezes ao prejulgar, ao tornar públicas suas opiniões antes de réus e casos serem julgados. Gilmar Mendes erra ao deixar claro, mais uma vez, que teve e tem lado no jogo político–partidário.

É direito, quase até dever de cada cidadão ter lado na política. Mas é um erro um ministro do Supremo Tribunal Federal, seja quem for, subir no palanque enquanto ainda usa a toga.”

FONTE: escrito por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”   
 (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2013/06/04/gilmar-mendes-erra-ao-fazer-politica-enquanto-usa-toga/) [Pequenos trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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