quarta-feira, 30 de novembro de 2011

BRASIL CRESCE! O Superporto do Açu (RJ) e a EIKELÂNDIA, de EIKE BATISTA


No litoral fluminense, bilionário constrói porto e quer atrair empresas de aço, cimento, carro, produtos Apple, além da cidade "X".

André Vieira, do portal IG; enviado especial a São João da Barra (RJ)

“A ponte mede quase três quilômetros de comprimento. Nasce em solo arenoso e avança sobre o mar adentro. Está montada sobre 662 estacas fincadas no fundo da água que, se enfileiradas, cobririam a distância de 38 quilômetros. Sua estrutura tem a largura de 27,5 metros, que permitirá não só a passagem de gigantesca correia de transporte de minério de ferro, como também a circulação de caminhões pesados.


Superporto do Açu: Metade da mão de obra contratada para as obras vem da região; Quando os projetos estiverem prontos, promessa é gerar 50 mil postos de trabalho (Foto: Fabrizia Granatieri)

Na ponta da ponte, em alto-mar, a temperatura supera os 30 graus. O forte vento reduz a sensação térmica, mas deixa o mar agitado. As primeiras pedras lançadas para a construção do quebra-mar já começam a aparecer na superfície e vão proteger os navios que chegarão no futuro porto que está sendo construído. Ao todo, serão lançados 1,8 milhão de metros cúbicos de blocos de pedras no mar, o equivalente ao morro do Pão de Açúcar.

Quando estiver pronto, o porto acomodará dez berços de atracação. O calado natural de 15 a 18 metros já seria suficiente para navios Panamax, nas medidas que cruzam o canal do Panamá. Mas as obras de dragagem vão aumentar a profundidade para 25 metros, o que inclui a nova geração de meganavios Chinamax, com capacidade de carga de mais de 350 mil toneladas de minério, que hoje chegam apenas a poucos portos existentes no mundo.

A obra ‘Superporto do Açu’ começou no fim de 2007. Até sua conclusão, prevista para 2012, receberá investimentos de R$ 4,5 bilhões. Mas o porto e a estrutura para o transporte do minério serão uma migalha se comparados a todos os projetos sonhados pelo empresário para a região.

Eike Batista

Se o plano idealizado por Eike Batista se materializar, os investimentos - um complexo industrial integrado às atividades portuárias além de um megaempreendimento residencial para acomodar dezenas de milhares de pessoas - vão transformar São João da Barra, município com 32 mil habitantes do litoral norte fluminense, numa verdadeira “Eikelândia”.


O Superporto do Açu é o cartão-postal mais vistoso dos empreendimentos do oitavo homem mais rico do mundo, segundo ranking da revista “Forbes” divulgado em março de 2010. Quase todas as empresas do grupo EBX, o conglomerado empresarial criado pelo multibilionário, composto por uma sopa de siglas todas com a letra “xis”, têm planos de investimentos no complexo, que fica a pouco mais do que três horas de carro da cidade do Rio de Janeiro.

A empresa de logística LLX responde pelas atividades portuárias; a de energia MPX planeja construir duas usinas térmicas, uma movida a carvão importado (2.100 MW) e outra a gás (3.330 MW), similar à oferta de energia firme de Itaipu; a empresa de construção naval OSX prevê instalar seu estaleiro. A OGX é outra potencial candidata a ter uma base local: a empresa de petróleo e gás tem direitos na exploração de blocos na bacia de Campos, a menos de 300 quilômetros da costa.

O grupo empresarial de Eike Batista já teve mais coisa na área do complexo do Superporto do Açu, mas vendeu. A MMX, empresa de mineração de Eike, tinha montado um sistema que incluía a exploração de uma mina em Minas Gerais, o mineroduto de 500 quilômetros para o carregamento da matéria-prima até Açu, onde será beneficiado e transportado pelo porto ao exterior. Mas juntamente com outro projeto no Amapá, Eike Batista vendeu o negócio por US$ 5,5 bilhões para a ‘Anglo American’, uma das maiores do setor no mundo. A mineradora ‘Anglo’ continua com as obras no complexo, e o prazo de conclusão é o mesmo ano quando houver a finalização do porto.

Além dos negócios próprios, o plano para a Eikelândia contempla a instalação de outros grandes empreendimentos. Numa área de 90 quilômetros quadrados, equivalente a cidade de Vitória (ES), o bilionário brasileiro pretende atrair duas siderúrgicas – uma já assinou contrato com os chineses da ‘Wisco’, uma das três principais produtoras de aço do país asiático.

