terça-feira, 16 de abril de 2013

RISCO PARA O BRASIL COM A APERTADA VITÓRIA DE MADURO NA VENEZUELA


VENEZUELA CHAVISTA: A VITÓRIA APERTADA E O TRUNFO DE MADURO

Por Rodrigo Vianna

A vitória do chavismo foi apertada. Mas incontestável: Nicolás Maduro teve [50,75%, contra 48,98%] de Capriles. Diferença de mais de 200 mil votos. A Venezuela votou no candidato de Chavez. Na Democracia é assim: 50% mais um significam vitória. E ponto.

[OBS deste blog ‘democracia&política’: Kennedy foi eleito contra Nixon com apenas 0,01% de vantagem. No Chile, o Presidente Lagos foi eleito com 187 mil votos de diferença. O Presidente Piñera, com 223 mil. Nenhum alarde na imprensa direitista. Por que esse estardalhaço da grande mídia com o fato de, na Venezuela, Maduro ter ganhado com diferença de 234 mil votos?].

Ano passado, nos EUA, Barack Obama ganhou a reeleição por dois pontos percentuais no voto popular. Foi uma eleição radicalizada. Do outro lado, havia eleitores republicanos que consideravam Obama uma espécie de “demônio socialista”, por conta do projeto de assistência pública de saúde. Os EUA viraram um país “dividido” e “ingovernável”? Não. Obama governa. E Mitt Romney sumiu, no fundo das xícaras do “Tea Party”.

A diferença é que, nos EUA, não há embaixada americana para fomentar golpe e instabilidade…

Isso quer dizer que a vida de Maduro será fácil? Não. A direita venezuelana mostrou força. A tendência dos chavistas, de tratar todo adversário como “fascista” e “oligarca”, não cola. Metade do país é fascista? Maduro terá que moderar o discurso…

Chavez tirou o Estado (e o petróleo) das mãos da oligarquia, criou programas sociais, deu dignidade para os pobres. Isso tudo é fato. Vi de perto, em quatro viagens à Venezuela nos últimos cinco anos. Mas há problemas sérios de gestão. E isso ficou claro desde a primeira vez que visitei Caracas, em 2007.

Desde aquela época, escrevi: a oposição, com 45% dos votos (era o que conseguia, na época), tem força para fazer a disputa democrática, em vez de apelar para o golpismo.

E aí vamos ao segundo ponto. A derrota por margem estreita tira o argumento daqueles que – em Caracas, em Washington ou no Jardim Botânico carioca – afirmam: a Venezuela chavista é uma ditadura. Bobagem. A oposição tem força midiática, presença nas TVs e jornais, liberdade de organização. E há um esquema limpo para contagem de votos.

O resultado por margem estreita é um chamado para a moderação. De lado a lado. A vitória apertada pode ser um trunfo de Maduro, na legitimação de seu governo. Só que os chavistas precisam, agora, dialogar com o centro, com aqueles que até apoiam as políticas sociais do governo – mas estão insatisfeitos com a gestão do dia-a-dia. Em Caracas, por exemplo, há problemas sérios nas áreas de segurança, coleta de lixo, transporte…

Capriles deveria apostar no institucional, cobrando que o governo resolva os problemas concretos da população. Os tempos de subir no muro da Embaixada cubana e de fomentar golpes acabaram. Será que Capriles terá grandeza para assumir o novo papel? O problema é que parte da oposição quer golpe e confronto. E o outro problema são os gringos, acostumados com o jogo sujo. Nos últimos dias, surgiram indícios de que a CIA pode ter infiltrado mercenários armados na Venezuela.

Maduro, por seu lado, terá que enfrentar uma burguesia e uma classe média furibundas (é esse o núcleo duro da oposição, com 30% a 40% dos votos) e, ao mesmo tempo, dialogar com aqueles 10% a 15% que votaram em Capriles, mas não são “oligarcas” antipovo.

