Fernando Antunes, em colaboração para a Folha Online, escreveu o texto a seguir transcrito, que tranqüiliza aqueles que imaginavam uma reação em cadeia que viria a abalar o sistema financeiro brasileiro.
O entrevistado é Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC). É autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994"
“A crise nos bancos americanos não irá contaminar as instituições bancárias brasileiras, afirmou o ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Nesta segunda-feira, o sistema financeiro mundial foi abalado com o pedido de concordata do banco de investimentos Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch ao Bank of America e o pedido de empréstimo de US$ 40 bilhões feito pela seguradora AIG ao Federal Reserve (Fed, o BC americano).
"O Sistema Financeiro Nacional está sólido e não entrou na especulação imobiliária [americana]. Nenhum banco brasileiro está sofrendo qualquer de ameaça", afirmou Bresser, que descarta qualquer crise no país causada pelo sistema financeiro.
A opinião de Bresser é compartilhada pelo atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também não acredita na migração da crise bancária americana para o Brasil. "É uma problema circunscrito daqueles que entraram no sistema de subprime. Até agora eu não vi nada que pudesse interferir nos bancos brasileiros", afirmou.
Para Mantega, as ações dos bancos brasileiros podem sofrer algumas quedas por conta da repercussão do mercado, "mas nada mais do que isso".
Até as 16h20 desta segunda-feira, as ações dos três principais bancos do país listados na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) estavam em queda. Os papéis ordinários do Banco Brasil caiam 8,24%, as ações preferenciais do Bradesco estavam em queda de 8%, e os papéis preferenciais do Itaú depreciavam 7,7%.
ESTADOS UNIDOS
O anúncio do pedido de concordata do Lehman Brothers é mais um episódio da crise dos créditos "subprime", que abala o sistema financeiro americano há cerca de um ano e está na origem da desaceleração das economias centrais.
Há semanas, o mercado segue o "drama" do Lehman à procura de um comprador e ainda sob expectativa de uma operação de resgate do governo dos EUA, em moldes semelhantes ao ocorrido com a Fannie Mae e a Freddie Mac, gigantes do setor hipotecário.
As duas expectativas, no entanto, foram frustradas: a "solução de mercado" se perdeu, com a desistência dos potenciais compradores --primeiro, o banco coreano KDB, e depois, o britânico Barclays e neste final, a derradeira "pá de cal" foi jogada, com a indicação do governo americano de que não resgataria o banco de investimentos.
Analistas lembram, com algum alívio, de que a mais provável e próxima "bola da vez" já foi equacionada: o banco Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America por US$ 50 bilhões.
Com a aquisição, o Bank of America --o maior grupo bancário dos EUA-- consolida ainda mais sua posição de gigante reforçada já por uma série de compras anteriores que incluem o banco hipotecário Countrywide Financial.”
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