A outra foi fechada com os ítalo-argentinos da ‘Ternium-Techint’, um dos maiores fabricantes de aço da América Latina. Cada uma das siderúrgicas terá fábricas de cimento como vizinha - a Votorantim e a Camargo Corrêa, as duas maiores empresas brasileiras do setor, já assinaram acordos de intenção de investimento com as empresas de Eike.

O empresário já indicou seu interesse em atrair uma montadora de carros. Toyota? Suzuki? Essas são as marcas especuladas pelos moradores da região. Carro chinês? Carro elétrico? O Nano? O nome não é revelado pelo empresário em suas entrevistas ou mensagens pelo ‘Twitter’. Pouco se sabe sobre boa parte dos 60 memorandos de entendimentos assinados pelas empresas de Eike, que não abre as informações alegando questões de confidencialidade.

Para completar o conjunto de projetos, indignado pelo fato de o consumidor brasileiro pagar mais do que o dobro para ter acesso a um iPad, o bilionário empresário disse que gostaria de atrair uma fabricante de produtos da Apple para sua “Eikelândia”. O investimento total é estimado em US$ 36 bilhões.

EQUIPAMENTOS PESADOS

Guindastes gigantescos, caminhões pesados novíssimos, estradas de acesso recém-asfaltadas. Aos poucos, a paisagem está sendo drasticamente redefinida pelas novas construções. Os canteiros de obras ocupam espaço em fazendas dedicadas antes à pastagem.

Moradores do município contemplam a obra como se estivessem em um grandioso parque de diversões, vendo a Disneylândia pela primeira vez. A LLX, a empresa responsável pelo porto, mantém um programa de recepção local e registra mais de 2 mil visitas anuais, o que dá quase 10% da população.

A entrada é monitadora por segurança privada. Depois de percorrer uma estrada de terra, cercada por vegetação rasteira, passa-se um heliponto até chegar à recepção, construção ao melhor estilo das mansões de praia: ampla, com pé direito alto e iluminação natural.

Um gramado que cerca a construção e é servido por sistema de irrigação torna o ambiente um oásis no meio do solo pouco fértil dessa região conhecida como Açu, que fica no 5º Distrito, no parte sul do município de São João da Barra. No ambiente com ar condicionado, que contrasta com o calor abafado do lado de fora, o painel exposto na parede impressiona pela quantidade de construções do complexo porto-indústria.

À frente dele, uma maquete, recentemente desatualizada pela decisão de erguer o estaleiro ali, que era disputado também por Santa Catarina. A construção tem, ainda, uma sala de cinema para pelo menos 50 pessoas, onde é projetado um filme os negócios do empresário, amplos banheiros, escritório e um pequeno alojamento. As pessoas que trabalham ali são simpáticas e atenciosas e exigem o cuidado com as normas de segurança numa obra dessa magnitude.

Um vídeo com a imagem aérea da ponte dá a dimensão exata da grandiosidade. A ponte de três quilômetros do porto já atraiu a atenção de jornalistas do mundo inteiro. A rede de TV CNN sobrevoou a estrutura do porto de helicóptero. O jornal “Washington Post” esteve aqui chamando a atenção de que o empreendimento está saindo do chão por conta do interesse chinês em obter recursos naturais – minério de ferro é o principal deles.



[Vídeo acima também em:  http://www.youtube.com/watch?v=xgp5FxARnWI ]

Na maioria das apresentações realizadas para investidores, a ponte é mostrada como o caminho para o desenvolvimento de uma região, que deve gerar 50 mil empregos diretos quando tudo estiver pronto, segundo números divulgados pela empresa.

No estágio atual da obra, trabalham cerca de 2,5 mil pessoas, das quais mais da metade da região, principalmente nas funções mais básicas. Engenheiros e técnicos mais especializados foram “importados” e ocupam boa parte das pousadas da região.

As projeções divulgadas pela prefeitura indicam que a população de São João da Barra irá crescer dos atuais 32 mil para cerca de 250 mil pessoas em um prazo de até 15 anos. A prefeitura lançou um plano de obras de infraestrutura, com investimentos de R$ 80 milhões para os próximos anos, que inclui redes de água e esgoto.

