terça-feira, 26 de agosto de 2008

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS: BRASIL MAIS QUE RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

O Brasil registra a maior taxa de crescimento de investimento direto estrangeiro de 2006 para 2007, revela Unctad.

Reportagem de Patrícia Cançado, do jornal “O Estado de São Paulo” de ontem, trouxe mais essa boa notícia para a economia brasileira.

BRASIL É O "QUERIDINHO" ENTRE AS PRINCIPAIS ECONOMIAS EMERGENTES

“A mineradora sul-africana Anglo American viveu dois milagres econômicos no Brasil. Mas foram necessários 24 anos para apostar de fato suas fichas no País, onde fincou sua base em 1973. Até o ano passado, a operação brasileira da Anglo era a lanterninha entre as dez subsidiárias. A entrada em minério de ferro, com a compra da MMX do empresário Eike Batista, colocou a filial em outro patamar.

Hoje aparece entre os três maiores destinos de investimentos do grupo, ao lado do Chile e da África do Sul. Só essa área vai receber US$ 10 bilhões até 2010, sendo 55% apenas neste ano, um recorde na história da multinacional e talvez o maior desembolso feito por estrangeiros neste ano de uma só vez. "O Brasil entrou no radar da Anglo. A companhia decidiu apostar alto porque quer participar desse crescimento", diz o presidente da Anglo Ferrous Brazil, Alexandre Gomes.

O "radar" da Anglo dá a medida da importância que o Brasil ganhou no cenário internacional. Entre 2006 e 2007, o País teve o maior crescimento de investimentos diretos estrangeiros entre as economias emergentes, à frente de China, Índia e Rússia, segundo a Unctad, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. O volume dobrou - saiu de US$ 18,8 bilhões para US$ 37,4 bilhões. Até julho deste ano, encostou em US$ 20 bilhões, o que leva a acreditar que o País deve atingir neste ano o mesmo patamar de 2007, contrariando a tendência mundial, que aponta queda de 37% no fluxo de investimentos.

Quando a expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) foi cunhada pelo banco Goldman Sachs, há sete anos, economistas do mundo inteiro questionaram a presença do Brasil. Até 2006, ainda não havia consenso se o País poderia ou não fazer parte do bloco que dominaria a economia em 40 anos. O banco revisou suas análises e o manteve na lista.

Ainda assim, para muitas multinacionais e fundos de participação estrangeiros, o Brasil só foi redescoberto mais recentemente. "O País está passando por novas fases de crescimento, diferente dos vôos de galinha de antes. Os investidores agora conseguem enxergar a longo prazo", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima.

O avanço em alguns aspectos macroeconômicos é indiscutível. Com a inflação sob controle, os juros em queda, a melhora na renda e a maior oferta de crédito, o consumo disparou, fazendo a festa das montadoras, das construtoras, das empresas de alimentos, dos bancos, das fabricantes de eletroeletrônicos e do varejo de forma geral.

O Brasil ainda perde em termos de tamanho e custo de mão-de-obra, mas os estrangeiros estão sendo atraídos principalmente pelo crescimento do mercado local. Nesse quesito, o País já ganha da China, iguala-se à Índia e só perde para a Rússia, segundo levantamento da Unctad e elaborado pela Sobeet.

O acesso a recursos naturais e a mão-de-obra eficiente faz o Brasil ter preferência dentro dos Brics. Daí o espantoso interesse da Anglo American, da ArcelorMittal, que na semana passada pagou US$ 830 milhões por uma única mina de ferro em Minas Gerais, e das petrolíferas. Isso, sem falar no etanol, que fez uma legião de gringos construírem ou apenas visitarem usinas por aqui.

O Wal-Mart, no País desde 1995, não teria reservado um investimento de R$ 1,8 bilhão para o próximo ano se não confiasse num bom cenário. Neste ano, a classe média tornou-se maioria (51%). Desde 2004, a rede americana já aplicou R$ 3 bilhões na operação brasileira, sendo R$ 1,2 bilhão neste ano. Hoje a filial é referência para outros emergentes.

O último presidente, Vicente Trius, assumiu no ano passado a operação da cadeia de supermercados na Ásia. A expectativa em Bettonville, sede do Wal-Mart, é que ele repita do outro lado do mundo a experiência tida aqui. O Carrefour chegou a cogitar sair do Brasil por dificuldades em competir com o alto grau de informalidade no setor. Em 2007, deu o recado contrário ao pagar R$ 2,2 bilhões (à vista) pelo Atacadão.

DESTAQUES:

US$ 37,4 bilhões foi quanto o Brasil recebeu de investimento direto estrangeiro em 2007;

US$ 18,8 bilhões foi quanto o Brasil captou de investimento direto estrangeiro em 2006;

99,3% foi a taxa de crescimento no período."

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