Em seu discurso na varanda da
embaixada do Equador, em Londres, Julian Assange classificou como corajosa a
decisão do presidente Rafael Correa. Foto:
“Opera Mundi”
"O fundador do Wikileaks, Julian
Assange, pediu no domingo (19/08) aos Estados Unidos que parem de perseguir
jornalistas por “lançar luz sobre os crimes secretos dos poderosos”. “A guerra
do governo dos Estados Unidos contra denunciantes precisa chegar a um fim”,
afirmou o jornalista em discurso na sacada da embaixada do Equador em Londres,
onde está refugiado há dois meses.
Assange pediu a libertação de
Bradley Manning, militar norte-americano preso desde 2010 por repassar
informações confidenciais ao Wikileaks. Manning foi o responsável por vazar
mais de 250 mil documentos de 271 embaixadas em 180 países. “Na quarta-feira,
Bradley passou seu 815º dia preso sem julgamento. O máximo é 120 dias”, disse.
“Se ele fez isso é um herói e precisa ser libertado”.
Essa foi a primeira aparição pública
de Assange desde março, quando ainda batalhava na Justiça para não ser
extraditado para a Suécia sob acusação informal de estupro. O fundador do
Wikileaks buscou abrigo na embaixada equatoriana dia 19 de junho. Hoje detém
status de asilado político, concedido pelo presidente do Equador, Rafael
Correa, na última quinta-feira (16).
“Estou aqui hoje porque não posso
estar aí com vocês”, disse Assange, saudado por um público de ativistas e
curiosos de pelo menos 200 pessoas. Outros 200 policiais faziam o cerco à
embaixada enquanto o jornalista discursava. “As ameaças ao Wikileaks são
ameaças à liberdade de expressão”, afirmou.
Assange lembrou da enorme tensão da
madrugada de quarta para quinta-feira, acompanhada pelo “Opera Mundi”.
Assim que o chanceler equatoriano informou sobre a ameaça britânica de invadir
a embaixada para capturá-lo, com base em uma lei britânica de 1987, dezenas de
policiais entraram no edifício onde está a representação diplomática. Ativistas
correram para o local com câmeras ligadas à internet para testemunhar o caso.
“Na quarta-feira à noite”, lembrou
Assange, “depois que uma ameaça foi enviada a esta embaixada e a polícia
apareceu neste prédio, vocês vieram no meio da noite para testemunhar e vocês
trouxeram os olhos do mundo. Dentro da embaixada, depois que a noite caiu, eu
ouvi tropas policiais entrando pela escada de incêndio. Mas eu sabia que
haveria testemunhas, e isso só foi possível por causa de vocês.”
O fundador do Wikileaks fez diversos
agradecimentos. Ele sublinhou a “corajosa” atitude do governo equatoriano, que
lhe concedeu asilo político, e à família e filhos, com quem espera estar junto
“em breve”. Enumerou, ainda, os países latinoamericanos que rechaçaram a
interpretação britânica da lei internacional – entre eles está o Brasil.
DEFESA EM ANDAMENTO
O defensor de Julian Assange e do
Wikileaks, Baltasar Garzón, disse hoje, em frente à embaixada, que irá à Corte
Internacional de Justiça caso o Reino Unido não conceda salvo-conduto para que
o jornalista deixe a representação equatoriana rumo à América do Sul. “Claro
que não vou contar minha estratégia, mas primeiramente é preciso pensar no
salvo conduto e lutar pelos direitos fundamentais de Julian”, disse.
O espanhol Garzón, com ampla
experiência em casos de direitos humanos, foi o responsável por emitir ordem de
prisão contra o general Augusto Pinochet em 2001, entre outras atuações
impactantes que o deram o título de “super juiz”. Ele assumiu o caso Assange em
junho, assim que o jornalista se abrigou na embaixada equatoriana em Londres.
De acordo com Garzón, as autoridades
britânicas ainda não responderam oficialmente sobre o pedido de salvo-conduto,
mas o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, já deixou
claro que não aceita o asilo político e que não ofertará passagem ao jornalista
para que deixe Londres.
O magistrado disse que Assange está
sempre em contato com as autoridades suecas para responder sobre o suposto caso
de estupro, mas que não ouviu garantias sobre seus direitos fundamentais de
defesa e sobre uma eventual extradição para os Estados Unidos.
APOIOS
Assange ganhou no início da tarde
deste domingo o apoio público do ex-embaixador do Reino Unido, Craig Murray, e
do escritor paquistanês Tariq Ali, que discursaram em frente à embaixada do
Equador em Londres. Ambos acusaram o governo britânico de subverter a agenda
internacional de direitos humanos para prender o jornalista.
Murray disse que “nenhum país
concorda com a interpretação britânica da lei” que não reconhece o asilo
político dado ao fundador do Wikileaks. Ali teceu elogios à diplomacia de
países da América do Sul, como Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Brasil, que
reconheceram o direito de Assange de receber o status de asilado. “Hoje esses
países consideram mais o social do que Reino Unido e Estados Unidos”, afirmou.”
FONTE: escrito por Roberto Almeida, de Londres, publicado no “Opera Mundi”
e transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/politica/assange-eua-precisam-parar-de-perseguir-aqueles-que-revelam-os-seus-crimes-secretos.html).
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