Seis postos de saúde, cinco creches, duas novas escolas foram construídos. Abriram-se vagas para o ensino técnico voltado, por exemplo, para operadores logísticos e metal-mecânico. Além disso, 180 alunos estão tendo aulas de mandarim para comunicar-se com os chineses que vão trabalhar numa das duas siderúrgicas esperadas no complexo industrial.

NÃO À SUB-HABITAÇÕES

Para atender a demanda, a prefeitura calcula a construção de 84 mil novas unidades habitacionais. “Estamos nos preparando para atender esse forte crescimento e desenvolver o pessoal que aqui está”, diz a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PMDB). Mas ela adverte que não quer que o município acomode bolsões de pobreza, com o surgimento de favelas. “Quem vier para cá e se estabelecer em barracos será retirado”, afirma.

Para acomodar o crescimento populacional, o grupo EBX decidiu criar, do zero, a “cidade X”, uma área anexa ao complexo porto-indústria. O empreendimento tem meta de atender 250 mil pessoas, embora a prefeitura avalie que não será para mais do que 150 mil habitantes. Será desenvolvido pela REX, a empresa imobiliária da Eike.

Para tanto, o empresário convidou o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, para criar uma cidade modelo. “A ideia é garantir habitação com infraestrutura, de modo que o crescimento urbano seja planejado e ecologicamente sustentado”, explica a empresa. Uma das propostas em estudo é o uso de bicicletas e de carros elétricos. “Não queremos também que a cidade X seja um condomínio fechado”, diz a prefeita. “Não é possível ter um município fragmentado.”

BEBIDA MILAGROSA

Por anos, São João da Barra viveu de atividades pesqueira, pecuária e agrícola, como a cana de açúcar - até a falência das usinas existentes na vizinha Campos de Goytacazes. Tornou-se, durante os anos 1970 e 1980, nacionalmente conhecida por causa da propaganda de um conhaque de alcatrão, fabricado pelo grupo Thoquino, conhecido como “o conhaque do milagre”, capaz de curar os males dos enfermos por artrite.

Era a maior empresa de destilados do Brasil, até a entrada das companhias estrangeiras”, diz Victor Aquino, secretário de Planejamento de São João da Barra e um dos mais de 100 herdeiros do grupo de bebidas. “Fazia muito sucesso. Chegou ao “Guiness Book”, o Livro dos Recordes, como o conhaque mais vendido no mundo em número de doses”, orgulha-se Aquino, que, em seguida, faz a ressalva: “conhaque bom mesmo é vendido em garrafa”.

Atualmente, o município vive da atividade de turismo, com a vinda de hordas de mineiros para as praias de Atafona e Grussaí - curiosamente, o maior hotel do município, com 600 quartos, é o SESC, de Minas Gerais, cuja cidade mais próxima fica a cerca de 200 quilômetros.

Mas o que mais gera receita e mantém a cidade é a receita oriunda dos royalties do petróleo retirado do campo de Roncador, um dos maiores da Petrobras, na bacia de Campos. As transferências de recursos garantem cerca de R$ 200 milhões do orçamento anual de R$ 250 milhões a ser realizado em 2010.

ARRECADAÇÃO EM CRESCIMENTO

A prefeitura já nota aumento na arrecadação com o ISS, o imposto sobre serviços, por conta das transformações geradas pelo Porto de Açu. Em 2007, a receita com ISS foi de R$ 1,6 milhão, valor que chegou a R$ 8 milhões no ano passado. “Apenas o estaleiro do Eike vai gerar mais R$ 35 milhões em recursos próprios ao município”, diz Aquino, confiante de que o empreendimento dará à cidade de São João da Barra independência financeira. A prefeitura já prepara atualização do mapa de georeferenciamento para fixar novas cobranças de IPTU e ISS.

Victor Aquino, secretário de Planejamento de São João da Barra: "novo" Eldorado Foto: Fabrizia Granatieri Ampliar

Aquino diz que São João da Barra vive uma fase de “novo Eldorado” brasileiro. Ele nasceu em Campos, nunca trabalhou na fábrica da família e mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro há três décadas para estudar e trabalhar como arquiteto.

Conheceu Eike Batista quando o empresário fez um investimento na área de saúde e convidou o arquiteto para fazer um projeto de consultórios hospitalares. Há três anos, fascinado com o Superporto do Açu, Aquino decidiu voltar à região de São João da Barra e ajudar a implantar o empreendimento de Eike.

