Imagem do lançamento de um míssil tático AV-TM300 em uma plataforma atual do ASTROS. Arte - AVIBRAS
“O Projeto ASTROS 2020, em desenvolvimento pela AVIBRAS e o Exército Brasileiro, dará capacidade estratégica ao EB e revigorada presença no mercado internacional
Por Nelson Düring, Editor-chefe do site “DefesaNet”, com informações de “Defesa Latina”
O novo lançador múltiplo de foguetes da AVIBRAS visa dar ao Exército Brasileiro um sistema de defesa moderno, capaz de apoio de fogo de longo alcance, com elevada precisão, letalidade e mobilidade.
HISTÓRIA
Na década de 1970, quando os brasileiros eram o terceiro maior comprador mundial de petróleo do Iraque, a balança comercial pendia totalmente para o lado dos iraquianos, que nada compravam do Brasil. A subida estratosférica dos preços do barril em 1973, como protesto dos produtores árabes contra o apoio norte-americano a Israel na Guerra do Yom Kippur, o governo brasileiro propôs ao Iraque reciprocidade comercial.
Afinal, o barril havia saltado de US$ 2,50 para inviáveis US$ 10,50. Em cinco meses, de outubro de 1973 a março de 1974, o aumento chegou a 400%, o que geraria longa recessão nos países ocidentais, desestabilizando a economia mundial. Comandava a Petrobras naquele período o futuro presidente, general Ernesto Geisel, que apostou na extração de petróleo da plataforma submarina e conduziu a aproximação com o Iraque, além de iniciar a busca de alternativas energéticas via projeto de usina nuclear negociado com a Alemanha e uso do álcool como combustível. Ainda em 1973, foi inaugurado um escritório da “Petrobras International” (BRASPETRO), em Bagdá, após acordo com a estatal “Iraq National Oil Company”. Egito e Líbia também firmaram acordos para pesquisa de novas jazidas em seus territórios.
Em 1979, no ocaso do governo Geisel, uma delegação brasileira aterrissou em Bagdá para negociar. Na comitiva, estavam dois industriais da área de defesa: os engenheiros José Luiz Whitaker Ribeiro, presidente da ENGESA, e João Verdi Carvalho Leite, presidente da AVIBRAS Aeroespacial. No cômputo geral, o resultado foi animador. João Verdi assinou contrato de US$ 500 milhões para fornecer um sistema de artilharia de lançamento múltiplo de foguetes, que ainda se achava nas pranchetas de sua empresa. Whitaker Ribeiro, por sua vez, fechou negócio para fornecer o blindado sobre rodas Cascavel, que havia sido lançado na Líbia cinco anos antes. Para tirar o produto do papel, a AVIBRAS investiu em novas instalações industriais e linhas de montagem.
Em dois anos, a primeira versão do sistema ASTROS (Artillery Saturation Rocket System) foi finalizada com a colaboração do Exército Brasileiro. O sistema ASTROS é usado para saturação de área e apoio de fogo, disparando rajadas múltiplas de foguetes sobre o alvo, a distâncias de 30 e 60 quilômetros.
Testado em combate na guerra Irã-Iraque (1980-1988), seu desempenho foi extraordinário. Na Guerra do Golfo, em 1991, repetiu o sucesso anterior, agora nas mãos do exército da Arábia Saudita, que se associou às forças ocidentais, compostas por 29 países sob a liderança dos Estados Unidos, reagindo à invasão do Kuwait pelo Iraque do ex-aliado Saddam Hussein (1937-2006).
A alta qualidade tecnológica e o excelente desempenho do ASTROS beneficiaram a AVIBRAS com novos clientes no Oriente Médio. Por vários anos, ela foi a única indústria do país convidada a participar dos encontros anuais da “Association United States Army” (AUSA), ao qual só compareciam potenciais fornecedores do exército dos EUA. Assediada por empresas estrangeiras para desenvolvimentos conjuntos e até para estabelecimento de “joint ventures”, a AVIBRAS manteve-se como indústria genuinamente de capital brasileiro. Hoje, seu principal produto é operado no Brasil, em países do Golfo e no Sudeste Asiático, carreando para a empresa prestígio internacional.
A ATUALIDADE E O ASTROS 2020
Passados mais de trinta anos daquela venda pioneira em Bagdá, a AVIBRAS volta a se destacar com o sistema ASTROS. Para tanto, a presidente Dilma Rousseff autorizou, no final de janeiro de 2011, um crédito de R$ 45 milhões, objetivando dar início ao programa de aquisição do sistema “Astros 2020”.
Na composição do projeto estratégico, o Exército pretende implantar uma infraestrutura operacional formada por duas unidades de mísseis e foguetes, um centro de instrução de Artilharia, logística, bateria de busca de alvos, depósitos de munições e base de administração.
