domingo, 13 de novembro de 2011

‘FOLHA’ e PSDB: "WHO CARES" the brazilians?


Editorial do jornal tucano “Folha de São Paulo-FSP” [com observações deste blog ‘democracia&política’ ao final]

“PSDB e PT têm sido, nas últimas duas décadas, os dois partidos mais substantivos no desolador panorama da política brasileira.

Quando exerceram o poder federal, no governo FHC (1995-2002), os tucanos introduziram um “novo padrão de racionalidade administrativa[1] e lançaram as bases dos programas de “transferência de renda[2]. Implantaram o plano que debelou a inflação [3], contribuíram para “modernizar” a economia [4]

Ao mesmo tempo, “sociais-democratas” [sic!] (tucanos) e “socialistas” (petistas) passaram a ocupar posição muito próxima no espectro ideológico, conforme estes últimos abandonavam toda estratégia revolucionária e adotavam visão realista sobre a economia. Repetiu-se, aqui, a convergência para o centro que já acontecia em boa parte do mundo.

Não é de estranhar que o PT tenha incorporado a política que antes repudiava: sua vitória nas urnas decorreu dessa aproximação ao centro. Ao estender a cobertura social ainda incipiente e sustentar inflação e crescimento em índices [muito] melhores que os do antecessor, obteve até agora três mandatos presidenciais.

O êxito popular dos adversários jogou o tucanato numa crise de identidade. Na tentativa de superá-la, o “Instituto Teotônio Vilela”, centro de estudos do partido, organizou, segunda-feira 7, no Rio, um encontro para discutir os rumos da agremiação.

Criticaram-se o “aparelhamento da máquina governamental[5] e a “leniência com a corrupção nos governos petistas[6]. Apontaram-se o “favorecimento de conglomerados econômicos[7] e a persistência dos “juros altos” [8]. Isso é papel da oposição, decerto, mas não resolve o dilema existencial do PSDB.

Parece existir uma demanda latente à direita do partido, lastreada nos setores mais empreendedores da economia e que encontra eco no conservadorismo disperso pelas classes sociais.

Também é notório que parcela crescente do eleitorado repele os políticos em bloco e anseia por uma renovação que vá além de slogans, como o "Yes, we care" (Sim, nós cuidamos), paródia do ex-presidente Fernando Henrique sobre o "Yes, we can" (Sim, nós podemos) do presidente Obama.

Dividido pelas ambições personalistas de sempre, sem disposição de praticar uma política interna de prévias que lhe dê mais enraizamento, o PSDB parece de fato à deriva.

E, em tempos de descrédito dos políticos, a “brincadeira” [?] do ex-presidente poderia suscitar a ironia de um cético: afinal, "who cares?" (quem se importa?).”


OBS DESTE BLOGdemocracia&política’ (sobre o editorial da "Folha"):

[1] O “novo padrão de racionalidade administrativa” é eufemismo da tucana “Folha” para a política do governo FHC de reduzir, o máximo possível, o tamanho e o poder do Estado, deixando-o pequeno e frágil, sob o poder do “Mercado”, isto é, dos grandes grupos financeiros, econômicos e de mídia estrangeiros. Também nada menciona a "Folha" sobre a importância que as ONGs estrangeiras e nacionais passaram a receber em nome da 'racionalidade' no governo FHC, em detrimento do papel do Estado. Por exemplo, somente a ONG da Dra. Ruth Cardoso recebeu do governo do marido, FHC, R$ 320 milhões.

[2] Sobre “transferência de renda”, realmente ela ocorreu forte no governo FHC/PSDB, mas na mão única dos mais pobres para a”elite” rica, aumentando a concentração de renda e a desigualdade no Brasil.

[3] Engano corriqueiro da “Folha” e da grande mídia em geral. O Plano Real foi, na verdade, concebido e lançado pelo governo anterior, de Itamar Franco, do PMDB. Até FHC incorre com muita frequência nesse engano.

[4] Quanto a “modernizar a economia, isso também é eufemismo muito utilizado pela mídia e atual oposição para a política adotada por FHC de “vender o patrimônio nacional a preços ínfimos, especialmente para estrangeiros e, em muitos casos, financiando o comprador estrangeiro com recursos do BNDES e sem exigir as adequadas garantias" (ex: caso CESP)”.

[5] Os tucanos criticaram o governo atual, mas sem, obviamente, mencionarem o grande “aparelhamento da máquina governamental” ocorrido nos dois governos de FHC e o que vigora há muitos anos nos governos tucanopefelentos do Estado de São Paulo.

[6] A corrupção nos governos FHC/PSDB/PFL-DEM foi, realmente, em outra escala. Foi na escala gigantesca. Não é necessário aqui repetir os grandes escândalos da confessada e comprovada “venda” de votos de parlamentares (cerca de US$ 150.000 por parlamentar) para permitir a reeleição de FHC (alguns declarados 'vendedores' foram cassados, mas o governo, seus órgãos de “controle” e a “grande” mídia jamais tocaram no assunto de “quem comprou aqueles votos?”); os prejuízos bilionários para o Brasil nas vendas da Vale, da Embratel, das empresas de energia elétrica; e muitos outros escandalosos casos de corrupção. Contudo, visando à manutenção da direita no poder, a corrupção era omitida ou minimizada pela mídia, as investigações da Polícia Federal eram muito raras e, quando havia, eram inofensivas, o TCU, o MP e o equivalente à CGU quase nada atuavam.

[7] Sobre o “favorecimento de conglomerados econômicos”, também não é necessário aqui repetir os graves casos que vazaram na mídia. “Quem não se lembra da célebre frase ‘estamos no limite da irresponsabilidade’, em conversa gravada entre o então presidente do BNDES e um diretor do Fundo Previ (naquela época, já se grampeavam as conversas telefônicas)?” [PHA]. Referia-se ao imenso esforço governamental (escondido e ilegal no limite...) para favorecer um dos grupos da licitação. Isso hoje seria considerado enorme corrupção, crime e motivo para impeachment, com intensa promoção de protestos de “indignados”. No governo FHC, o governo e a mídia transformaram esse caso em, exclusivamente, “inaceitável e clandestina escuta telefônica”, "típica de antigos espiões do SNI que não compreendiam que a ditadura havia terminado e “novos tempos democráticos” haviam chegado".

[8] A crítica do PSDB e do editorial da “Folha” aos atuais “juros altos” deve ser fruto de toque de humor ocorrido na reunião do PSDB no “Instituto Teotônio Vilela”. Eles, certamente, não esqueceram que FHC/PSDB passou o governo para Lula com a inflação em 12% e apontando para 20% no final do ano. A taxa básica de juros Selic em 20% com forte viés de alta (já chegara com FHC a 27%). Esses e outros índices do governo FHC (dívida externa x PIB, dívida pública x PIB, risco Brasil, muito baixo salário mínimo --78 dólares, elevado desemprego, ínfimo investimento em infraestrutura e vários outros indicadores) são humilhantes e constrangedores para o PSDB. Assim, creio ter sido piada tucana, para desanuviar o clima tenso da reunião, a crítica aos atuais “juros altos”].

FONTE: editorial do jornal tucano da direita “Folha de São Paulo” em 10/11  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1011201102.htm) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’. O título original da 'Folha' é "Who Cares"; este blog o modificou].

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