Não basta mais invocar a figura de Chavez apenas. O presidente morto levou Maduro até o Palácio. Agora Maduro é quem precisa escrever sua história.

Não podemos descartar que setores da oposição partam para campanhas abertas de desestabilização nos próximos dias. Mas será difícil justificar atos de violência quando – pelo voto – a oposição foi capaz de “quase” ganhar.

Contraditoriamente, portanto, a aparente fragilidade de Maduro (“ganhou por apenas 2 pontos”) é também sua força estabilizadora. A Venezuela é uma democracia. E deve ser respeitada como tal.

O Brasil terá papel importante, rechaçando qualquer tentativa de ataque “por fora” da Democracia.

Fiquemos atentos. E não esqueçamos: em Caracas, há embaixada dos Estados Unidos. Fonte de golpes e instabilidade na história da América Latina.

Nos próximos meses, também podem aparecer mais detalhes sobre o câncer que matou Chavez. A Venezuela segue a ser o centro de uma batalha continental. Os Estados Unidos querem retomar o velho quintal [o petróleo]…

PS: assim que acabei de escrever esse texto, já na madrugada de segunda-feira, Henrique Capriles anunciou que não reconhecia os resultados eleitorais; vai pedir recontagem total de votos. Joga na instabilidade, o que, na verdade, pode tirar dele parte do eleitorado (não chavista, mas tampouco antichavista). É uma jogada arriscada. E que pode incendiar a Venezuela.

Difícil acreditar que Capriles tome essa direção sem apoio externo daqueles que já fizeram tombar governos legítimos em Honduras e no Paraguai. Espero estar errado, mas acho que tempos difíceis nos aguardam na América do Sul. E esse clima pode “contaminar” o Brasil.”

FONTE: escrito por Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/vasto-mundo/a-vitoria-apertada-e-o-trunfo-de-maduro.html#more-18731). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

COMPLEMENTAÇÃO


VENEZUELA: A DIREITA ATACA NAS RUAS

Barricada erguida por partidários de Capriles: democratas?

Por Rodrigo Vianna

“Interessa aos partidários de Henrique Capriles criar clima de confrontação. Para os chavistas, o melhor seria aguentar provocações, sem permitir que a situação desande para a confrontação nas ruas. É isso o que me explica, por telefone, um amigo que conhece muito bem a Venezuela e o chavismo.

Acontece que falta combinar com os russos! Nas últimas horas, chegam notícias preocupantes sobre a beligerância na Venezuela. Tanto é que o próprio presidente decidiu falar claramente: prepara-se um Golpe de Estado no país, como em 2002.


Alguns dados:

- na noite de segunda para terça, a turma de Capriles atacou carros e prédios do Governo de Barinas (Estado onde nasceu Hugo Chavez);
- cercou casas de autoridades, ateando fogo em algumas delas;
- atacou centros de saúde onde se concentram médicos cubanos;
- cercou a sede da VTV e da TeleSur – duas emissoras simpáticas ao chavismo;
- atacou integrantes da Guarda Nacional que faziam segurança no bairro nobre de Altamira (Caracas), dominado por antichavistas.

A impressão é de uma ação coordenada da direita.

Os chavistas, há pouco, decidiram ir para as ruas, defender a sede da TeleSur e outros pontos estratégicos sob ataque da direita venezuelana. A tensão é enorme e, no momento em que escrevo, os ataques de parte a parte tornam-se ainda mais violentos também nas redes sociais – inclusive com ameaças de morte contra um apresentador de TV chavista.

Dias antes da eleição, o governo da Venezuela prendeu mercenários colombianos e salvadorenhos, que haviam entrado no país com armas e explosivos. As pistas indicam que os “rapazes” da CIA podem estar atuando na terra de Bolívar.

Capriles não reconhece o governo eleito de Nicolás Maduro. Com a votação obtida (49% dos votos), ele poderia perfeitamente comandar uma oposição institucional, elegendo mais parlamentares no próximo pleito, e preparando-se para derrotar Maduro mais à frente – no voto.

