Roberto Jefferson
Por Rodolpho Motta Lima
“O julgamento do denominado “mensalão”, mais cedo ou mais tarde, teria
mesmo que ocorrer. E, se comprovadas ações fraudulentas, terá que haver
condenações e punições. Isso é ponto pacífico para quem preza a ética e a
dignidade. Mas há muitas outras considerações a fazer em torno do assunto. Um
deles: a provocada “coincidência” de um julgamento que ocorre às vésperas de um
processo eleitoral, com a clara intenção de levar a população a rejeitar um
determinado partido político, como se os demais – inclusive a oposição demotucana – não estivessem metidos em
maracutaias iguais ou maiores, envolvendo recursos públicos. Os que zelam pelo
código eleitoral, tão ciosos na fiscalização de atitudes e atos que configurem
vantagem para estes ou aqueles candidatos no momento das eleições, não só acham
normal essa “estratégia”, mas aproveitam o ensejo para aparecer diante da
sociedade como heróis da ética, talvez para minimizar outros momentos bem
recentes em que o poder judiciário não andou muito bem cotado...
Já deu para perceber a parafernália que a Globo armou em torno do
assunto, como braço midiático nada disfarçado do tucanato. Note-se que não
estou falando em oposição – que, para
muitos, é da essência da atividade jornalística – mas de atos que integram
um projeto político de desarticulação de um grupo para ascensão de outro, o que
é bem diferente. Quantas vezes você já ouviu essa mídia referir-se com a mesma
ênfase ao mensalão “mineiro”, que tem como protagonista um ex- presidente do
PSDB e como ator o mesmo Valério? Quantas chamadas ou dossiês elaborados
pela mídia majoritária você percebeu quando da documentada denúncia, que passou
batida, do jornalista Amauri Ribeiro Jr, no livro “Privataria Tucana”? E por
que esses mesmos órgãos não foram tão defensores do “jornalismo investigativo” no
propalado episódio da compra de votos para a instituição da reeleição que
beneficiou FHC? A ética, como a honestidade e a dignidade, não admite
relativismos. Uma “ética direcionada”, oportunista, acaba sendo a negação de si
mesma.
Para que não paire dúvidas sobre a minha posição: acho que tudo deve ser
apurado nesse episódio do mensalão. É preciso verificar se se tratou de
modalidade do condenável processo conhecido como “caixa 2”, ou se foi mesmo
usurpação do dinheiro público. E, em qualquer hipótese, deve-se punir a quem de
direito, se for o caso. Mas, a partir daí, e sem tréguas, impõe-se que os
cidadãos brasileiros exijam outras apurações e punições, que passam pelo “mensalão
do PSDB de Minas”, pela “Privataria Tucana”, pela “Operação Cachoeira” e todos
os episódios que possam caracterizar os chamados malfeitos.
Com relação à clara tentativa de influenciar o processo das eleições
municipais e desestabilizar o Governo –
ocupando espertamente, em tempos de eleição, espaços nos jornais e na tevê que
francamente pretendem beneficiar os que se opõem ao PT -, pessoalmente não
acredito nas consequências que se imaginam com essa “estratégia”. Há maioria de
brasileiros – a que escolheu pelo voto os
componentes do atual governo e seu programa de objetivos – que, mesmo
admitindo sejam punidos os mensaleiros (se
comprovados os crimes) - torce para o sucesso da caminhada de Dilma e saúda
cada vitória do Governo como algo que, no final do percurso, redundará no bem
comum. Queiram ou náo os arautos do caos, os cronistas da tragédia anunciada,
eles são absoluta minoria em nosso país. Provam-no os índices de aceitação do
Governo e a divulgação de recente pesquisa mundial segundo a qual os
brasileiros são o povo mais otimista do planeta. É que, apesar das conhecidas hienas
e urubus do jornalismo, que vivem insinuando a iminência de catástrofes e
desgraças no nosso campo econômico e social, o povo brasileiro, no geral, está
vivendo melhor, comendo melhor, frequentando mais a escola, tendo mais emprego,
mais acesso à informação. Ainda falta muita coisa, muita coisa mesmo, mas se a
mais insignificante das amebas pudesse refletir sobre o nosso país, hoje,
concluiria no sentido de que estamos avançando.
Devemos todos acompanhar com atenção esse processo judicial, sabendo retirar
dele o joio e o trigo. Ele pode contribuir, se tiver seguimento, para o
aperfeiçoamento de nossas instituições. Pode provocar, finalmente, uma séria e
indispensável reforma política. Pode nos levar, quem sabe, a perceber que um
sistema econômico calcado no lucro fácil e em valores perversos é que acaba
levando à corrupção, essa doença social que não é de um partido, mas predomina
em muitos segmentos institucionais brasileiros, dentro e fora da política. Mas
também pode ser que apenas funcione como casuístico instrumento oportunista ,
que , uma vez atingidos seus propósitos de ocasião, continue omisso diante de
todos os outros episódios similares, frustrando as expectativas da verdadeira
cidadania.”
FONTE: escrito por Rodolpho
Motta Lima, advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga
Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro,
formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro.
Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento
estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Artigo publicado no site
“Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/etica-oportunista).
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