Por José Carlos Ruy
"Tem muita gente que está torcendo para o Brasil dar errado", desabafou a presidenta Dilma Rousseff na terça-feira (23), numa cerimônia no Palácio do Planalto.
A principal caixa de ressonância dessa má vontade com o Brasil é a mídia “conservadora” [da direita], e um exemplo dela pôde ser visto na terça-feira, num comentário sobre a variação do PIB em diversos países, publicado no portal UOL Economia (no blog “Achados Econômicos”) sob o título “Brasil cai 25 posições em ranking mundial de crescimento econômico”, de autoria de Sílvio Guedes Crespo.
Ele analisa dados do Fundo Monetário Internacional referentes ao ritmo de crescimento do PIB de 166 países entre 1993 e 2012.
Diz que, com o crescimento de 0,9% de 2012, o Brasil ficou em 128º lugar (em 2011, quando o crescimento foi de 2,7%, ficou em 103º lugar) e afirma que, nestes 20 anos, o Brasil ficou em “colocação pior do que a atual” somente três vezes: em 1998 ficou em 141º lugar e em 1999, quando ficou na 138ª posição (as duas vezes, é bom recordar, sob Fernando Henrique Cardoso) e em 2003, quando voltou à 141ª posição (foi o primeiro ano do governo Lula, que precisou a arrumar a casa e começar a desmontar a herança maldita de FHC). Em 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, alcançou a 31ª posição.
Análises dessa natureza costumam ser frágeis quando olham apenas para um ano, principalmente numa época de crise econômica profunda do capitalismo, como a que o mundo vive desde 2007/2008.
A análise apresentada em “Achados Econômicos” não cai nessa armadilha e mostra dados referentes a pelo menos duas décadas, procedimento que permite apontar, com mais segurança, algumas tendências. Dados que, dessa maneira, contrariam o tom pessimista da maneira como o texto é apresentado.
Duas observações precisam ser feitas. Primeiro: comparar a evolução de uma economia do porte da brasileira com a economia da Líbia, por exemplo, é como comparar xuxu com borboleta. São dimensões e situações políticas e econômicas díspares. A Líbia foi a campeã de crescimento em 2012 com um índice de 104,5% que só é compreensível quando se leva em conta o esforço de reconstrução do país depois da destrutiva agressão da OTAN e do imperialismo em 2011, ano em que sua economia encolheu 62%.
A análise de “Achados Econômicos” leva em conta, dentro do texto e com letras pequenas, essa realidade. Mas convém ressaltar: a análise comparativa de uma economia como a brasileira só pode ser fértil e elucidativa quando leva em conta economia de porte semelhante ou mesmo maiores (muito maiores, como as economias dos EUA e da China que são, respetivamente, 6,5 e três vezes maiores que a brasileira).
Mas o mais seguro é levar em conta as tendências de longo prazo. Elas mostram que, apesar de freadas como a ocorrida em 2012, o Brasil reencontrou o caminho do crescimento nos governos Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
As décadas anteriores foram, justamente, apelidadas de “perdidas”: entre 1983 e 1993, a média anual de crescimento foi de 2,8% ao ano. Caiu acentuadamente até 1999, com médias anuais inferiores a 2%, ficando abaixo do crescimento dos demais países. Só retomou o crescimento para valer a partir de 2006, quando deslanchou a série atual de crescimento mais acelerado, com médias anuais superiores a 4%, tendência que se manteve até 2011, à qual volta em 2013, se depender da vontade e das ações do governo.
Analistas econômicos costumam apresentar suas conclusões como o relato frio dos fatos da realidade. A ciência, de fato, exige isso: faz-se má ciência quando a vontade contamina os dados e gera conclusões sem bases empíricas.
Mas, sob a aparência do “rigor da ciência”, análises como a apresentada em “Achados Econômicos” mal escondem o objetivo propagandístico de vituperar contra o governo.
A análise escolheu 15 entre os 166 países cujos dados o FMI apresentou. Foram escolhidos para servir de parâmetro à tese de que o Brasil está parando. Se a lista for dividida por porte das economias, os dez comparáveis ao Brasil, tiveram variações do PIB em 2012 muito diferentes: China (14ª posição, com 7,8% de crescimento), Índia (65ª posição e PIB de 4%), México (67ª e 3,9%), EUA (102ª e 2,2%), Japão (108ª e 2,0%), Argentina (110ª e 1,9%), Alemanha (129ª e 0,9%), Reino Unido (136ª e 0,2%), França (141ª e zero por cento) e Itália (162ª e redução de 2,4% no PIB).
