sexta-feira, 25 de novembro de 2011
“A PEDREGOSA ESTRADA DE DAMASCO”
Por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”
THAT ROCKY ROAD TO DAMASCUS
A pergunta de um trilhão de dólares no “Inverno Árabe” é quem piscará primeiro no roteiro do Ocidente para esgueirar-se até Teerã via Damasco? Quando examina o tabuleiro regional e o conjunto formidável de forças que se alinham contra eles, o Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei e a ditadura militar do mulariato em Teerã vêem simultaneamente Washington, a superpotência; os estados-membros e bombardeadores malucos da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN; Israel; todas as monarquias absolutas sunitas árabes; e até a maioria sunita da Turquia secular.
E a República Islâmica só pode contar, a seu favor, com Moscou. Não é tão pouco quanto possa parecer.
A Síria é indiscutível aliada chave do Irã no mundo árabe – e Rússia, junto com China, são seus aliados geopolíticos chaves. A China, até agora, continua a repetir que solução para a Síria, seja qual for, terá de ser negociada.
A única base russa no Mediterrâneo está no porto sírio de Tartus. Não por acaso, a Rússia instalou seu sistema S-300 de defesa – dos melhores sistemas de mísseis terra-ar de todas as altitudes que há no mundo, comparável ao sistema Patriot dos EUA – em Tartus. E o sistema será atualizado, em breve, para o S-400, ainda mais sofisticado.
Do ponto de vista de Moscou – e também do ponto de vista de Teerã –, mudança de regime em Damasco é caso de não-não. Significaria expulsão de virtualmente todos os navios russos e iranianos do Mediterrâneo.
Mas o ocidente está-se movimentando pelas laterais. Diplomatas em Bruxelas confirmaram ao jornal Asia Times Online que os ex-“rebeldes” líbios – hoje empenhados em inventar algum governo com um mínimo de credibilidade – já deram sinal verde para que a OTAN construa uma vasta base militar na Cyrenaica.
A OTAN não tem poder de decisão nesses assuntos. Quem decide é o patrão – o Pentágono –, interessado em reforçar o Africom, em coordenação com a OTAN. Estima-se que nada menos que 20 mil pares de coturnos serão desembarcados em solo líbio – 12 mil dos quais, no mínimo, coturnos europeus. Serão responsáveis pela “segurança interna” da Líbia, mas lá ficarão também de prontidão, para futuras campanhas militares que visem – e que outros alvos haveria? – Síria e Irã.
DERRUBAR AQUELES XIITAS
Dado que a mais recente “coalizão de vontades” – a qual, por falar nisso, é repetição do modelo líbio – está contra o regime de Bashar al-Assad na Síria, ela representa também um guerra de cristãos/sunitas contra xiitas, sejam da minoria alawita na Síria ou das maiorias xiitas no Irã, Iraque e Líbano.
Tudo isso é parte e item da “oportunidade estratégica” identificada pelo poderoso lobby israelense em Washington: se atacarmos o elo Damasco-Teerã, aplicaremos golpe mortal ao Hezbollah no Líbano. Isso, crêem os ideólogos, pode agora ser vendido à opinião pública sob a máscara da ex-Primavera Árabe – agora já “Inverno Árabe” depois da metamorfose, antes “Verão Árabe”, e já completamente contrarrevolução árabe.
Do ponto de vista de Teerã, o que está acontecendo na Síria é cobertura “humanitária” para uma complexa operação antixiita e anti-Irã.
O mapa do caminho já está claro. Um fraco, dividido, não representativo Conselho Nacional Sírio – ao estilo líbio – já está criado. E já há uma guerrilha (“insurgência”) sunita, pesadamente armada, operando dos dois lados da fronteira entre Líbano e Turquia. As sanções já pesam duramente sobre a classe média síria. Incansável campanha internacional de propaganda de demonização do regime de Assad também já está em campo. E abundam ações de guerra ‘psicológica’, para estimular deserções do exército sírio (que não estão funcionando).
