O jornal norte-americano "The New York Times" de ontem, em artigo de Maureen Dowd, em Washington, postado pelo UOL com tradução de George El Khouri Andolfato, trouxe-nos um interessante retrato de Bush e uma análise do decadente papel dos EUA no mundo:
APÓS 8 ANOS, GEORGE W. BUSH AINDA IGNORA A REALIDADE
Os Estados Unidos estão de volta à Guerra Fria e “W.” (George W. Bush) está de novo de férias. Isso é que é simetria terrível.
Após oito anos, a intuição do presidente continua ingênua. Ele partirá como chegou -ignorando a realidade; fracassando em prever, prevenir e até mesmo se preparar para desastres; interpretando mal os relatórios de inteligência e as pessoas; lidando com as crises de formas que as tornam exponencialmente piores.
Ele passou 469 dias de sua presidência descansando em seu rancho e 450 dias brincando em Camp David. E ainda há tempo para praticar "mountain bike" em meio a outro desastre histórico.
Enquanto as tropas russas continuavam dominando partes da Geórgia na sexta-feira, o presidente Bush pregava aos líderes russos de que "ameaça e intimidação não são formas aceitáveis de conduzir política externa no século 21" - e então voou para Crawford.
Quem dera W. tivesse tratado o restante de sua presidência tão seriamente quanto seus passeios esportivos.
Suas palavras teriam mais peso se ele, Cheney e Rummy não tivessem iniciado o século 21 com uma exibição pesada de ameaça e intimidação global baseada na invasão do Iraque.
Quando o entrevistei no início de sua candidatura presidencial em 1999, ele fez um palpite óbvio: "Eu acredito que as grandes questões serão a China e a Rússia".
Mas após o 11 de Setembro, ele deixou Cheney, Rummy e os neoconservadores o seduzirem na obsessão destrutiva pelo Iraque. Enquanto os Estados Unidos permanecem atolados e sangrando até a morte, a China e a Rússia estão engordando.
A China comprou tanto dos Estados Unidos que ficaríamos tão mortos quanto os patos laqueados de Pequim (um tradicional prato chinês) se eles retirassem seus investimentos de nosso mercado. A Rússia deixou de ser uma nação pobre para se tornar uma terra repleta de milionários -tudo graças ao nosso vício em petróleo.
O que foi mais irritante em assistir o alegre passeio de W. nos Jogos Olímpicos foi que ressaltou a ascensão da China a superpotência e, graças às políticas econômica e externa negligentes do governo, a queda dos Estados Unidos. É como se a China tivesse se tornado nós e nós tivéssemos nos tornado a Europa. Como a Rússia, a China também tem demonstrado modos autoritários e ignorado as pregações americanas, incluindo as críticas contidas de W. quando voou para Pequim para apreciar o espetáculo da ascensão da China.
Apesar de sua previsão de 1999 de que a Rússia e a China seriam chave para a segurança mundial, W. nunca se deu ao trabalho de estudá-las. Em 2006, no encontro de cúpula do G8 em São Petersburgo, Rússia, um microfone captou alguns comentários vazios de W. para o presidente chinês, Hu Jintao.
"Este é o seu bairro", disse W. "Não demora muito para você chegar em casa. Quanto tempo leva para você chegar em casa? Oito horas? Eu também. A Rússia é um país grande o seu país é grande."
O presidente Bush e sua "especialista" em Rússia, Condi, lidaram de forma equivocada com a Rússia desde o início. W. viu uma alma "confiável" em um agente da KGB de olhos de navalha que nunca foi um bom sujeito nem mesmo por uma hora. Agora, o pessoal de Bush, que não pode fazer nada a respeito, está gritando sobre como a agressão russa "não pode ficar sem resposta", como colocou Cheney.
(O outro especialista em Rússia de W., Bob Gates, foi, como sempre, a única voz de realismo, notando: "Eu não vejo nenhuma perspectiva de uso de força militar pelos Estados Unidos nesta situação".)
O governo Bush pode ter uma ligação sentimental com a Geórgia por ela ter enviado 2 mil soldados ao Iraque como parte da "Coalizão dos Dispostos", e porque papai Bush e James Baker tinham laços estreitos com o primeiro presidente da Geórgia, Eduard Shevardnadze.
Mas com a força militar e moral de seu país tão esgotada, os Bushies mal têm como dizer à Rússia para parar de fazer o que eles mesmos fizeram no Iraque: invadir unilateralmente um país contra a vontade do mundo para assustar alguns dos líderes da região dos quais não gostam.
W. e Condi estão repentinamente percebendo quão malicioso Vladimir (Putin) é. Em uma coletiva de imprensa com Condi na sexta-feira, Mikheil Saakashvili, o presidente da Geórgia, reclamou do Ocidente por permitir que a Rússia retomasse suas táticas repressivas.
"Infelizmente, hoje nós estamos olhando o mal diretamente nos olhos", ele disse. "E hoje este mal é muito forte, muito maligno e muito perigoso para todos, não apenas para nós."
Como Michael Specter, o jornalista da "New Yorker" que já escreveu extensamente sobre a Rússia, observou: "Houve um breve período de cinco anos em que pudemos nos safar tratando a Rússia como a Jamaica - isto acabou. Agora temos que lidar com ela como adultos que possuem mais armas nucleares do que qualquer um, exceto nós".
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