O blog “Cidadania.com”, de Eduardo Guimarães, ontem publicou:
“Todos estão perguntando quem venceu o debate de sexta-feira entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos. A lógica mandaria que o candidato do partido Democrata, Barack Obama, fosse declarado vencedor por nocaute, devido às razões que enumero abaixo:
1ª – O governo do Partido Republicano, presidido por George Walker Bush, é um desastre sob qualquer ângulo que se olhe, e John McCain, aliado de Bush, endossa suas políticas e é o candidato dele à própria sucessão na presidência dos Estados Unidos.
2ª – O governo Bush é um fracasso estratégico-militar e de credibilidade porque disse que havia armas de destruição em massa no Iraque e não havia.
3ª – O governo Bush é um fracasso porque gasta 10 bilhões de dólares por mês para controlar o Iraque, um pais que, depois de invadido, descobriu-se que não representava ameaça aos EUA.
4ª – O governo Bush é um fracasso porque os EUA tiveram que se converter em babás dos grupos radicais-religiosos que se digladiam desde sempre no Iraque. Se os americanos saírem de lá, só Deus sabe o que os tais grupos fanáticos farão com o país. Saddam Hussein ao menos mantinha a ordem no Iraque.
5ª – O governo Bush é um fracasso porque governa para as camadas mais altas da sociedade americana, porque corta impostos dos ricos e não faz programas sociais para os pobres, mantendo pobreza no país mais rico do mundo, o que constitui o definitivo atestado de óbito do capitalismo.
6ª – O governo Bush é um fracasso porque, sob ele, bancos seculares quebram o tempo todo e o país entra em crise econômica, levando insegurança e medo à sociedade americana, gerando prejuízos aos ricos e piorando as vidas dos pobres.
7 – O governo Bush é um fracasso porque os EUA perderam o respeito do mundo. Quando eu era criança, os americanos eram os mocinhos. Os meninos da minha geração queriam ser americanos. Hoje, os EUA são vistos como os vilões do mundo. Foi o que Obama apontou para um McCain que fazia “cara de parede”.
Para agravar a situação de McCain, ele declarou, pouco antes de explodir de vez a crise econômica nos EUA, que “os fundamentos da economia americana” seriam “sólidos”. Só por isso Obama já deveria ser considerado vencedor antecipado da eleição.
No entanto, estamos discutindo quem venceu um debate ao qual McCain tentou não comparecer, pois sabia de sua situação delicada devido aos fracassos do governo que apóia e do qual é visto como continuidade.
Mesmo que Obama tivesse grave retardo mental, demolir McCain deveria ser como tirar doce de criança devido à situação de fragilidade do pessimamente avaliado governo Bush. Isso só não acontece porque Obama é negro e grande parte da sociedade americana é patologicamente racista, só por isso.
Mas a inclinação do Partido Democrata de arriscar disputar a eleição com um negro num país em grande parte racista me diz que alguma coisa está mudando profundamente na maior potência mundial. E deve estar mudando para melhor.
A sorte dos americanos aumentou, pois essa crise deles pode ser que compense o racismo que persiste no país.
Obama, no debate, tocou num ponto vital: disse que uma de suas principais tarefas será mudar a imagem dos EUA perante o mundo, fazer os garotos de todas as partes voltarem a ter heróis americanos. Repito porque essa é a idéia-força da candidatura de Obama.
Não sei quem venceu o debate para o conjunto do eleitorado americano porque não consigo pensar como pensa essa fatia maluca e racista daquela sociedade. Mas se vocês quiserem saber como acho que os americanos mentalmente sadios viram o debate entre Obama e McCain, acho que deram vitória para o democrata. Resta saber, porém, quantos são os americanos mentalmente sadios. “
Dos leitores
Se aqui a gente critica a visão Fla X Flu da luta política, precisa ver lá, nos comentários dos blogs. Parece torcida de luta de boxe. Muita gente decepcionada porque o Obama não desferiu um "punch" decisivo, não ganhou por knock-out no primeiro round, só desferiu alguns jabs e levou outros.
A turma do Obama e a do McCain queriam ver o rival no solo. Mais pra rinha de galos do que pra uma luta memorável como a do Cassius Clay contra o George Foreman. A mesma incompreensão do tempo de maturação da política.
Se o Obama desferisse esse golpe fatal no primeiro round-debate - e olha que o McCain provocou! - perdia a luta, a eleição, num país racista e hipócrita: sobraria a imagem do "angry black man" [negro com raiva] judiando de um "herói de guerra" de 72 anos de idade, quatro vezes atacado por um melanoma, etc. etc.
Acho que o Obama se comportou de maneira serena, não caiu nas armadilhas,e dançou no ringue como o grande bailarino Cassius Clay,sem cair. Para o knock-out tem hora, talvez no último debate, quem sabe.
Obama e McCain estão disputando a eleição para presidente dos Estados Unidos da América do Norte, não da América Latina, nem do Brasil.
Evidente que o eleito tem o compromisso fundamental de defender os interesses do seu país e de proteger os cidadãos americanos, não de defender os interesses políticos e econômicos do Brasil.
Não sou cidadã estadunidense, não voto e minha opinião é irrelevante. Mas, como cidadã do mundo, permito-me preferir o candidato Obama porque, pelo menos, parece ser uma pessoa que se pauta pela racionalidade, um homem que pensa antes de agir, que tende a pesar os vários lados de uma questão antes de decidir, não é um xenófobo, tem boa formação intelectual e uma experiência de vida transcultural.
Só isso já me leva a crer que é mais acessível ao diálogo racional e, em conseqüência, parece-me ser mais confiável em política internacional, que é o que interessa a nós e ao mundo. O resto é problema interno dos americanos, eles lá que debatam.
Vera Pereira | Rio de janeiro, RJ, Brasil | professora aposentada |“
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