Tudo assentado no Campo de Instrução de Formosa, em Goiás, para as operações com mísseis e foguetes. O 6º “Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes” (GLMF), unidade de primeira linha do Exército naquele Estado, será transformado em 6º “Grupo de Mísseis e Foguetes”.
Dois armamentos serão desenvolvidos: um foguete guiado, com base na concepção do SS-40 do ASTROS, e um míssil tático de cruzeiro com alcance de 300 quilômetros. Nessa configuração, o projeto atende aos reclamos de muitos clientes atuais e potenciais. Torna-se um competidor do sistema americano MLRS/ATACMS (Multiple Launch Rocket System/Army Tactil Missile System).
As duas unidades de mísseis e foguetes serão estruturadas com comando e estado-maior, uma bateria comando e três baterias de mísseis e foguetes equipadas com viaturas e materiais ainda em desenvolvimento.
De acordo com o novo conceito, o projeto “Astros 2020” poderá disparar foguetes e mísseis táticos de cruzeiro a partir da plataforma de um novo veículo lançador múltiplo, versão MK-6. A estrutura funcionará integrada à preparação do tiro, recebimento e análise da missão, comando e controle, trajetória de voo e controle de danos. A AVIBRAS está desenvolvendo o míssil tático de cruzeiro de 300 quilômetros de alcance, o AV-TM300, o foguete guiado, com ogiva para transportar e lançar dezenas de granadas sobre o alvo, e as novas viaturas lançadoras, remuniciadoras, de comando e controle, de meteorologia e de apoio ao solo.
O AV-TM300, o projeto de engenharia, os protótipos, os testes e a definição dos insumos agregados estão sendo conduzidos pela empresa, com apoio e acompanhamento do Exército.
A nova configuração da arma brasileira entrará num mercado lotado de concorrentes, mas com um às na manga: os países que já usam o ASTROS. Nas previsões da AVIBRAS e do Exército, o “Astros 2020” deverá gerar novos empregos na região paulista de funcionamento da empresa, em Formosa e em Brasília. A formação de profissionais com capacitação em tecnologias de ponta é outro destaque do projeto. A estrutura físico-militar do projeto ficará concentrada na área norte do Campo de Formosa, denominada “Forte de Santa Bárbara”, em homenagem à padroeira dos artilheiros. Suas etapas de desenvolvimento tiveram início em 2012, devendo ser concluídas em 2018.
Com o “ASTROS 2020”, o atual sistema de apoio de fogo do Exército será elevado do nível tático para o nível estratégico. Sua funcionalidade se dará de forma coordenada com a Marinha (o Corpo de Fuzileiros Navais da Armada adquiriu o ASTROS) e a Força Aérea, tanto na defesa do litoral quanto do espaço aéreo brasileiro. Com o diferencial de ser todo digital, o sistema oferece ainda a possibilidade de integrar informações e reconhecimentos proporcionados por veículo aéreo não-tripulado (VANT) Falcão, que a Avibras está desenvolvendo e poderá servir para ampliar o reconhecimento da arma.
A AVIBRAS
Quatro pontos são focados pela AVIBRAS no desenvolvimento do novo sistema ASTROS 2020:
1 - A adequação ao “Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis” – MTCR (Missile Technology Control Regime). Assim, o míssil de cruzeiro AV-TM-300, como o próprio nome identifica, tem alcance de 300km e capacidade de carga limitada a 500kg máxima.
2 – O desenvolvimento da munição com guia terminal, AV-SS40G. Uma necessidade de mercado, já que muitos clientes do ASTROS II a solicitavam. Lembrar que a campanha contra as bombas cluster (cacho) tinha como um dos principais focos limitar o mercado da AVIBRAS.
A empresa não adiantou os tipos de guia que serão incorporadas à munição AV-SS40G. Uma tendência tecnológica é de incorporar guiagem por GPS / GLONASS e a possibilidade de guia laser.
A confiabilidade e precisão da munição AVIBRAS baseada na estabilidade do propelente terá agora outro ponto adicional munições guiadas.
3 - Uma nova e completa arquitetura de Comando e Controle(C2) digital e com capacidade de suportar interferências eletromagnéticas.
4 - A Mobilidade Estratégica. Outro ponto focado no desenvolvimento é a compatibilidade com o cargueiro EMBRAER KC-390. Tanto em peso como em dimensões. O atual ASTROS II já foi testado no mock up do compartimento de carga do KC390. O ASTROS 2020 será compatível com o KC390.
Com chassi com maior mobilidade em todo o terreno e a compatibilidade de poder ser transportado “pronto para ser empregado” pelo KC-390, dará ao sistema ASTROS 2020, a Mobilidade Estratégica. E com as novas munições passará de uma Arma Tática para o Nível Estratégico.”
FONTE: escrito por Nelson Düring, Editor-chefe do site “DefesaNet”, com informações de “Defesa Latina” (http://www.defesanet.com.br/laad2013/noticia/10611/LAAD-Bastidores-2---ASTROS-2020-–-Do-Tatico-para-o-Estrategico-).
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