Relatório de pesquisador baseado no Qatar para o International Institute for Strategic Studies (IISS) [1] chega bem perto de admitir que o autodesignado “Exército Síria Livre” [ing. Free Syria Army] nada é além de um bando de islamistas linha-dura, uns poucos desertores do exército genuíno e a maioria são “irmãos” super radicais da Fraternidade Muçulmana pagos e armados por EUA, Israel, monarquias do Golfo e Turquia. Nada há de “pró-democracia” nesse pessoal – como a imprensa-empresa ocidental e a mídia de propriedade dos sunitas não se cansam de repetir que haveria.
Quanto ao Conselho Nacional Sírio, sediado em Washington e Londres e salpicado como sempre de vários exilados sinistros, o seu programa de governo promete governar a Síria tão militarmente como sempre foi o governo sírio – variação da junta militar que governa o Egito – especialista em bombardear cidadãos que protestem. O que obriga a pensar que a única solução sensível é o povo sírio derrubar o estado policial do regime Assad, e pôr-se veementemente contra o sinistro Conselho Nacional Sírio.
O MODELO DE DITADOR DESSE TEMPORADA
E há, como sempre, o ocidente desorientado e mal informado, que acredita que a Liga Árabe – agora nada além de fantoche da política exterior dos EUA – estaria alinhada a alguma das aspirações democráticas do povo sírio. O blogueiro As'ad Abu Khalil (“The Angry Arab News Service” ) acerta quando diz que, depois da queda do presidente Hosni Mubarak no Egito, “a Liga Árabe é hoje uma extensão do Conselho de Cooperação do Golfo [CCG]”.
Esse CCG é, de fato, o Clube Contrarrevolucionário do Golfo. Seu esporte preferido é privilegiar ditadores “modelo” – a começar por eles mesmos, mas incluindo Ali Abdullah Saleh no Iêmen e os reizinhos da Jordânia e do Marrocos, que serão anexados ao CCG porque, por mais que adorassem estar no Golfo Persa, não estão (geograficamente falando). Por outro lado, o CCG odeia ditadores “errados” – como o já detonado Muammar Gaddafi e Assad, os quais, não por acaso, estão associados a repúblicas seculares.
A Casa de Saud, a Jordânia e o ascendente Qatar estão mais do que confortabilíssimos, fazendo o jogo de EUA e Israel. A Casa de Saud – cão alfa do CCG – invadiu o Bahrain com 1.500 soldados para esmagar protestos pró-democracia em tudo semelhantes aos do Egito e Síria. A Casa de Saud ajudou a dinastia sunita al-Khalifa, que reina no Bahrain, a disseminar a tortura contra os xiitas, que são 70% da população; os bahrainis confirmam que todos os torturados sempre eram forçados a confessar laços diretos com Teerã, “o mal”.
No Egito, a Casa de Saud apoiou Mubarak até depois de deposto. Hoje apoia – até agora com mais de US$ 4 bilhões de dólares – uma junta militar que, basicamente, quer manter o poder, sem qualquer tipo de fiscalização ou transparência, sob fachada “democrática”.
A Casa de Saud de modo algum poderia conviver com qualquer tipo de democracia egípcia bem sucedida. Quem acredite que a Casa de Saud algum dia defendeu ou defenderá direitos humanos e democracia no Oriente Médio deve autointernar-se no manicômio mais próximo.
A Liga Árabe – também uma extensão da Casa de Saud – deu carta branca à OTAN para bombardear estado-membro. Suspendeu a Síria dia 12 de novembro – o mesmo que fez com a Líbia, dia 22 de fevereiro –, porque, diferente do que aconteceu no caso da Líbia, as ordens que EUA e países europeus deram ao Conselho de Segurança da ONU foram devidamente vetadas por Rússia e China.
Bem-vindos a uma “nova” Liga Árabe na qual, se você não se ajoelha ante o altar do CCG, você é automaticamente condenado a “mudança de regime”.
Mas ajoelhar-se e cultuar o CCG não se compara a ajoelha e cultuar o Pentágono e a OTAN. Jordânia e Marrocos são membros do Diálogo Mediterrâneo da OTAN; e o Qatar e os Emirados Árabes Unidos são membros da Iniciativa de Cooperação de Istambul da OTAN. Além disso, Jordânia e Emirados Árabes Unidos são as duas nações árabes que fornecem soldados para a OTAN no Afeganistão.
