George W. Bush volta e meia critica a pobreza em Cuba e o sofrimento dos cubanos. Ele “sabe das coisas”. Fala de cátedra. Ele conhece as torturas que ocorrem naquela ilha. Vejamos a reportagem de Andrea Aguilar, em Nova York, para o jornal espanhol El País:
ATRAÇÃO EM FEIRA NOS EUA SIMULA TORTURAS DE GUANTÁNAMO
"A polêmica nos EUA devido a uma atração em uma feira em Coney Island, Nova York, que imita as torturas infligidas na base militar americana em Cuba.
“Quarenta minutos de metrô separam Manhattan (o centro de Nova York) do histórico parque de atrações de Coney Island. Neste verão, além dos cachorros-quentes ou uma das montanhas-russas de madeira mais antigas do país, por US$ 1 os visitantes poderão ver durante 15 segundos uma simulação das torturas de Guantánamo. Grandes letras azuis anunciam no exterior a polêmica atuação projetada pelo artista Steve Powers. Uma escada permite que o espectador entre em uma cela. Através de uma grade se vê um robô vestido com um dos macacões laranja dos prisioneiros da base americana. Ele está inclinado e amarrado a uma tábua. O outro, com um capuz preto, segura uma jarra de metal com água. Quando o dinheiro entra na ranhura, a água cai sobre o rosto do preso que se agita e geme. O artista arrecadou US$ 140 no primeiro dia.
É a nova atração de uma feira pela qual passaram a menor mulher do mundo, famosos forçudos e "freaks" [horrores] de todo tipo. Em 1911, Samuel H. Gumpertz compreendeu como era lucrativo o negócio de mostrar raridades e deformações. Coney Island se transformou em um hit da cultura popular americana que não deixou de inspirar artistas e escritores.
O Grande Gatsby, do escritor Scott Fitzgerald, convida Nick a visitar a feira depois de seu encontro com a bela e caprichosa Baker. Woody Allen, em seu papel de namorado de Annie Hall, lembra sua infância sob a histórica montanha-russa e a fotógrafa Diane Arbus durante anos documentou a estranha fauna que habitava as cabines. Quase um século depois de Gumpertz implementar seu negócio de raridades, Coney Island resiste a duras penas diante da ânsia especulativa dos promotores imobiliários.
Junto ao Guantánamo de Powers, a Mulher Vulcão, coberta de tatuagens, explica que é capaz de tomar uma xícara de gasolina como se fosse chá. Nem ela nem sua companheira que toda tarde engole espadas se aproximaram ainda da atração vizinha. A nova cela faz parte do projeto Democracia para a América, uma iniciativa da organização Creative Arts. Mesas-redondas, representações de discursos históricos da nova esquerda e uma apresentação em que cerca de 40 bissexuais lêem uma carta de amor aos candidatos à presidência são algumas das atividades realizadas por esse grupo.
"A arte tem uma longa tradição no campo da polêmica, como elemento gerador de debate", explica Nato Thompson, curador do projeto. A organização para a qual trabalha começou nos anos 1970, década dourada da arte política e do protesto. Entre as ruidosas bancas de tiro e os carros de trombada, a nova montagem de Guantánamo não passa despercebida. John, ativista americano pró-direitos humanos da ONG O Mundo Não Pode Esperar, distribui informação sobre sua organização aos que se aproximam. "A tortura é um crime contra a humanidade. Um governo que tortura é criminoso. Pinochet no Chile ou Ríos na Guatemala negavam as torturas. O governo Bush as reconhece." Na parede da cela de Powers um letreiro vermelho tranqüiliza o espectador: "Calma, é só um sonho". Ou um pesadelo?
Franklin Soults, jornalista musical que visita pela primeira vez o parque, capta a ironia. "O artista quer demonstrar que isso é tortura mesmo que o governo o negue, e o faz de uma maneira um tanto simples", diz, "porque as pessoas não prestam atenção nisto, o que mais as preocupa é o preço da gasolina e o desemprego."
As técnicas de asfixia simulada representadas em Coney Island e condenadas pela Convenção de Genebra foram defendidas pelo governo Bush. Nos julgamentos que se realizam atualmente em Guantánamo, a comissão militar admite como provas os depoimentos dos presos obtidos com essas técnicas nos interrogatórios. No carnaval decadente de Coney Island não falta quem considere que a nova atração deveria ser mais realista. Steve, um estudante de administração de 22 anos, gostaria de ver atores de verdade. "Se o negócio é surpreender e dar medo, seria mais eficaz se mostrasse exatamente como ocorre", afirma.
Powers, um grupo de advogados pró-direitos humanos e Mike Hirtz, interrogador profissional contrário ao emprego desse tipo de técnica, fizeram uma representação real do show em 15 de agosto diante de 40 pessoas.
O radicalismo da ação e o discurso de protesto foram adaptados aos requisitos do sistema de saúde. "Não os amarraram por problemas com o seguro médico", explica Thompson. Sem passar para a crua realidade, os bonecos de plástico também podem assustar e perturbar. É o que pensa Jenny, uma adolescente nova-iorquina, depois de ver a atração. "Isto é sério demais para Coney Island. Sei que é um show de 'freaks', mas é um pouco perturbador."
Junto aos desenhos da fachada Powers colocou um manual de instruções em inglês, árabe e francês, ilustrado com desenhos, para explicar a técnica de asfixia simulada em seis passos. O primeiro é encher uma jarra com água. Depois cobrir o rosto e amarrar a vítima, colocar um pano molhado sobre o capuz e derramar água. Interrogar e repetir quantas vezes for necessário. E se isso não os convencer subam à roda.”
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