quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O CLONE DE LINCOLN GORDON

Li o bom artigo a seguir transcrito, de Mário Augusto Jakobskind, postado no site” Direto da Redação”

“A crise na Bolívia, provocada por grupos extremistas de direita com o apoio ostensivo da Embaixada dos Estados Unidos, remete a algumas reflexões importantes. Diferente dos anos 70, quando golpes de estado eram dados, geralmente com o sinal verde das representações diplomáticas estadunidenses, desta vez a tentativa de derrubar um governo constitucional entrou em choque com governos de nove países latino-americanos, que imediatamente se reuniram em Santiago do Chile, onde a presidenta Michele Bachelet exerce a direção da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), para dar apoio integral ao Presidente Evo Morales.

Outro fato relevante é a questão dos diplomatas estadunidenses expulsos respectivamente da Bolívia e Venezuela. Como sempre fez, o Departamento de Estado norte-americano negou qualquer ingerência na crise boliviana. Nos anos 50, 60, 70 e 80 o mesmo Departamento também negava participação em golpes militares, mas alguns anos depois os arquivos implacáveis abertos ao público confirmavam o apoio dos Estados Unidos. Foi assim na Guatemala de Jacob Arbens, o mesmo aconteceu aqui no Brasil quando o Embaixador Lincoln Gordon, sugeria a derrubada do presidente constitucional João Goulart, para não falar da Brother Sun, a operação de navios de guerra estadunidenses ao largo da costa brasileira para intervir no caso de necessidade.

Menos de 10 anos depois, o então secretário de Estado do governo Richard Nixon, Henri Kissinger, coordenava o apoio aos golpistas que derrubaram Salvador Allende. Nada disso chega hoje a ser novidade, mas vale sempre recordar.

Até os postes de La Paz sabiam que o diplomata Philip Goldberg ao chegar à Bolívia, em outubro de 2006, não passou praticamente um dia sem conspirar. Morales chegou até a denunciar a intromissão de Goldberg. Ele tinha vindo de Prístina, a capital do Kosovo, onde foi chefe da missão estadunidense e trabalhou diuturnamente para consolidar a separação e a independência dessa região, marcada por muita violência com milhares de mortes.

O Departamento de Estado considera a Meia Lua boliviana fundamental em função da riqueza do gás e petróleo. Madame Condoleezza não mediu esforços no sentido de possibilitar a Goldberg o necessário para fabricar uma crise que resultasse na derrubada de Morales. E o governo Bush pouco se importou com o fato de apoiar grupos racistas, que chegaram a afirmar em alto e bom som a seguinte barbaridade: se Hitler conhecesse os índios bolivianos não teria necessidade de matar os judeus. Goldberg, de origem judaica, pouco se importou, pois tinha que cumprir a missão de qualquer maneira.

O espaço aqui é pequeno para enumerar a série de atividades conspiratórias de Goldberg. Parlamentares e a imprensa alternativa boliviana não se cansaram de denunciar o diplomata. O embaixador se reuniu diversas vezes com políticos e empresários da região da Meia Lua, bem como com proprietários de veículos de comunicação. O Departamento de Estado abriu a torneira, via Usaid, com milhões de dólares. O empresário Branko Marinkovic, líder do poderoso Comitê Cívico do Departamento de Santa Cruz, segundo denúncias de parlamentares, viajou até para os Estados Unidos nos dias que antecederam ao surto de violência para informar às autoridades que estava tudo pronto para a trama final.

O esquema montado por Goldberg se intensificou depois do resultado do plebiscito revogatório em que 67% dos bolivianos apoiaram Morales. Goldberg e seus aliados extremistas decidiram então partir para o confronto. O governador (prefeito) do Departamento (Estado), Leopoldo Fernandes foi preso e acusado de responsável pela contratação de criminosos para armar uma emboscada a um grupo de camponeses resultando oficialmente em 15 mortos, 37 feridos e 106 desaparecidos. Para variar, Fernandes jurou inocência.

Diante desses e muitos outros fatos, não restou alternativa a Morales se não expulsar o diplomata-conspirador, numa medida de profilaxia. Como não poderia deixar de ser, Washington gritou e esperneou. Thomas Shannon, chefe da diplomacia estadunidense para a América Latina, ganhou espaços para dizer que Goldberg “é um diplomata com comportamento impecável” e que “a expulsão é um grande erro”. Seria cômico se não fosse trágico.

O Presidente Hugo Chávez, que em abril de 2002 foi vítima de um frustrado golpe com o apoio dos Estados Unidos, numa demonstração objetiva de solidariedade a Morales e mostrando a intromissão em assuntos internos do país decidiu também expulsar o representante de Bush na Venezuela. Pouco antes, os serviços de inteligência venezuelanos desbaratavam uma tentativa de golpe prendendo oficiais da reserva.

Trinta e cinco anos depois do golpe no Chile, os EUA não aprenderem a lição, muito menos os críticos da expulsão do diplomata-conspirador.

EM TEMPO: na última segunda-feira (15), o jornal argentino Clarin noticiava que frotas de navios estadunidenses estão em águas brasileiras, mais especificamente na Bacia de Santos, exatamente onde a Petrobrás descobriu o que pode ser a maior jazida de petróleo da história. Lula pediu explicações a Bush, mas até agora não obteve resposta. Nenhum jornal brasileiro publicou este informe até a hora em que este artigo estava sendo elaborado

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