Ivo Daalder, embaixador do governo Obama à OTAN, já ordenou que a Líbia seja incluída no Diálogo Mediterrâneo, com Marrocos, Jordânia, Egito, Tunísia, Argélia, Mauritânia e Israel. E, no início de novembro, deu ao Conselho do Atlântico a receita completa para atacar a Síria: uma “urgente necessidade” (por exemplo, criar a impressão de que Assad massacrará os civis de Homs); um “relatório regional” (que virá à velocidade da luz, do CCG/Liga Árabe); e um mandado da ONU (Rússia e China já disseram que não, não haverá mandado da ONU).
Eis, portanto, o que se pode esperar dessa “coalizão de vontades”: muita violência e ataques de agentes secretos atribuídos ao regime Assad; apoio imediato do CCG/Liga Árabe à democracia; e, provavelmente, ataque unilateral (porque, dessa vez, não haverá Conselho de Segurança da ONU que autorize a intervenção).
O SONHO DO GRANDE ORIENTE MÉDIO
Não surpreende que mentes lúcidas em Damasco, perscrutando o futuro nas folhas de chá, tenham decidido agir. Damasco enviou mensageiros secretos para sondar o estado de ânimo de Washington. O preço de Damasco ser deixada em paz: cortar todos os laços com Teerã. O regime Assad ficou com o problema de descobrir o que lhe seria dado em troca.
Os alawitas, menos de 12% da população e toda a elite dirigente, não abandonarão o regime Assad. Cristãos e druzos só podem esperar o pior de uma nova ordem muito possivelmente dominada pela Fraternidade Muçulmana mais linha dura. Vale o mesmo pra um vizinho crucialmente importante: o governo de Nuri al-Maliki em Bagdá.
A Rússia sabe que, se o modelo atualmente implantado na Líbia for reproduzido na Síria – e com o Líbano, hoje, já sob bloqueio de facto pela OTAN –, o Mediterrâneo será aquele sonho afinal concretizado, “um lago da OTAN”, que é o mesmo que dizer que o Mediterrâneo estará sob total controle pelos EUA.
Moscou também sabe que, no Grande Oriente Médio concebido pelos EUA – da Mauritânia ao Cazaquistão – os únicos países que não estão ligados à OTAN por miríades de “parcerias” são, além da Síria: o Líbano, a Eritréia, o Sudão e o Irã.
Quanto ao Pentágono, o nome do jogo é “reposicionamento”. Porque, se você sai do Iraque, você tem de ir para outro ponto qualquer no “arco de instabilidade”, de preferência no Golfo. Já há 40 mil soldados dos EUA no Golfo, 23 mil dos quais no Kuwait. Um exército secreto ‘extra’, para o Pentágono e a CIA, está sendo treinado pela ex-Blackwater, já “reposicionada” como Xe, nos Emirados Árabes Unidos. Está nascendo uma OTAN do Golfo. Talvez... OTANCCG, ou CCGOTAN?
Quando os neoconservadores dos EUA governavam o universo – há apenas poucos anos – o 'motto' era “Homens de verdade vão para Teerã”. É hora de melhorar isso. A coisa hoje está mais para “homens de verdade vão para Teerã via Damasco, mas só se tiverem colhões para encarar Moscou”.
NOTA DOS TRADUTORES
[1] “Revolutionary road: Among the Syrian opposition” [Via revolucionária: dentro da oposição síria].”
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “Asia Times Online” (The Roving Eye - That rocky road to Damascus). Transcrito no blog de Castor Filho, traduzido pelo “Coletivo Vila Vudu” (http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/pepe-escobar-pedregosa-estrada-de.html) %20[postagem [Postagem por sugestão do leitor Probus].
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4 comentários:
25/11/2011: A Praça Tahrir “desestabiliza” EUA, Turquia...
21/11/2011, *M K Bhadrakumar, Indian Punchline
Tahrir Square unnerves US, Turkey...
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A irrupção de novos protestos de massa na Praça Tahrir no Egito, que exigem o fim do governo da junta militar, meteu EUA e Turquia nos cornos de um dilema.
