O escritor e jornalista Miguel do Rosário escreveu ontem em seu blog “Óleo do Diabo” um muito bom texto do qual extraí o seguinte trecho:
"O Eduardo Guimarães [Blog Cidadania] está visitando o Equador e tem escrito inteligentes análises sobre a América Latina. Ele acusa a falta de integração política e cultural do continente.
Concordo. Mas senti um pessimismo em seu texto que não se coaduna com a realidade. A integração está acontecendo, a num ritmo bastante promissor. O Lula tem priorizado as relações intra-americanas de uma forma como nenhum outro governante o fez. Nem Vargas nem JK. E os resultados já estão aparecendo. O comércio entre os países latino-americanos cresceu exponencialmente e o Mercosul já é o maior parceiro comercial do Brasil, emparelhando com EUA e Europa.
Isso era impensável até pouco tempo. Em muitos setores, a Argentina é um parceiro mais importante que os EUA. Quem imaginaria isso nos anos 60 seria taxado de lunático.
E comércio é importante sim, porque é através dele que se estruturam as relações políticas e culturais. Tanto é verdade que o Eduardo Guimarães está no Equador, escrevendo excelentes análises, por conta de seu trabalho como vendedor de autopeças.
Nos últimos anos, aconteceram diversas reuniões históricas dos mandatários dos países sul-americanos. O governo brasileiro tem defendido uma aliança mais estreita entre os países e a proposta vem sendo recebida muito positivamente. Lula chegou a citar a possibilidade de uma moeda única no continente. Já foi criado um banco regional de desenvolvimento e a discussão em torno da aliança militar tem avançado rapidamente.
Como era de se esperar, porém, a mídia brasileira tem combatido encarniçadamente esses movimentos. É difícil compreender os motivos que levam donos de jornais a se posicionarem contra uma união que pode trazer dividendos a todos, inclusive a eles mesmos. A explicação, no entanto, é simples: poder. As mídias latino-americanas foram desapeadas do poder político e querem voltar.
Na América Latina, a relação entre os políticos tradicionais e os proprietários de meios de comunicação de massa sempre foi intensa. Com a derrota dos candidatos apoiados pela mídia, esta ficou de fora das reuniões palacianas e perdeu a segurança que possuía de que seus eventuais deslizes não seriam investigados pelo governo. Por isso vem apelando para a histeria e para o golpismo.
Fico impressionado, por exemplo, com o caso do presidente Alvaro Uribe. Aí se vê claramente como as mídias corporativas são hipócritas e daninhas. Em qualquer outro país latino-americano, um presidente que se visse envolvido, por todos os lados, numa relação com os para-militares e narcotraficantes, seria deposto ou, no mínimo, enfrentaria uma severa crise política. Uribe não. Ele é o Aécio Neves colombiano. Totalmente blindado. Inclusive aqui no Brasil. Falou-se tanto do tal computador que teria "provas" de relação de Chávez com as Farc e depois descobrimos que elas consistiam numa anotação descontextualizada: Chávez - 300, que os gênios da mídia sul-americana logo interpretaram como 300 milhões de dólares.
A mesma coisa com o Brasil. As relações de membros das Farc com petistas foram exploradas à larga pela famigerada Veja, mesmo sem haver nada de especialmente comprometedor. E Uribe, cujas ligações com para-militares e narcotraficantes são comprovadas (seu irmão foi preso, ministros caíram, o Supremo Tribunal aceitou denúncia), ainda é tratado como um menino bonzinho. As matérias do nosso famoso PIG não citam Uribe sem lembrarem, enfaticamente, que ele é um presidente muito "popular" na Colômbia. Mesmo que a matéria não tenha nada a ver com popularidade.”
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