Li ontem no site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, a seguinte reportagem de Vera Gonçalves de Araújo, de Roma.
“Quase sempre enfrentei as situações críticas da vida fazendo uma lista: coisas para fazer, prioridades, alternativas, supermercado, promessas, viagens, bookmarks, música, livros, o que for eu transformo em lista. Recentemente descobri que esse negócio das listas é um ato mental utilizado para responder a obsessões. Em outras palavras, é sintoma de uma doença, o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
Pelo menos, é loucura mansa, só faz mal para os caderninhos e blocos que caem nas mãos de nós transtornados. Mas o fato é que não resisto a notícias que contêm listas. Como num dos meus romances (e filmes) prediletos, Alta Fidelidade, escrito pelo inglês Nick Hornby, filmado por Stephen Friars. Não perco uma Top 5, melhor ainda uma Top 10.
A revista norte-americana "Forbes" é uma boa fonte. Adoram listas. A última que li é a das 10 cidades mais gostosas para se morar na Europa. Não conheço 3 das 10, e moro na nona (Roma). Não concordo com algumas opções, mas morro de inveja dos repórteres que foram pagos para escrever a matéria.
Em primeiro lugar, uma cidadezinha italiana, em plena região do Chianti, na Toscana. O nome dela é Gaiole. Um dos lugares mais românticos do mundo, mas é tudo tão perfeito que você começa a desejar alguma coisa bem brega para estragar um pouco tanta perfeição. Você passeia pelas ruas e fica imaginando o prefeito que dá ordens para pentear as trepadeiras, que manda tirar um laço de fita berrante demais de uma vitrine, ou que baixa uma portaria para proibir jeans vermelhos (nós transtornados temos obsessões extravagantes).
Em Gaiole vivem mais ingleses do que italianos, como em toda a zona do Chianti, na província de Siena. Tanto que os italianos chamam a região de Chiantishire, com um certo despeito pelo bom gosto dos ingleses. Que sempre souberam escolher e colonizar paisagens perfeitas, bons vinhos (o Castello di Ama de Gaiole é excepcional), e boas bistecche.
Em segundo lugar, Saint-Rémy-de-Provence, onde até os manicômios são lindos, como prova o Van Gogh. Em terceiro, Copenhague, ainda hoje cenário de contos de fada, mas fria demais para se viver. O branco e o azul de Cefalônia, na Grécia, são difíceis de esquecer, mesmo com pouco dinheiro e um mochilão pesado nas costas, em pleno verão. Liubliana, capital da Eslovênia, tem botequins maravilhosos, e conseguiu sobreviver (quase) intacta à arquitetura comunista.
Em sexto lugar, uma desconhecida (para mim), Burford, no Oxfordshire, Inglaterra. Leio no "Forbes" que toda a band dos Radiohead têm casa lá, e isso já é suficiente para entrar na lista das próximas viagens. Já imaginou entrar no pub e tomar uma cerveja com o Thom Yorke? Mas as casas são caras demais: um quarto-e-sala não sai por menos de 600 mil euros.
Budapeste é linda, mas prefiro Praga, se for obrigada a escolher entre as duas. A oitava maravilha é outro nome que aprendi lendo a lista da "Forbes". Sibiu, na Romênia, em plena Transilvânia. Já o nome tem um toque baiano que me encanta.
Como já disse, Roma é a nona. Os repórteres da "Forbes", evidentemente, não foram obrigados a tomar um ônibus às 8 da noite, nem tiveram que fazer fila numa repartição pública para renovar um documento. Mas entendo a escolha, porque afinal o ônibus que da minha casa vai até a estação central passa pelo bairro de Trastevere, pelo Circo Massimo e pelo Coliseu. E nas repartições públicas romanas você pode enlouquecer, mas se (re)vivem também cenas das mais gloriosas comédias dos anos de ouro do cinema italiano.
Em último lugar, a espanhola Deyá: só consegui descobrir que está na ilha de Maiorca, e tem 731 habitantes. Se alguém conhece, por favor me diga se vale a pena botar na lista.”
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