Mas o núcleo duro de Capriles parece ter escolhido o atalho do golpismo. Foi esse o caminho adotado em 2002 – quando derrubaram Chavez e colocaram no poder (por dois dias) Pedro Carmona – um líder empresarial que foi prontamente reconhecido como presidente pelo governo dos Estados Unidos (sem falar na imprensa brasileira, que comemorou o golpe).

O DNA golpista parece atuar de novo. A turma de Capriles passou anos falando em riscos para a liberdade de imprensa sob Chavez. E, agora, cerca emissoras de TV. Passou anos defendendo a “volta à normalidade democrática”, e agora aposta na instabilidade.

Não é exagero imaginar que, mantido o clima de confrontação que se vê hoje, a Venezuela possa caminhar para Guerra Civil. Seria mais um país rico em petróleo a enfrentar a instabilidade fomentada por Washigton.

Os chavistas cometeram erros nos últimos anos. Há muito o que se criticar na administração que agora está sob o comando de Maduro. Mas, do outro lado, há o fantasma de uma direita que parece não ter aprendido nada com a história.

O Brasil precisa agir, rapidamente. Não podemos aceitar a desestabilização de um país membro da UNASUL e do MERCOSUL. Os Estados Unidos e a extrema-direita venezuelana (não falo da direita civilizada, democrática, que tem todo direito de se opor ao chavismo, pela via institucional) vão cometer um grave erro, se apostarem que a Venezuela vai cair feito o Paraguai ou Honduras.

Maduro falou claramente: prepara-se um golpe de Estado na Venezuela. Maduro não é Chavez. Mas a multidão chavista tem força para resistir. E as Forças Armadas, ao contrário de 2002, estão livres dos golpistas. 

Os próximos dias serão decisivos. Se Capriles não fizer um chamado consistente para a calma e a ordem, as consequeências podem ser dramáticas não só para a Venezuela, mas para toda a América do Sul.”

FONTE DA COMPLEMENTAÇÃO: escrito por Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador”  (http://www.rodrigovianna.com.br/vasto-mundo/venezuela-a-direita-ataca-nas-ruas.html#more-18744).

3 comentários:

Matheus Antunes disse...

Primeiramente, gostaria de parabeniza-lo pelo blog, que realmente possui um conteúdo de muita qualidade e um verdadeiro arquivo de críticas políticas, Faço das suas as minhas próprias palavras, e acredite, não digo isso com facilidade.
Em segundo lugar, convido-o para visitar meu iniciante blog, http://politicaaguerrida.blogspot.com.br/

Espero contar com sua visita, seu auxílio, e com suas excelentes postagens.

Obrigado

16 de abril de

Unknown disse...

Matheus Antunes,
Obrigada pelos elogios. São incentivos para a melhoria.
Visitei seu blog. Gostei. Na postagem de hoje, você escolheu boas frases de políticos brasileiros.
Felicidades na sua atividade de blogueiro e nos estudos no Colégio Espanhol de Sta. Maria.
Maria Tereza

Thaynara MG disse...

Venho postar meu comentário novamente,e destacando que não devemos ser radicais, onde eu sou Dilma, e nem por isso devo concordar com a eleição do Maduro, e se houve fraude ou não, eu nao tenho opiniao formada, poois se os caras lá nao, eu que nao vou saber. Em relação ao Pinera no Mexico, teve discussão sim, e falando em recontar os votos sim, e até adiaram o pronunciamento dele como presidente.
Resumindo, por eu ser petista, e votar na Dilma, tenho que odiar a imprensa, eu adoro a imprensa livre, pois com ela já é essa roubalheira toda, imagina sem entao, melhor nem imaginar, e por fim, a Venezuela melhorou sim no governo de chaves, mas melhorou pouco,e nao esquecendo que o chaves mandava e desmandava a 13 anos.