Sou uma espécie de Severino, ajudando a destravar tudo”, brinca. “Aqui as oportunidades existem. Quem for bom profissional se dará bem”, diz. Quando sair da prefeitura, ele mesmo espera colher essas oportunidades com seu negócio na área de arquitetura “Espero ganhar muito dinheiro no futuro, obviamente não serei um bilionário como o Eike”, diz.

O primeiro shopping da cidade começa a sair da maquete. A SuperBom, uma rede de supermercados de Campos, acena com a abertura de uma filial na cidade vizinha. A cidade tem duas agências bancárias, uma do Banco do Brasil e outra do Itaú. A Caixa Econômica Federal deve abrir uma filial, assim como se espera o mesmo do Bradesco e Santander.

Determinadas cidades nascem da junção de pessoas com empresas que buscam explorar seus recursos naturais. A mineira Ipatinga era uma cidade de 3 mil pessoas que cresceu à sombra da siderúrgica Usiminas. A cidade fluminense de Volta Redonda nasceu com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). As duas cidades são consideradas exemplos do desenvolvimento industrial brasileiro.

Mas há casos de tremendo fiasco. Henry Ford, o empresário que revolucionou a indústria automobilística, criou uma cidade do zero no meio da floresta Amazônica para extrair das seringueiras o látex utilizado na fabricação de pneus aos carros que vendia nos Estados Unidos. A “Fordlândia” durou pouco mais de 15 anos e virou cidade abandonada perto de Santarém, no Pará. Delírio ou não da mente dos empreendedores, o tempo vai dizer se Eike Batista concretizará os projetos empresariais, transformando São João da Barra na sua ‘Eikelândia’.”

FONTE: reportagem de André Vieira, do portal IG, enviado especial a São João da Barra (RJ)  (http://economia.ig.com.br/empresas/conheca+a+eikelandia+a+obra+mais+arrojada+de+eike+batista/n1237908968098.html) [imagens adicionadas por este blog ‘democracia&política’ obtidas nos endereços  (http://www.llx.com.br/publique/cgi/c...sid=162&lng=br) e  (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=795582) [Postagem oriunda de sugestão do leitor Iurikorolev].

6 comentários:

iurikorolev disse...

Muito bom artigo Maria Tereza.
Agradeço a atenção.
O projeto do Eike é fantástico.
Não é apenas um porto, inclui até uma montadora de veículos.
Parece com os grandes projetos de exportação da China.
Se Deus quiser ele será o Barão de Mauá do século XXI, sem os entraves e inimigos que o Barão teve.
Gostei muito também do artigo do Jim O'Neill.

Unknown disse...

Iurikorolev,
Eu que lhe agradeço a ótima sugestão. Um projeto desse porte e importância para o Brasil não poderia ficar sem uma postagem. Foi falta minha.
Obrigada pela sugestão e pelo incentivo.
Maria Tereza

Probus disse...

Eu ainda quero ver a Taxação DIFERENCIADA para Grandes Empresas, Grandes Fortunas e Grandes Propriedades...

E, VINCULAR OBRIGATORIAMENTE estes grandes PIRATAS a custear Obras Sociais, Ambientais e Culturais.

Um cabra como Eike batista tem que ser taxado em 80% do patrimônio!!

Unknown disse...

Probus,
Concordo que o imposto de renda no Brasil é injusto. Deveria cobrar maior percentual dos mais ricos. Seria mais justo assim: quanto mais rico, maior percentual. Não sei se deveria chegar a 80%. O objetivo não é esfixiar os ricos e desestimular a busca da riqueza, o que seria ruim para a economia e para todos.
Não tenho preconceito contra o Eike Batista. Ao contrário, em todas as entrevistas dele que assisti, fiquei com boa impressão. Pareceu-me simples, sem afetação, raciocínio claro, objetivo, persistente e, surpreendentemente, com forte sentimento nacional, patriótico.
Torço que essa impressão corresponda à verdade e que ele tenha sucesso nos seus empreendimentos no Brasil.
Maria Tereza

Probus disse...

Pois eu ainda acho que 80% de imposto para uma pessoa que tem US$ 10 bilhões de patrimônio ainda POUCO.

