“Entrevistado pela rede espanhola de televisão TVE, o presidente do Equador, Rafael Correa, fez um debate tenso com a jornalista Ana Ibáñez, discutindo temas como a lei de mídia em seu país e a crise europeia.
Por Pepe Mejía, no “Kaosenlared” (de Tarrasa, Barcelona)
O programa 24horas, da televisão estatal espanhola TVE, entrevistou o presidente do Equador, Rafael Correa, que tocou em todos os assuntos, apesar da oposição militante da jornalista Ana Ibáñez, que em muitos momentos da entrevista se alinhou com os argumentos do capital financeiro e em defesa do governo de Rajoy.
O presidente Correa iniciou sua intervenção com uma interessante e esplêndida exposição sobre os motivos econômicos da atual crise. Colocou o dedo na ferida ao apontar a dívida como a dificuldade principal para a mudança de sistema. Também não se calou em sua crítica aos bancos e seu papel nos tempos de "bonança".
Foi genial ao proferir esta frase: "O banqueiro é esse sujeito que te empresta o guarda-chuva quando faz sol e te tira quando chove". Explicou muito bem o que aconteceu na América Latina quando os bancos retiraram os créditos ao desenvolvimento e disse que isso é o mesmo que está acontecendo agora na Europa.
"Não se queria superar a crise, se queria garantir o pagamento aos bancos privados. E conseguiram, aprofundando a crise, o crescimento sem emprego. A crise durou mais de dez anos". Sem rodeios, o presidente equatoriano, que deu abundantes demonstrações de seu domínio em matéria econômica, recomendou: "Aprendamos da história, vejam o que aconteceu na América Latina".
E agregou: "Não cometam os erros que nós cometemos. Nós, os latino-americanos, somos especialistas em crise". "Essas receitas não pensam no ser humano. Não critico os governos. Critico o sistema. Não pensam no ser humano, mas no capital financeiro". Mais claro que a água.
Diante dos denodados esforços da apresentadora/entrevistadora para evitá-lo, o presidente do Equador explicou, de maneira muito didática, os perversos mecanismos da dívida e seu tratamento.
A entrevista não perdeu nunca o interesse. Levando em conta que há milhares de famílias equatorianas afetadas pelas hipotecas, os despejos também estiveram presentes. Ana Ibáñez fez todo o possível para neutralizar toda mensagem que tivesse relação com a situação da Espanha. Mesmo assim, a jornalista utilizou argumentos para defender a postura do Governo.
Ainda assim, Correa disse: "Na Espanha, a lei de despejos tem mais de um século". Diante a expressão de que "as leis são abusivas, criminais", a apresentadora insistiu em perguntar pelas soluções, em uma clara tentativa de evitar toda caracterização da lei hipotecária, diferentemente do tratamento dado à lei de imprensa equatoriana que mais adiante abordaremos.
Frente à declaração de Correa "além de a lei ser tremendamente imoral, há contratos abusivos. Existem cláusulas, por exemplo, que depois de assinar o contrato podemos mudar tudo sem avisar" a jornalista disse, sem ruborizar-se, que "isso estamos contando nos serviços informativos, senhor Correa". Em nenhum telejornal, e pode-se consultar na web da TVE, se informa de que os contratos são abusivos. O que, sim, encontramos nos telejornais é a criminalização de todas as pessoas que protestam contra essa lei, os quais impunemente são acusados até de nazistas. Mas para Ibáñez, isso não existe.
O principal problema dos espanhóis não é o de Ana Ibáñez. Para a jornalista, o desemprego não é um problema, é apenas uma notícia. "O desemprego. É outro assunto aqui que é notícia na Espanha". E agregou: "Nesse sentido, que oportunidades o Equador oferece?". Reduzindo o problema do desemprego a um assunto de "oportunidades", ao que Correa respondeu: "Destruindo emprego sem crescimento não se sai da crise".
