Li esse interessante artigo sobre a política externa dos EUA em relação à América Latina no site www.militar.com.br. O autor é Coronel-Aviador, conferencista especial da Escola Superior de Guerra, membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER).
Transcrevo:
“Devido à contumaz falta de sensibilidade por parte do Governo norte-americano, com relação à América Latina, como resultado de sua malfadada política externa, execrável hegemonia e total indiferença, os estadunidenses têm sistematicamente perdido a admiração e a natural liderança que detiveram na região durante muitas décadas.
Analisando as causas que conduziram a esta lamentável situação, encontramos, em primeiro lugar, os ditames impostos pelo Consenso de Washington. A seguir, a atitude draconiana que marcou a administração Bush em seu desprezível trato com a região, despertando, conseqüentemente, uma lembrança histórica calcada em grandes ressentimentos. Em terceiro lugar, devido à ausência de uma política comercial benfazeja e construtiva para a América Latina.
Desde o final dos anos oitenta e no transcorrer dos anos noventa do século passado, a América Latina se converteu em espaço de aplicação privilegiada do Consenso de Washington. Este, entretanto, veio a se transformar no símbolo mais visível da ideologia neoliberal. Dentro de seu decálogo de normas encontravam-se algumas como a austeridade fiscal, a reforma impositiva, a liberalização comercial, a privatização ou a desregulação. Em condições de laboratório quase perfeitas e sob a constante supervisão do Fundo Monetário Internacional, a América Latina sofreu todos os excessos da rigidez ideológica. O resultado foi claro: profundas recessões, níveis de desemprego elevados e dramáticas reduções nos serviços sociais.
Os insensíveis falcões do Governo Bush, e, em particular, aqueles que haviam estado a cargo da “guerra de baixa intensidade” na América Central, nos anos oitenta, vieram colocar mais lenha no fogo dos ressentimentos e recalques acumulados. A lista de sua arrogância é larga. Quando o México exitou em apoiar a invasão norte-americana no Iraque, Bush ameaçou com a “disciplina”, enquanto um alto diplomata americano assinalou que os mexicanos que viviam em seu país poderiam ser objeto de sérias retaliações. Algo parecido, e por iguais razões, ocorreu com o Chile. Quando os membros do bloco econômico CARICOM manifestaram suas objeções com respeito à invasão do país mesopotâmico, Otto Reich, então subsecretário de Estado para a América Latina, advertiu: “Aconselharia ao CARICOM que pensasse seriamente não somente no que disse mas também nas conseqüências que poderão advir desse infeliz pronunciamento”.
Quando o Brasil começou a tornar público, por intermédio do Itamaraty, seu rechaço à criação da Área de Livre Comércio das Américas - ALCA, Robert Zoellick, representante comercial dos Estados Unidos, declarou, ironicamente, “que o país deveria estar preparado para vender os seus produtos à Antártica” e, quando os países ibero-americanos assinaram o tratado constitutivo da Corte Penal Internacional, o presidente Bush ameaçou em cortar milhões de dólares em ajuda econômica, torcendo o braço daqueles que firmaram acordos bilaterais, excetuando os cidadãos estadunidenses da jurisdição dessa Corte. E assim sucessivamente. O caso extremo foi o fracassado e infeliz intento de perpetrar um golpe de Estado na Venezuela, em abril de 2002, interferindo descaradamente em assuntos internos daquele país.
Os excessos cometidos vieram acompanhados de muita indiferença em matéria comercial. As políticas norte-americanas apontam para a exclusão da América Latina em matéria de oportunidades. Como corolário, esse tipo de nefasto procedimento vem acarretando imensas frustrações nos países pertencentes ao espaço geopolítico latino-americano.
O caso da Colômbia é emblemático, pois apesar de sua reconhecida submissão aos draconianos ditames de Washington, teve rejeitada sua proposta de ingresso na ALCA, sem maiores explicações.”
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