São economias de porte comparável à brasileira, ou maiores, que enfrentam as agruras da crise mundial do capitalismo. Perante elas, os 0,9% do pibinho brasileiro de 2012 não fica tão mal e revela que o país resiste à crise em condição melhor do que os ricos (estão todos lá, no bloco do crescimento contido: EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália).
Os demais países da lista dos selecionados para comparação tão todos muito menores do que o Brasil, nos quais, devido ao tamanho reduzido de suas economias, qualquer variação reluz com números significativos, ou perdas catastróficas: Venezuela (39ª posição e PIB de 5,5%), Chile (41ª e 5,5%), Bolívia (43ª e 5,2%), Portugal (164ª e queda de 3,2%) e Grécia (166ª, a última posição, e queda no PIB de 6,4%).
Uma indicação do comportamento do crescimento econômico no longo prazo pode ser vista no gráfico acima, que ilustra este comentário (e que ilustra a análise feita em “Achados Econômicos”). Ele foi montado a partir de dados do período que vai de 1993 a 2012, a partir da média móvel anual (a média móvel é usada para indicar tendências e baseia na variação acumulada, para cima ou para baixo, num período). A linha cor de rosa se refere ao Brasil e ela revela que o país diminuiu nos anos de predomínio neoliberal, sob comando de Fernando Henrique Cardoso (quando a linha cai), e retomou o crescimento de maneira consistente desde 2005 (quando a linha embica para cima). Mostra que, sendo verdadeira (e foi: o PIB de 2012 foi de 0,9%), a oscilação no crescimento nacional ocorre no topo estatístico indicado pela linha cor de rosa, e não no abismo vivido pelo G-7 (os países ricos), indicado pela linha azul.
O crescimento de 0,9% em 2012 foi pequeno e é preocupante. Ele indica a necessidade de uma nova arrancada no crescimento que possa consolidar os ganhos alcançados na última década e levar o país para patamares mais altos de desenvolvimento e bem estar social. Mas não permite a conclusão pessimista difundida na mídia conservadora segundo a qual o país retrocede; longe disso, mesmo lentamente, o país tem avançado. A tendência é de crescimento, contrariando toda propaganda que pretende indicar o contrário usando títulos onde abundam palavras como “queda”, “redução”, “menor”, ou semelhantes.”
FONTE: escrito por José Carlos Ruy no portal “Vermelho”, com informações do portal UOL e da página eletrônica do FMI (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=211821&id_secao=2). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
"Tem muita gente que está torcendo para o Brasil dar errado", desabafou a presidenta Dilma Rousseff na terça-feira (23), numa cerimônia no Palácio do Planalto.
A principal caixa de ressonância dessa má vontade com o Brasil é a mídia “conservadora” [da direita], e um exemplo dela pôde ser visto na terça-feira, num comentário sobre a variação do PIB em diversos países, publicado no portal UOL Economia (no blog “Achados Econômicos”) sob o título “Brasil cai 25 posições em ranking mundial de crescimento econômico”, de autoria de Sílvio Guedes Crespo.
Ele analisa dados do Fundo Monetário Internacional referentes ao ritmo de crescimento do PIB de 166 países entre 1993 e 2012.
Diz que, com o crescimento de 0,9% de 2012, o Brasil ficou em 128º lugar (em 2011, quando o crescimento foi de 2,7%, ficou em 103º lugar) e afirma que, nestes 20 anos, o Brasil ficou em “colocação pior do que a atual” somente três vezes: em 1998 ficou em 141º lugar e em 1999, quando ficou na 138ª posição (as duas vezes, é bom recordar, sob Fernando Henrique Cardoso) e em 2003, quando voltou à 141ª posição (foi o primeiro ano do governo Lula, que precisou a arrumar a casa e começar a desmontar a herança maldita de FHC). Em 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, alcançou a 31ª posição.
Análises dessa natureza costumam ser frágeis quando olham apenas para um ano, principalmente numa época de crise econômica profunda do capitalismo, como a que o mundo vive desde 2007/2008.
A análise apresentada em “Achados Econômicos” não cai nessa armadilha e mostra dados referentes a pelo menos duas décadas, procedimento que permite apontar, com mais segurança, algumas tendências. Dados que, dessa maneira, contrariam o tom pessimista da maneira como o texto é apresentado.
Duas observações precisam ser feitas. Primeiro: comparar a evolução de uma economia do porte da brasileira com a economia da Líbia, por exemplo, é como comparar xuxu com borboleta. São dimensões e situações políticas e econômicas díspares. A Líbia foi a campeã de crescimento em 2012 com um índice de 104,5% que só é compreensível quando se leva em conta o esforço de reconstrução do país depois da destrutiva agressão da OTAN e do imperialismo em 2011, ano em que sua economia encolheu 62%.