Ana Ibáñez não esteve muito sutil na noite de 19 de abril. No tema da Constituição e reeleição, a jornalista faz uma pequena confusão, trocando datas e versões. Uma palpável prova de como está o nível profissional na TVE depois das numerosas demissões de gente profissional com mais de 25 anos de experiência.
Outro assunto abordado foi a situação da imprensa. Ibáñez, que trabalhou em uma emissora de rádio católica, abordou o tema desta maneira. "Sua relação com a imprensa equatoriana é complicada". Ao que Correa destacou o viés da pergunta, coisa que incomodou a apresentadora. O mandatário equatoriano disse que também tem relações complicadas com os sindicatos e, entretanto isso não é notícia, isso não se aborda [...].
A jornalista aludia à lei de imprensa que o Equador quer impulsionar e Correa responde "Na Europa, não existe lei de imprensa?". Ana Ibáñez gagueja como quem não sabe. Correa explicou os interesses econômicos – vinculações dos grandes bancos com os principais meios de comunicação – que estão por trás das chamadas “empresas jornalísticas”.
Destacou que, na Espanha, há 60 anos de televisão pública e, no Equador, só quatro. Correa insistiu em mostrar exemplos como o da Alemanha, onde se fechou uma emissora por propaganda nazista, prenderam 23 pessoas e ninguém disse que isso fosse um atentado à liberdade de expressão. Mas a jornalista não queria que continuasse dando exemplos e alegou a falta de tempo...
E é nesses momentos onde a jornalista desliza até o infinito. Acusa Correa de “fechar meios de comunicação” e Correa, rapidamente, lhe pede o nome de algum que tenha sido fechado. Ana começa a gaguejar e se protege com o "me corrija se me equivoco", mas já lançou seu dardo envenenado de afirmar que no Equador se fecham meios de comunicação.
E finalmente, diante da insistência da jornalista em colocar Correa como "sucessor" de Chávez, o presidente equatoriano foi brilhante: "Respeito muito o rei Juan Carlos, o príncipe, a rainha, mas você sabe que, na América Latina, não temos monarquia, não temos herdeiros. O que temos são líderes que representam nossos povos". Uma verdadeira lição.”
FONTE: reportagem de Pepe Mejía, no “Kaosenlared” (de “Caos na rede”; de Tarrasa, Barcelona). Transcrito no site “Carta Maior” com tradução de Liborio Júnior (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21948).
O presidente Correa iniciou sua intervenção com uma interessante e esplêndida exposição sobre os motivos econômicos da atual crise. Colocou o dedo na ferida ao apontar a dívida como a dificuldade principal para a mudança de sistema. Também não se calou em sua crítica aos bancos e seu papel nos tempos de "bonança".
Foi genial ao proferir esta frase: "O banqueiro é esse sujeito que te empresta o guarda-chuva quando faz sol e te tira quando chove". Explicou muito bem o que aconteceu na América Latina quando os bancos retiraram os créditos ao desenvolvimento e disse que isso é o mesmo que está acontecendo agora na Europa.
"Não se queria superar a crise, se queria garantir o pagamento aos bancos privados. E conseguiram, aprofundando a crise, o crescimento sem emprego. A crise durou mais de dez anos". Sem rodeios, o presidente equatoriano, que deu abundantes demonstrações de seu domínio em matéria econômica, recomendou: "Aprendamos da história, vejam o que aconteceu na América Latina".
E agregou: "Não cometam os erros que nós cometemos. Nós, os latino-americanos, somos especialistas em crise". "Essas receitas não pensam no ser humano. Não critico os governos. Critico o sistema. Não pensam no ser humano, mas no capital financeiro". Mais claro que a água.
Diante dos denodados esforços da apresentadora/entrevistadora para evitá-lo, o presidente do Equador explicou, de maneira muito didática, os perversos mecanismos da dívida e seu tratamento.
A entrevista não perdeu nunca o interesse. Levando em conta que há milhares de famílias equatorianas afetadas pelas hipotecas, os despejos também estiveram presentes. Ana Ibáñez fez todo o possível para neutralizar toda mensagem que tivesse relação com a situação da Espanha. Mesmo assim, a jornalista utilizou argumentos para defender a postura do Governo.