Washington não pode não ver que os manifestantes exigem mudança democrática e fim da ditadura militar. De fato, os EUA exercem enorme influência sobre os militares egípcios, que recebem, anualmente, 5 bilhões de dólares dos EUA em ajuda militar. Mas Washington não deseja ver aqueles seus militares fora do poder. Porque a oposição democrática é comandada, no Egito, por forças que os EUA absolutamente não controlam, em particular, a Fraternidade Muçulmana.
Sim, é verdade que os EUA fizeram contatos ‘nos níveis inferiores’ com a Fraternidade Muçulmana, mas ainda falta muito para que se desenvolva “diálogo construtivo” propriamente dito. O que mais preocupa os EUA é a posição “dos Irmãos” da FM em inúmeras questões que envolvem Israel (a posição da FM sobre o tratado de paz entre Egito e Israel; a cooperação de segurança entre Egito e Israel; o Hamás; o Irã, etc. Israel já disse, até, que Teerã mantém contato com grupos da Fraternidade Muçulmana. (De fato, a Fraternidade Muçulmana nada tem de monolítica.) Em resumo, os interesses geopolíticos dos EUA estarão muito mais bem atendidos, se a mudança democrática for mandada para o fundo da sala, de castigo, no Egito.
Será engraçado ouvir o que dirá Barack Obama. Se falar duro demais contra os militares, o lobby israelense enlouquecerá em Washington, e os Republicanos saltarão para a ofensiva mais furiosa. Mas se ficar de bico fechado, se enredará na ironia mãe de todas as ironias. Não esqueçamos: Obama escolheu a Universidade do Cairo, em 2009, para cenário daquele famoso discurso. Foi ou não foi?
A Turquia também está andando sobre brasas, mas de outro ponto de vista. Os militares egípcios, querem, evidentemente, ter papel constitucional ‘independente’, “ao estilo turco”, na vida política do país. O primeiro-ministro turco Recep Erdogan visitou em grande estilo o Egito, há dois meses. E aconselhou o povo egípcio a seguir caminho secular. A Fraternidade Muçulmana enfureceu-se. Outros grupos islamistas fizeram eco aos “Irmãos” e também atacaram Erdogan. A Turquia, pois, está hoje em posição delicada e embaraçosa. Não quer mais que o Egito a tome como modelo a seguir. O “modelo turco” parece talhado sob medida para ditadores militares, sim... Mas essa imagem não é exatamente a que mais interessa à Turquia exibir no Oriente Médio.
Show à parte será a Jordânia. Estão ouvindo os primeiros sinais da tempestade que se arma na Jordânia? Outra vez, a Fraternidade Muçulmana pode abrir as comportas para fazer crescer a onda democrática na Jordânia, sobretudo se os protestos no Egito ganharem força. Não surpreende que agora – depois de onze anos! – o rei Abdullah da Jordânia tenha afinal feito uma visita à Cisjordânia.
O que acontecer no Egito terá consequências gigantescas para toda a política do Oriente Médio. Obama e Erdogan devem estar balançando a cabeça, em desespero. Nem um nem outro, até agora, achou o que dizer. Erdogan tem preferido falar sobre a Síria. Seus aliados no Golfo Persa sentir-se-ão gravemente incomodados caso os ventos democráticos que sopram no Egito venham, eventualmente, a sacudir também as ditaduras do Golfo.
Mais uma vez, o único país que terá razões genuínas para saudar a luta dos que lutam e resistem na Praça Tahrir será... Bem... Será o Irã.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/praca-tahrir-desestabiliza-eua-turquia.html
25/11/2011: BRICS bloqueiam os EUA no Oriente Médio [1]
25/11/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
BRICS blocks he USA on Middle East
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A reunião dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países BRICS em Moscou, ontem, sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África é evento de grande importância, como se vê pelo Comunicado Conjunto. Os principais elementos do Comunicado são:
a) Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) assumiram posição comum sobre o que hoje se conhece como “Primavera Árabe”. Identificaram-se os princípios básicos dessa posição: o foco deve ser diálogo nacional pacífico; nada justifica qualquer tipo de intervenção estrangeira; o papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU.
