Li hoje no blog “de um sem mídia” o seguinte artigo de Débora Lerrer, jornalista e doutora em ciências sociais pelo CPDA/UFRRJ. Fonte:”Agência Brasil de Fato”:
“Espero que o governo Lula encare a CPI da Petrobras como a deixa que faltava para investigar os danos que a gestão que o governo do PSDB fez à empresa. Uma medida que todos aguardavam em relação a todas privatizações e meia-privatizações efetuadas pelo governo anterior. Infelizmente, nunca se sabe.
Mas é curioso pensar como essa oposição ousa propor uma CPI como essa. Bem eles, do PSDB, cuja gestão da Petrobras é vista pelos funcionários de carreira da empresa como completamente desastrada e atrelada a interesses estrangeiros que asfixiaram a expansão da empresa. Então, agora o problema é o PT ter 17 cargos de confiança, localizados estrategicamente na direção da empresa? Se a Petrobras não estivesse andando de vento em popa até poderia se aceitar esta crítica. Mas foi durante o governo Lula que a Petrobras tornou o Brasil autônomo em petróleo e ainda descobriu uma reserva deste recurso que torna o país podre de rico, nos levando segundo as estimativas menos otimistas do 24º lugar para 10º lugar na posição do ranking dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Existe em qualquer país da era moderna uma política de Estado. Esta política de estado deveria visar o desenvolvimento econômico e social de seus respectivos Estados-nacionais. Foi isso que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos e que os levou a serem considerados países “desenvolvidos”. O problema é que certos países, sobretudo os latino-americanos, volta e meia constituem governos anti-nacionais que bloqueiam o desenvolvimento. Geralmente são governos encabeçados por elites deslumbradas pelos estrangeiros, que adoram mostrar sua erudição em inglês, francês e que costumam achar que tudo que há de melhor no mundo se encontra na Europa ou nos Estados Unidos. Parte expressiva de nossa elite política e econômica é assim. Além de não pensar em termos de país, costuma colocar seus interesses acima dos de sua coletividade. Não fosse isso, não teríamos a taxa de desigualdade social secular que continuamos a apresentar ao mundo e extratos importantes da população em condição de miséria.
Não podemos esquecer que o governo FHC fez uma política anti-desenvolvimento e entregou o Brasil literalmente quebrado para Lula governar. No que se refere à Petrobras, além de destruir a Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), abriu o capital da empresa, chegando a franquear informações estratégicas para estrangeiros, supostamente parte dos ritos necessários para suas ações serem vendidas na Bolsa de Nova Iorque. Nos Estados Unidos, por sinal, qualquer petróleo encontrado em seu território é deles. Depois da alteração da Lei de Petróleo, feita pelo tucanato as empresas estrangeiras que venceram os leilões da ANP podem facilmente mandar esse petróleo embora sem que ninguém aqui fique sabendo.
Já os 17 tais cargos estratégicos ocupados pelo PT, que os tucanos estão tentando vender como “empreguismo”, na verdade articularam a visão de governo do PT com a da Petrobrás - cujo corpo de funcionários é sabidamente eficiente - para garantir soberania nacional. Não fosse isso, a empresa, que representa 15% do PIB brasileiro não teria alcançado os resultados expressivos que alcançou nos últimos anos. Houve, em suma, uma grande conciliação entre o empreendorismo da empresa e os interesses políticos É perfeitamente fácil comprovar isso, pois pouco tempo depois desse corpo de dirigentes assumir a empresa, chegamos à autonomia energética em termos de petróleo e, recentemente, com os terminais de gás na Baía de Guanabara (RJ) e em Pecém (CE), conquistamos mais autonomia em relação a esse recurso, até então comprometida pela política de dependência do gás boliviano implementada pelo governo FHC.
É interessante observar como a mídia brasileira, que parece odiar a Petrobras, lida com esse assunto. Na quinta-feira passada, dia da manifestação organizada por vários e distintos setores da esquerda brasileira contra a CPI da Petrobrás, sites como o do “O Globo”, jornal localizado Rio, onde ocorreu a mobilização, curiosamente não apresentou a notícia da mobilização organizada pela FUP (Federação Única dos Petroleiros), mas deu destaque à opinião da oposição, para quem a manifestação “politiza” a questão e defende as eventuais práticas de corrupção realizadas pela estatal. “Nem se começaram as investigações e já se fazem movimentos políticos. Nós não vamos embalar nisso. A atitude do bloco da minoria será de investigar sem politizar”, afirmou o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).
Essa posição é até curiosa, para não dizer outra coisa. Não foram eles que começaram a politização, ao inventarem uma CPI, que costuma ser o grande palco da politização dos assuntos nacionais? E que interesses são esses que estão querendo investigar uma empresa que, sob o governo Lula, deslanchou, superando os entraves que eles, durante o Governo FHC criaram? Ninguém esquece dentro da Petrobrás o fato de que, na época, o 12º andar do prédio-sede da Petrobrás simplesmente ficou fechado para seus funcionários, mas franqueados para “consultores estrangeiros”. E, mais que isso, como uma empresa auditada constantemente, pode ser o antro de corrupção que eles tentam fazer parecer? E será justamente os holofotes de uma CPI o melhor lugar para se investigar eventuais irregularidades que possam ter ocorrido na empresa? Por fim, a grande questão é trazer à luz o que está por trás de uma CPI criada justamente quando a Petrobras está indo atrás de recursos no exterior para investir na exploração da camada Pré-sal e setores da sociedade brasileira estão querendo revisar a Lei do Petróleo, tirando as empresas estrangeiras da exploração de nossas reservas e garantindo que o destino dessa riqueza beneficie o conjunto do povo brasileiro.”
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