Ainda assim, Correa disse: "Na Espanha, a lei de despejos tem mais de um século". Diante a expressão de que "as leis são abusivas, criminais", a apresentadora insistiu em perguntar pelas soluções, em uma clara tentativa de evitar toda caracterização da lei hipotecária, diferentemente do tratamento dado à lei de imprensa equatoriana que mais adiante abordaremos.
Frente à declaração de Correa "além de a lei ser tremendamente imoral, há contratos abusivos. Existem cláusulas, por exemplo, que depois de assinar o contrato podemos mudar tudo sem avisar" a jornalista disse, sem ruborizar-se, que "isso estamos contando nos serviços informativos, senhor Correa". Em nenhum telejornal, e pode-se consultar na web da TVE, se informa de que os contratos são abusivos. O que, sim, encontramos nos telejornais é a criminalização de todas as pessoas que protestam contra essa lei, os quais impunemente são acusados até de nazistas. Mas para Ibáñez, isso não existe.
O principal problema dos espanhóis não é o de Ana Ibáñez. Para a jornalista, o desemprego não é um problema, é apenas uma notícia. "O desemprego. É outro assunto aqui que é notícia na Espanha". E agregou: "Nesse sentido, que oportunidades o Equador oferece?". Reduzindo o problema do desemprego a um assunto de "oportunidades", ao que Correa respondeu: "Destruindo emprego sem crescimento não se sai da crise".
Ana Ibáñez não esteve muito sutil na noite de 19 de abril. No tema da Constituição e reeleição, a jornalista faz uma pequena confusão, trocando datas e versões. Uma palpável prova de como está o nível profissional na TVE depois das numerosas demissões de gente profissional com mais de 25 anos de experiência.
Outro assunto abordado foi a situação da imprensa. Ibáñez, que trabalhou em uma emissora de rádio católica, abordou o tema desta maneira. "Sua relação com a imprensa equatoriana é complicada". Ao que Correa destacou o viés da pergunta, coisa que incomodou a apresentadora. O mandatário equatoriano disse que também tem relações complicadas com os sindicatos e, entretanto isso não é notícia, isso não se aborda [...].
A jornalista aludia à lei de imprensa que o Equador quer impulsionar e Correa responde "Na Europa, não existe lei de imprensa?". Ana Ibáñez gagueja como quem não sabe. Correa explicou os interesses econômicos – vinculações dos grandes bancos com os principais meios de comunicação – que estão por trás das chamadas “empresas jornalísticas”.
Destacou que, na Espanha, há 60 anos de televisão pública e, no Equador, só quatro. Correa insistiu em mostrar exemplos como o da Alemanha, onde se fechou uma emissora por propaganda nazista, prenderam 23 pessoas e ninguém disse que isso fosse um atentado à liberdade de expressão. Mas a jornalista não queria que continuasse dando exemplos e alegou a falta de tempo...
E é nesses momentos onde a jornalista desliza até o infinito. Acusa Correa de “fechar meios de comunicação” e Correa, rapidamente, lhe pede o nome de algum que tenha sido fechado. Ana começa a gaguejar e se protege com o "me corrija se me equivoco", mas já lançou seu dardo envenenado de afirmar que no Equador se fecham meios de comunicação.
E finalmente, diante da insistência da jornalista em colocar Correa como "sucessor" de Chávez, o presidente equatoriano foi brilhante: "Respeito muito o rei Juan Carlos, o príncipe, a rainha, mas você sabe que, na América Latina, não temos monarquia, não temos herdeiros. O que temos são líderes que representam nossos povos". Uma verdadeira lição.”
FONTE: reportagem de Pepe Mejía, no “Kaosenlared” (de “Caos na rede”; de Tarrasa, Barcelona). Transcrito no site “Carta Maior” com tradução de Liborio Júnior (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21948).
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