sábado, 23 de maio de 2009

RISCO DE FALSO ATAQUE TERRORISTA NOS EUA, PRÉ-FABRICADO, PARA REABILITAR OS REPUBLICANOS

Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo de Argemiro Ferreira postado originariamente em seu blog. O autor é jornalista. Desde a década de 1980, escreve para o diário Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro. É autor dos livros "Informação e Dominação" (edição do Sindicato de Jornalistas do Rio de Janeiro, 1982 - esgotado), "Caça às Bruxas - Macartismo: Uma Tragédia Americana" (L&PM, Porto Alegre, 1989), "O Império Contra-Ataca - As guerras de George W. Bush antes e depois do 11 de setembro" (Paz e Terra, São Paulo, 2004):

O título acima é deste blog:

NA OFENSIVA DO MEDO, CHENEY CONTRA OBAMA

“Discursos, no mesmo dia, do presidente Obama e do ex-vice Dick Cheney deixaram bem claro, de novo, que o Partido Republicano, despedaçado pela vitória democrata de 2008, aposta agora despudoradamente no medo. Os republicanos parecem temer que só um ataque terrorista devastador nos EUA (ou instalações americanas de outro país) será capaz de reabilitar seu partido, quase reduzido à condição de zumbi – comparável aos bancos-zumbis, outra herança das políticas desastrosas de Bush.

Na ausência do ex-presidente Bush, recolhido ao silêncio, o ex-vice Cheney assumiu a ofensiva com sucessivos pronunciamentos e num esforço para socorrer tanto o mais destemperado dos que se julgam "cabeça titular" informal do partido à deriva – caso de Rush Limbaugh, rei dos talk shows de rádio – como os que têm responsabilidade institucional, como Michael Steele, presidente do Comitê Nacional Republicano (RNC) e os líderes do partido na Câmara e no Senado.

O fato de Obama ter mantido o secretário da Defesa de Bush, Robert Gates, é na certa a razão de estar a oposição discreta ante o novo espasmo de violência no Iraque, que em dois dias matou 66 pessoas, entre elas três soldados americanos e mais de 20 iraquianos. Ataques repetem-se desde abril, agravando a tensão sectária a semanas da saída das tropas americanas de Bagdá e outras cidades, onde a responsabilidade passará às próprias forças de segurança do Iraque.

O FALSO RENASCIMENTO E A RECEITA DUVIDOSA

Na terça-feira Michael Steele tinha feito um discurso otimista, de cheerleader – o que talvez esteja sendo seu papel atual. Proclamou que os republicanos estão de volta, com toda a força, pois as coisas mudaram, a lua de mel de Obama chegou ao fim e começa um novo capítulo para os republicanos, o do “renascimento”. Mas as pesquisas, uma após outra, mostram exatamente o contrário: o apoio ao partido continua a declinar.

Quinta-feira a pesquisa do Pew Research Center concluiu: de 2002, quando a popularidade de Bush (favorecida pela histeria patrioteira pos-11/9), empurrou os republicanos para virtual empate (43% a 43%) com os democratas na preferência partidária, a 2009 (com o início apoteótico do governo Obama), o quadro se transformou. Agora as pessoas que se identificam como democratas são 53% e os republicanos, 36%. Diferença de 17 pontos percentuais, a maior em duas décadas.

Cheney acha que pode mudar o desequilíbrio se insistir em apregoar que só os republicanos garantem a segurança. “Em sete anos e meio o país foi protegido. Não houve ataque terrorista”, pontifica a cada nova entrevista ou discurso, inclusive o de ontem no AEI (American Enterprise Institute). Ali defendeu, no mesmo contexto, até o uso da tortura (sob o eufemismo enhanced interrogation) para arrancar informações de presos. O discurso de Cheney traz ainda, implícita, a insinuação de que o atual governo, por rejeitar a tortura, é fraco – e deixa o país vulnerável ao terrorismo.

“SR. CHENEY, SEU GOVERNO NÃO DEU SEGURANÇA”

O democrata Paul Begala, ex-assessor na Casa Branca de Clinton e atuante há anos nas arenas dos talk shows da TV, deu num artigo, a 13 de maio, a resposta demolidora que o Partido Democrata nunca ousou. “Sr. Cheney, o senhor não manteve o país seguro”, disse ele. “Se 3.000 americanos foram mortos no seu governo, em ataque que devia ter sido evitado, talvez o senhor devesse hesitar em fazer acusação a qualquer pessoa de estar colocando a América em risco”.

Também foi explícito sobre tortura: “Se o senhor defendeu a tortura e se a tortura produziu informações erradas, usadas ainda para enganar a população e lançar a América numa guerra equivocada (no Iraque), injusta e não justificada, o senhor devia mostrar alguma vergonha ao invés de defender o uso da tortura”. Ao se dirigir quinta-feira ao país, Obama ficou longe disso. Mas fez seu discurso mais enfático contra os oito anos de desatinos da dupla Bush-Cheney.

Sob pressão dos republicanos e até de democratas, por ordenar o fechamento da prisão de Guantânamo, fez defesa vigorosa dessa posição do governo. “Não vamos libertar ninguém que coloque em perigo nossa segurança nacional”, disse. “Se tomamos a decisão foi tendo em mente o seguinte fato. Ninguém jamais fugiu de nossas prisões federais de segurança máxima, onde estão atuamente centenas de terroristas condenados”.

EM DEFESA DOS VALORES FUNDAMENTAIS

Enquanto expunha os planos sobre os 240 detidos ainda em Guantânamo, o presidente acusou o governo anterior de ter embarcado em “experimento mal orientado” que acabou degenerando em “lambança”. Agora, garantiu, haverá um padrão de legitimidade jurídica para justificar a detenção de suspeitos perigosos de terrorismo, que antes não seriam julgados e nem libertados – proposta que causava inquietação entre defensores dos direitos humanos.

Obama falou num cenário diferente da capital – nos Arquivos Nacionais onde são mantidos os documentos fundamentais: a Declaração da Independência, a Constituição e a Carta de Direitos. Era evidente o simbolismo, conforme assinalou o New York Times. Como comandante em chefe, o presidente tem de preservar os valores americanos legados pelos pais fundadores (o repúdio à tortura entre eles) e ao mesmo tempo proteger a segurança nacional.

Ao insinuar que os democratas fraquejam, Cheney diz que o combate ao terrorismo tem de ser implacável, sem contemplação ou meias medidas. Para ele, está certo abrir mão de certos valores e direitos sob o pretexto da segurança. Mas Obama tem outro enfoque para o quadro: “Acredito com cada fibra de meu ser que a longo prazo não podemos manter este país seguro a menos que usemos também a força de nossos valores mais fundamentais”.”

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