Da “Folha”:
“Em artigo publicado na ‘Folha’ no
último dia 18, o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite incorreu em erros
sobre o pré-sal brasileiro, comentando, algumas vezes em tom jocoso, as
relações entre essa riqueza de hidrocarbonetos com as perspectivas do etanol.
O primeiro equívoco refere-se à
autoria do anúncio dos excelentes resultados da Petrobras. O recorde de 300 mil
barris diários do pré-sal foi anunciado pelos veículos oficiais da Petrobras, e
não por mim.
O segundo equívoco refere-se ao seu
espanto com a necessidade de formar redes de pesquisa. Diferentemente de outras
operações industriais, a produção de petróleo tem desafios tecnológicos
constantes, de origem natural ou operacional.
Essas demandas fazem com que, mesmo
com tecnologias dominadas, seja necessária a existência de uma rede de
conhecimento que dê respostas rápidas aos desafios.
É esse o sentido das redes temáticas
constituídas no Brasil, sob a direção da Petrobras, organizando milhares de
pesquisadores e expandindo a capacidade de investigações empíricas no meio
acadêmico brasileiro. Não entendo o sentido do "uau" do professor da
prestigiosa Universidade Estadual de Campinas.
Ele demonstra, também, o seu
desconhecimento sobre a indústria ao minimizar o significado do declínio
natural da produção. Deveria saber que, em média, a produção de petróleo decai
de 7% a 10% ao ano, queda relacionada às perdas esperadas dos reservatórios em
produção.
Paradas de manutenção e aumento da
taxa de declínio na Bacia de Campos explicam por que, apesar da produção
adicional do pré-sal, a produção brasileira não cresceu.
O professor faz uma pergunta
completamente sem sentido em relação a OGX. Talvez somente a obliteração da
razão por motivos ideológicos tenha levado o professor aos erros primários em
relação a empresa do chamado "reconhecidamente
esperto empresário Eike Batista".
Ele demonstra falta de informação
quando diz que a OGX foi criada para explorar o pré-sal --quando criada, não era nem sequer habilitada para operar em águas
profundas.
Quanto às diferenças de produtividade
na produção entre áreas vizinhas, o professor deveria saber que a geologia
ensina que áreas adjacentes não necessariamente têm as mesmas propriedades.
Por fim, o professor, que por razões
profissionais deveria ser informado, parece desconhecer que, dos 237 bilhões de
dólares do investimento da Petrobras, menos da metade destina-se ao pré-sal.
Um dos grandes desafios da Petrobras
é garantir a expansão de sua capacidade de refino. O mercado brasileiro de
combustíveis fósseis está crescendo a taxas extraordinariamente elevadas nos
últimos anos, praticamente esgotando a capacidade existente nas refinarias. A
substituição de importações de derivados só será possível com a construção de
novas refinarias.
A comparação feita pelo professor
entre produção de combustíveis fósseis e etanol não tem sentido econômico.
Enquanto os investimentos previstos para o etanol são descentralizados em
inúmeros agentes, a previsão do pré-sal se concentra em uma só empresa.
Os mecanismos de financiamento de um
sistema dependem fortemente da produção atual; já o grande limitador do etanol
relaciona-se com a plantação e a colheita da cana-de-açúcar, que pressupõe
mecanismos de financiamento não estruturados. Esses últimos erros até são
perdoados ao professor emérito de física da Unicamp. Afinal, economia não é sua
especialidade.”
FONTE: escrito por José
Sérgio Gabrielli de Azevedo, 63, ex-presidente da Petrobras (2005-2012), hoje secretário
de Planejamento da Bahia. Publicado na “Folha de São Paulo” e transcrito no
portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-pre-sal-sem-milagres-por-sergio-gabrielli). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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