domingo, 21 de setembro de 2008

"COMO FALAR DOS LIVROS QUE NÃO LEMOS?"

EDITOR DO UOL TABLÓIDE CRITICA, MESMO SEM TER LIDO, "COMO FALAR DOS LIVROS QUE NÃO LEMOS?"

Nesta semana que finda, li no UOL o interessante artigo de Diego Padgurschi, que transcrevo:

Ele saiu na França em 2007 e, no Brasil, logo no comecinho do ano. De lá pra cá, muita gente deve ter lido, alguns comentaram. Enquanto isso, ficou na mesa de cabeceira deste editor, comendo a poeira acumulada no quarto.

O livro em questão já foi mencionado numa coluna do UOL Tablóide Critica, na critica da jaca. Estamos falando de "Como falar dos livros que não lemos?"

Muita gente fez resenha do livro. Todo mundo fez pose de que leu a obra. Na opinião do Editor, isso contraria a própria lógica do livro, afinal, esta é uma obra que pede uma resenha de alguém absolutamente imparcial, alguém que se recuse a ser influenciado pelo autor - ou seja, alguém que não leu o livro (estamos, aqui, nos referindo a Oscar Wilde, autor da frase que serve de epígrafe para a obra).

E isso o Editor do UOL Tablóide fez: ele, como bom profissional que é, não leu "Como falar dos livros que não lemos?"

Então, o que ele tem a dizer do trabalho intelectual Pierre Bayard?

Primeiro, é o caso de elogiar a sua ousadia de dizer o que, em tese, é impublicável: que todo leitor já se viu, um dia, falando de um livro que não leu diretamente. Quem já foi a uma grande biblioteca sabe que é humanamente impossível ler todos os livros - não estamos falando de todos os livros do mundo, mas apenas de todos os livros da grande biblioteca.

No entanto, todo livro tem um nome, que já diz algo sobre ele (e este caso que estamos analisando tem um nome mais do que apropriado). Alguns têm orelhas bem informativas, outros têm prefácios bem bacanas. E os bons livros são lidos por muita gente, que fala deles. Algumas dessas pessoas são boas leitoras, e o bom leitor de bons leitores é capaz de identificar com boa dose de acerto a propriedade de um comentário mesmo sem ler a obra que gerou o comentário.

Perceba, meu caro internauta, que estamos num jogo de espelhos. E quando falamos de um espelho, estamos pensando que a imagem refletida pode ser bastante parecida com a original, embora sempre perca alguma luz e, eventualmente, possa ser bem distorcida. Por outro lado, num jogo de espelhos, algumas coisas ficam completamente diferentes (e às vezes mais bonitas) que a imagem original - aliás, isso faz boa parte da graça da crítica literária.

Feito o elogio, é também nosso dever bater um pouco também: ao abrir a caixa de Pandora deste "segredo de Polichinelo" do mundo intelectual, Bayard convida muito leitor preguiçoso a se auto-justificar: "Se eu posso falar de um livro que não li, porque vou lê-lo?", é o raciocínio perigoso que se esconde por trás dessa empreitada e que certamente vai servir de álibi para muita leitura vagabunda por aí - gente que vai, inclusive, citar Bayard sem o ler (opa, não vale dizer que este é o caso deste Editor, porque ele não leu "Como Falar dos Livros que não Lemos" por dever de ofício).

Agora, se você, internauta, é mesmo um bom leitor, deve estar se perguntando: "Se o Editor não leu a obra, como sabe que a epígrafe é de Oscar Wilde?" A resposta é elementar: ele não leu o livro, mas leu as resenhas.

E, segundo elas, o livro de Bayard diz que essa é uma forma de conhecer os livros que não lemos.”

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