segunda-feira, 15 de abril de 2013

WIKILEAKS E A CONFIRMAÇÃO DA INGERÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS NA AMÉRICA LATINA


“A publicação de quase dois milhões de cabos confidenciais de inteligência dos Estados Unidos, através do “WikiLeaks”, traz novas evidências sobre a política estadunidense de ingerência nos anos 1970.

Algumas das informações que agora aparecem confirmam várias denúncias feitas por governos e organizações progressistas sobre ações subversivas e de terrorismo de estado em várias administrações estadunidenses.

A série de documentos foi apresentada no dia 8 de abril em uma coletiva de imprensa em Washington, da qual participou o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, através de uma vídeo-conferência, já que se encontra refugiado na Embaixada do Equador em Londres desde junho de 2012.

Assange citou uma frase do escritor George Orwell dizendo que “quem controla o presente controla o passado, e quem controla o passado, controla o futuro”. Sendo assim, segundo o ativista, não se pode confiar no governo estadunidense devido a suas tentativas de esconder a realidade histórica.

O jornalista de origem australiano afirmou que as informações revelam a grande extensão e amplitude das atividades da Casa Branca no mundo durante o período em que Henry Kissinger era secretário de Estado ou conselheiro de segurança nacional dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, entre 1973 e 1976.

Os documentos contêm importantes revelações sobre a responsabilidade de Washington na política de governos ditatoriais na América Latina, particularmente seu papel no golpe de estado no Chile, que implicou a morte do presidente constitucional Salvador Allende e a instauração de um regime criminoso.

Entre os temas abordados por essa nova série de documentos secretos, está a responsabilidade de Washington na “Operação Condor”, responsável pelo desaparecimento de centenas de pessoas progressistas na América Latina.

Também fazem referência à estreita relação de Washington com a tirania de Francisco Franco na Espanha e com o regime dos coronéis na Grécia.

Wikileaks assegurou, em um comunicado, que o governo estadunidense tentou, em diversas ocasiões, reclassificar alguns dos textos, obtidos no “Escritório de Arquivos Nacionais e Administração de Documentos” (NARA, por sua sigla em inglês).

A entidade batizou seu banco de dados como “Biblioteca Pública da Diplomacia Estadunidense”.

Os documentos recém-publicados refletem aspectos da política exterior de Washington nessa época turbulenta, na qual se desenvolveu uma parte da agressão contra o Vietnã, o escândalo Watergate e a dinâmica complexa da Guerra Fria, entre outros eventos nos quais a Casa Branca teve papel de protagonista. Em um dos textos publicados, aparece uma expressão de Kissinger durante uma reunião com funcionários públicos turcos, na qual aponta que os Estados Unidos fazem as operações ilegais em prazos curtos, enquanto que as missões que contrariam a Constituição nacional dos EUA levam um pouco mais de tempo.

WikiLeaks juntou, nessa ocasião, seus últimos arquivos com os cabos e relatórios secretos publicados desde 2010, e inclui correspondência com o Congresso e relatórios de espionagem que revelam a intromissão de Washington nos assuntos internos de outros países e a dupla moral de sua política exterior, afirmam especialistas.

Outros documentos fazem referência à suposta colaboração de autoridades do Vaticano dessa época com os Estados Unidos em apoio ao golpe de estado do general Augusto Pinochet em setembro de 1973, que provocou a morte do presidente constitucional Salvador Allende.

Segundo Assange, os documentos revelam que, para os Estados Unidos, é uma prioridade ter informantes dentro dos movimentos opositores aos governos que não estão em linha com seus interesses, em parte para corrompê-los, mas também para ter opções em ambos lados caso exista uma mudança no país em questão.

Nem representantes da Casa Branca, nem do Departamento de Estado, se manifestaram sobre as últimas revelações do WikiLeaks.

Assange se refugiou na sede diplomática equatoriana em Londres para evitar ser extraditado à Suécia, país que pede sua extradição desde 2010 por um caso de suposto abuso sexual a duas mulheres dessa nacionalidade, mas o acusado nega as denúncias alegando que são por motivações políticas.

O governo do presidente Rafael Correa ofereceu asilo político no passado ano, mas as autoridades britânicas se negam a providenciar o salvoconduto correspondente ao ativista australiano.

WikiLeaks gerou muita atenção mundial em 2010, depois de ter publicado mais de 250 mil cabos diplomáticos estadunidenses.

O soldado do Exército dos Estados Unidos Bradley Manning, de 22 anos, está preso desde 2010, acusado de facilitar centenas de milhares de documentos secretos sobre o Iraque e o Afeganistão e mais de 250 mil cabos diplomáticos classificados à página do Wikileaks.

Há mais de um ano, desde que começaram as audiências prévias ao julgamento em Fort Meade, estado de Maryland, a defesa de Manning não tentou negar que o ex-analista militar no Iraque filtrasse informação, mas que o alcance dos fatos é menos grave do que afirma o Governo dos Estados Unidos.

O advogado denunciou, em várias ocasiões, as duras condições nas quais Manning esteve preso no primeiro ano depois de sua detenção no Iraque em maio de 2010, em uma cela de pouco menos de nove metros quadrados, assim como os abusos cometidos contra ele durante sua reclusão de quase um ano na prisão de Quantico, estado de Virginia.

Em sua declaração em uma audiência preliminar em 28 de fevereiro, Manning assegurou que sempre esteve consciente de que a informação revelada ajudaria a denunciar o verdadeiro custo das guerras no Iraque e no Afeganistão.

A juíza negou uma petição da defesa para excluir a evidência de que a informação foi recebida pelo inimigo, e a promotoria apresentará, no julgamento previsto para o próximo 3 de junho, o depoimento de um sargento das forças de operações especiais da armada que participou na execução de Osama Bin Laden em 2011.

Segundo a página digital da “Rede de Apoio ao soldado Manning”, a promotoria quer que o militar declare, no julgamento, que o líder da rede Al Qaeda mantinha em sua posse cópia digitais de documentos secretos fornecidos por Manning, um fato que poderia levar o acusado à pena de morte.

A Casa Branca está por estes dias muito ocupada na avaliação de uma possível ação militar de grande envergadura na península coreana e no Oriente Médio, assim como em suas habituais atividades subversivas em outras latitudes, temas sobre os quais é provável que no futuro se produzam novas revelações como as do WikiLeaks.”

FONTE: publicado pelo “Prensa Latina” e transcrito no portal “Vermelho” (
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=210906&id_secao=7). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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