A análise de “Achados Econômicos” leva em conta, dentro do texto e com letras pequenas, essa realidade. Mas convém ressaltar: a análise comparativa de uma economia como a brasileira só pode ser fértil e elucidativa quando leva em conta economia de porte semelhante ou mesmo maiores (muito maiores, como as economias dos EUA e da China que são, respetivamente, 6,5 e três vezes maiores que a brasileira).
Mas o mais seguro é levar em conta as tendências de longo prazo. Elas mostram que, apesar de freadas como a ocorrida em 2012, o Brasil reencontrou o caminho do crescimento nos governos Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
As décadas anteriores foram, justamente, apelidadas de “perdidas”: entre 1983 e 1993, a média anual de crescimento foi de 2,8% ao ano. Caiu acentuadamente até 1999, com médias anuais inferiores a 2%, ficando abaixo do crescimento dos demais países. Só retomou o crescimento para valer a partir de 2006, quando deslanchou a série atual de crescimento mais acelerado, com médias anuais superiores a 4%, tendência que se manteve até 2011, à qual volta em 2013, se depender da vontade e das ações do governo.
Analistas econômicos costumam apresentar suas conclusões como o relato frio dos fatos da realidade. A ciência, de fato, exige isso: faz-se má ciência quando a vontade contamina os dados e gera conclusões sem bases empíricas.
Mas, sob a aparência do “rigor da ciência”, análises como a apresentada em “Achados Econômicos” mal escondem o objetivo propagandístico de vituperar contra o governo.
A análise escolheu 15 entre os 166 países cujos dados o FMI apresentou. Foram escolhidos para servir de parâmetro à tese de que o Brasil está parando. Se a lista for dividida por porte das economias, os dez comparáveis ao Brasil, tiveram variações do PIB em 2012 muito diferentes: China (14ª posição, com 7,8% de crescimento), Índia (65ª posição e PIB de 4%), México (67ª e 3,9%), EUA (102ª e 2,2%), Japão (108ª e 2,0%), Argentina (110ª e 1,9%), Alemanha (129ª e 0,9%), Reino Unido (136ª e 0,2%), França (141ª e zero por cento) e Itália (162ª e redução de 2,4% no PIB).
São economias de porte comparável à brasileira, ou maiores, que enfrentam as agruras da crise mundial do capitalismo. Perante elas, os 0,9% do pibinho brasileiro de 2012 não fica tão mal e revela que o país resiste à crise em condição melhor do que os ricos (estão todos lá, no bloco do crescimento contido: EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália).
Os demais países da lista dos selecionados para comparação tão todos muito menores do que o Brasil, nos quais, devido ao tamanho reduzido de suas economias, qualquer variação reluz com números significativos, ou perdas catastróficas: Venezuela (39ª posição e PIB de 5,5%), Chile (41ª e 5,5%), Bolívia (43ª e 5,2%), Portugal (164ª e queda de 3,2%) e Grécia (166ª, a última posição, e queda no PIB de 6,4%).
Uma indicação do comportamento do crescimento econômico no longo prazo pode ser vista no gráfico acima, que ilustra este comentário (e que ilustra a análise feita em “Achados Econômicos”). Ele foi montado a partir de dados do período que vai de 1993 a 2012, a partir da média móvel anual (a média móvel é usada para indicar tendências e baseia na variação acumulada, para cima ou para baixo, num período). A linha cor de rosa se refere ao Brasil e ela revela que o país diminuiu nos anos de predomínio neoliberal, sob comando de Fernando Henrique Cardoso (quando a linha cai), e retomou o crescimento de maneira consistente desde 2005 (quando a linha embica para cima). Mostra que, sendo verdadeira (e foi: o PIB de 2012 foi de 0,9%), a oscilação no crescimento nacional ocorre no topo estatístico indicado pela linha cor de rosa, e não no abismo vivido pelo G-7 (os países ricos), indicado pela linha azul.
O crescimento de 0,9% em 2012 foi pequeno e é preocupante. Ele indica a necessidade de uma nova arrancada no crescimento que possa consolidar os ganhos alcançados na última década e levar o país para patamares mais altos de desenvolvimento e bem estar social. Mas não permite a conclusão pessimista difundida na mídia conservadora segundo a qual o país retrocede; longe disso, mesmo lentamente, o país tem avançado. A tendência é de crescimento, contrariando toda propaganda que pretende indicar o contrário usando títulos onde abundam palavras como “queda”, “redução”, “menor”, ou semelhantes.”
FONTE: escrito por José Carlos Ruy no portal “Vermelho”, com informações do portal UOL e da página eletrônica do FMI (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=211821&id_secao=2). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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