b) Os BRICS adotaram posição comum sobre a Síria. A frase chave do Comunicado é “Fica excluída qualquer tipo de interferência externa nos assuntos da Síria, que não esteja conforme o que determina a Carta das Nações Unidas.”
c) Os BRICS exigiram “revisão completa” para avaliar a adequação [orig. appropriateness] da intervenção da OTAN na Líbia; e sugeriram que se crie missão especial da ONU em Trípoli para conduzir o processo de transição em curso; dessa comissão deve participar, especificadamente, a União Africana.
d) Os BRICS rejeitaram a ameaça de força contra o Irã e exigiram negociações e diálogo continuados. Muito importante, os BRICS criticaram as ações de EUA e União Europeia de impor novas sanções ao Irã, chamando-as de medidas “contraproducentes” que só “exacerbarão” a situação.
e) Os BRICS saudaram a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo, que encontrou saída negociada para o Iêmen, como exemplo a ser seguido.
É momento sumamente importante para os BRICS – e também para a diplomacia russa. Cresceu consideravelmente a credibilidade dos BRICS como voz influente no sistema internacional. Espera-se que, a partir da posição comum agora construída sobre as questões do Oriente Médio, os BRICS passem a construir posições comuns também em outras questões regionais e internacionais.
Parece evidente que a Rússia tomou a iniciativa para o encontro da 5ª-feira e o Comunicado Conjunto mais ou menos adota a posição que a Rússia já declarou sobre a Primavera Árabe. É vitória da diplomacia Rússia, que ganha diplomaticamente, ter obtido o endosso dos países BRICS também no que diz respeito às graves preocupações russas quanto à situação síria, ante ao risco, cada dia maior, de o Irã sofrer ataque de intervenção ocidental semelhante ao que ao que a Líbia sofreu.
Recentemente, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, manifestou vigorosamente as crescentes preocupações russas. Moscou mostrou-se frustrada com o ocidente e a Turquia, que têm interferido claramente no caso sírio, não só contrabandeando armas para o país e incitando confrontos que, cada vez mais, empurram o país para uma guerra civil, mas, também, sabotando ativamente todas as tentativas para iniciar um diálogo nacional entre o regime sírio e a oposição.
A posição dos BRICS também será bem recebida em Damasco e em Teerã. Mas, ao contrário, implica dificuldades para os EUA e seus aliados, que investem muito em fazer crescer a tensão contra a Síria e o Irã. A Índia ter participado da reunião em Moscou, e ter assinado o Comunicado conjunto também é notícia particularmente importante. Washington registrará. A Rússia, na prática, conseguiu que os BRICS assinassem clara censura às políticas intervencionistas dos EUA no Oriente Médio[2].
Muito claramente, não há caminho aberto, agora, para que os EUA consigam arrancar autorização do Conselho de Segurança da ONU para qualquer tipo de intervenção na Síria. A Turquia, em relação à Síria, pode ter dado passo maior que as pernas. E Israel também recebeu uma reprimenda.
A formulação que se lê no Comunicado conjunto dos BRICS – “segurança igualitária e confiável” para os países do Golfo Persa, a partir de um “sistema de relações” – pode ser vista, sim, como repúdio ao advento da OTAN como provedor de segurança para a região. O Comunicado Conjunto dos países BRICS pode ser lido em inglês (hoje, ainda em inglês. Aliás... por que em inglês?! Já deveria, evidentemente, lá estar, é claro, em português [NTs]).
Notas dos tradutores
[1] Sobre o mesmo assunto, interessante ver, para comparar, o que diz a BBC Brasil em 24/11/2011, Brasília (“Diplomacia dos BRICS lança comunicado conjunto sobre a Primavera Árabe”). Fica-se sem saber se o jornalista e o jornalismo e o jornal são mesmo insanavelmente incompetentes para o trabalho que deveriam saber fazer, mas não sabem, ou se há, mesmo, claro e ativo ânimo de desinformar.
[2] Em: “Mideast events may show West’s wish to make up for lost grip – Lavrov”
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/brics-bloqueiam-os-eua-no-oriente-medio.html
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