De Marcelo Garcia, no “Ciência Hoje Online”
“Segundo o “Relatório de
Competitividade Global” de
2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que
ocupa no “Índice Global de Inovação”. O “Barômetro Global da Inovação”, que avalia a percepção do ambiente
de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes,
mas o quadro nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na produção científica mundial (13ª), o Brasil
ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e
segue com dificuldade de inovar.
As iniciativas, leis e políticas de
estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro
foram o foco do Congresso da “Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica” (ABIPTI), realizado na semana
passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de
pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais
gargalos nacionais: como transformar a
excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.
Presente ao evento, o ministro de
Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp destacou a importância de fortalecer a
relação entre universidade e setor produtivo e voltou a defender o papel das instituições
científicas e tecnológicas nesse processo.
“O
Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se
desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em
competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa,
desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”
BEIJA
SAPO
Fechar esse ‘ciclo de inovação’
depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras.
Segundo o diretor representante da “Fraunhofer” no
Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras
conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou
seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.
Para o presidente do “Instituto Nacional de Propriedade Industrial”
(INPI) Jorge Ávila, a criação de ambiente favorável à inovação passa justamente
pela redução do risco. “Isso pode ser
alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração
tributária, por exemplo”, destacou, “além
de necessários avanços na área de propriedade intelectual e industrial.”
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia
e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre
inovação é recente nas empresas. “Nas
últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois
veio a inovação”, afirmou. “Em todo
país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de
ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à
pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos
fiscais.”
Um incentivo adicional à inovação
pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria “Innoscience”. O grupo acompanhou durante
cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e
registrou uma valorização 100% maior de
suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São
Paulo.
A
POLÍTICA DA INOVAÇÃO
Colocada como prioridade nos últimos
governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e
iniciativas a ela direcionadas, como a própria “Lei de Inovação” e a “Lei do Bem”, que visam estimular a parceria
público-privada e o investimento empresarial na área.
“Inovar
para competir, competir para crescer”, lema do “Plano Brasil Maior”, política industrial lançada no
ano passado, reflete bem esse ímpeto inovador – também representado pela criação de redes como o “Sistema Brasileiro
de Tecnologia” e de iniciativas como a “Empresa Brasileira de Inovação Industrial” e
o “Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”,
em tramitação no Congresso Nacional.
Mesmo com a proposta de elevar
o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB, governo realizou
corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012.
Paradoxalmente, o país vive um quadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado
pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da “Confederação Nacional da Indústria”, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de
transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a
15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos institutos
Senai de inovação,
que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar.
O próprio investimento governamental
em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo
assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para 1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo
federal anunciou corte de mais de 20% do orçamento da
pasta para este ano – a princípio um
reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política
nacional.
O presidente da “Financiadora de Estudos e Projetos” (FINEP),
Glauco Arbix, defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e
inovação, além da educação, neste momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que
produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou
sobre o processo de transformação da FINEP em uma agência de
fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão
de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.”
FONTE: escrito por Marcelo
Garcia no “Ciência
Hoje On-line” e
transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-obstaculos-para-a-inovacao-no-brasil). [Imagem obtida no
Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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