Eike Batista adquire concessão da Marina da Glória no RJ

O empresário Eike Batista acaba de adquirir a concessão de uso da Marina da Glória, um verdadeiro cartão postal da cidade do Rio de Janeiro que fica às margens da Baía de Guanabara e emoldurado pelo Pão de Açúcar. O porto tem capacidade para a atracação de lanchas de até 150 pés (cerca de 45 metros de comprimento). O grupo EBX, de propriedade do empresário Eike, não quis revelar o valor da compra da concessão, mas segundo especialistas da área imobiliária, o total entre a aquisição e os investimentos podem chegar a R$ 150 milhões.
A intenção de Eike Batista é modernizar a Marina e dotá-la de um conjunto de restaurantes, loja, casa de shows e infraestrutura de turismo e lazer. Este é o segundo investimento do empresário no bairro da Glória, tendo em vista que adquiriu o Hotel Glória e em outubro do ano passado começaram as obras de modernização que deverá consumir cerca de R$ 200 milhões em investimentos.

Probus disse...

19/12/2011: Imposto sobre fortunas, por que taxar

Nosso país melhorou bastante, mas ainda convivemos com grandes disparidades de renda, patrimônio, escolaridade, acesso a bens e serviços. Também desproporcional é a relação entre a capacidade econômica das pessoas e a tributação a que estão submetidas.

Segundo o Ipea, famílias com renda de até dois salários mínimos gastam 49% da renda com tributos; as com renda superior a 30 mínimos, com maior capacidade econômica e patrimônio muito superior, pagam quase metade, 26%.

Por Jandira Feghali*

Nesse sistema injusto, 16,3 milhões estão obrigados a apresentar e pagar Imposto de Renda. Analisando dados da Secretaria da Receita, percebe-se o tamanho da concentração patrimonial. Na base da pirâmide, mais de 97% dos declarantes possuem apenas 49% do patrimônio declarado. No topo, 0,1%, cerca de 18 mil pessoas, concentram 26% do patrimônio do conjunto das pessoas físicas.

Na tentativa de contribuir para um sistema tributário mais justo, tramita na Câmara o projeto de lei complementar 48/11, do deputado Dr. Aluízio (PV/RJ), que cria a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas, do qual sou relatora, na Comissão de Seguridade Social e Família.

O projeto tem vantagens sobre o Imposto sobre Grandes Fortunas previsto na Constituição há mais de 20 anos e não instituído até hoje: como contribuição social, as receitas arrecadadas podem ser direcionadas para a Saúde, faculdade impedida no caso dos impostos, que são desvinculados; e podem ser alcançadas fortunas sob as mais diversas formas patrimoniais, o que também enfrentaria óbices com o imposto.

Nos termos do meu voto, a arrecadação da contribuição significará aporte adicional de R$14 bilhões para a Saúde. Somente serão tributadas pessoas com patrimônio líquido superior a R$4 milhões, depois de deduzidos, integral ou parcialmente, imóveis residenciais e outros bens relacionados ao trabalho (salas, consultórios e respectivos equipamentos).

Pelos dados da Receita, há apenas 56 mil pessoas habilitadas nas faixas patrimoniais acima desse piso. O projeto determina tributação progressiva. Uma pessoa com patrimônio de R$5 milhões pagaria 0,4% sobre o que exceder a R$4 milhões. Desse modo contribuiria com R$4 mil. Com patrimônio de R$20 milhões, a alíquota seria de 0,8% e, depois de abatimentos e descontos, pagaria R$87 mil. Aqueles com patrimônio de R$100 milhões seriam tributados em R$1,04 milhão. Para melhor atender à justiça fiscal, 70% da arrecadação viriam de 900 indivíduos cujas fortunas ultrapassam R$115 milhões. Será, de fato, uma contribuição sobre grandes fortunas.

Vale ressaltar que, nas maiores faixas patrimoniais, acima de R$120 milhões e de R$150 milhões, as alíquotas seriam de 1,8% e 2,1%. Embora produzam efeito, são alíquotas diminutas frente à evolução patrimonial dessas pessoas. A Receita informa que, ao longo de 2009 - um ano de crise -, o patrimônio das pessoas que superam a casa dos R$100 milhões elevou-se de R$418 bilhões para R$542 bilhões, crescendo 30% num único ano. Nesse contexto, uma tributação adicional de 2% representa muito pouco para esse pequeniníssimo segmento social, mas representará um significativo aporte de recursos para a saúde pública que atende os 190 milhões de brasileiros.

*Jandira Feghali é deputada federal (PCdoB-RJ) e relatora do projeto de lei

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=171369&id_secao=1