segunda-feira, 22 de abril de 2013

COMO OBAMA FOMENTA UMA CRISE NA PENÍNSULA COREANA

O Prêmio Nobel 'da Paz'...

“As relações entre os Estados Unidos e a Coreia Popular atingiram um nadir e, na maior parte das mídias ocidentais, fala-se da aparentemente irracional retórica dura de que é acusada a Coreia Popular. Inexplicavelmente, dizem-nos, “a Coreia Popular optou por elevar a tensão”.

Por Gregory Elich, no jornal online “Counterpunch” (EUA)

O que falta nessa imagem do 'comportamento hostil norte-coreano' e da 'imaculada inocência americana' é contexto. Como é frequente, as mídias apresentam eventos de um modo isolado como se surgissem subitamente e sem qualquer causa.

É preciso olhar para trás no tempo para perceber o que está perturbando os norte-coreanos. Em meses recentes, a administração Obama deu certo número de passos que a RPDC (República Popular Democrática da Coreia, o nome oficial da Coreia Popular) considerou ameaçadores.

O primeiro passo no caminho do agravamento das relações ocorreu em outubro de 2012, quando os Estados Unidos concederam à Coreia do Sul isenção sob o “Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis”, a qual permitiu estender o alcance dos seus mísseis balísticos de modo a que pudessem cobrir todo o território da RPDC [1]. Em consequência, houve um conjunto de termos que se aplicavam a todos os países que houvessem aderido ao tratado [ao "Regime"] e um conjunto diferente que se aplicava só à Coreia do Sul, claramente com o propósito de alvejar o seu vizinho do Norte.



Naquele mesmo mês, autoridades militares dos EUA e da Coreia do Sul encontraram-se para a “Reunião anual Consultiva de Segurança”, onde acordaram mudanças vastas na sua aliança. Ainda mais importante: eles desenvolveram um plano que denominaram "dissuasão sob medida" ("tailored deterrence"), o qual apela a operações militares conjuntas sul-coreanas-estadunidenses contra a Coreia Popular num certo número de cenários, incluindo incidentes menores. Qualquer "provocação" por parte da Coreia Popular é para ser respondida com força desproporcionada e, segundo autoridades militares sul-coreanos, "essa estratégia será aplicada tanto em tempo de paz como de guerra" [2].

Uma componente essencial da dissuasão sob medida é uma "cadeia de destruição" ("kill chain") para rastrear e atacar sítios de mísseis norte-coreanos, em que satélites e drones americanos detectam alvos, e mísseis e aviões de guerra sul-coreanos eliminam-nos. O plano apela a ataques antecipados (preemptive) baseados na percepção de lançamento iminente de "mísseis" [lançadores de satélites] norte-coreanos. O vice-comandante do Comando Coreia, nas Nações Unidas, general Jan-Marc Jouas, explicou que "mísseis" norte-coreanos poderiam ser rapidamente alvejados "antes de estarem em posição de serem empregados" [3]. Para dizer isso em termos simples, poderia ser lançado um ataque a sítios de mísseis com base em suposições, mesmo quando mísseis norte-coreanos não estivessem numa posição de fogo.


Em 13 de abril de 2012, a RPDC lançou em órbita um satélite de observação da terra, o que disparou condenações pela Administração Obama, com a acusação de ser "um teste disfarçado de míssil balístico". Resoluções da ONU proíbem a Coreia Popular de testar mísseis balísticos, mas Pyongyang argumentou que enviar um satélite para o espaço não é a mesma coisa que efetuar um teste de míssil balístico. Peritos em tecnologia de mísseis tendem a concordar, destacando que o míssil lançado pela RPDC não tinha desempenho para servir de ICBM e que a rota do seu voo adotou uma viragem aguda para evitar voar sobre Formosa e as Filipinas, uma ação que é contra-producente para um teste de míssil balístico [4].

Vasos de guerra sul-coreanos conseguiram recuperar destroços do foguete norte-coreano. Análises efetuadas mostraram que um motor pequeno com um baixo impulso de 13 a 14 toneladas propulsionaram o segundo estágio. O engenheiro aeroespacial Marcus Schiller, baseado em Munique, informou que um segundo estágio de baixo impulso e queima longa, tal como o utilizado pelos norte-coreanos, é precisamente a concepção necessária para um lançador de satélite. Tal concepção é necessária para atingir altitudes suficientemente elevadas para colocar um satélite em órbita. Essa concepção, contudo, é inadequada para um teste de míssil balístico, pois ela faria perder mais de 1.000 quilômetros de alcance. Para testar um míssil balístico, o segundo estágio deveria ter a concepção oposta, tendo alto impulso e tempo de queima curto. Schiller conclui que relatos das mídias ocidentais de que o satélite norte-coreano serviu como teste de míssil balístico "não são verdadeiros" [5].

Michael Elleman, analista de segurança do “International Institute for Strategic Studies”, observa que os resultados de um lançamento de satélite "têm aplicação limitada para mísseis balísticos", pois só frações das questões em causa podem ser testadas. "Outras exigências, mais notavelmente tecnologias de reingresso [na atmosfera] e exigências de flexibilidade operacional não podem ser tratadas adequadamente por lançamentos de satélites". Elleman informa que, por essas e outras razões, lançamentos de mísseis com satélite pela Coreia Popular "não são um substituto para o teste de mísseis balísticos" [6]

Curiosamente, no mesmo dia em que a Coreia Popular lançou o seu satélite para o espaço, a Índia, outra potência nuclear, testou o disparo de um míssil balístico sem que autoridades americanas expressassem uma queixa. [7]. Os Estados Unidos, certamente, estavam conscientes de que o lançamento do satélite da Coreia Popular não podia tecnologicamente ser interpretado como um teste de míssil balístico disfarçado. Parece que a Administração Obama, deliberadamente, optou por falsificar a natureza do lançamento, a fim de promover os seus próprios fins políticos.

O lançamento do satélite proporcionou à Administração Obama oportunidade para endurecer o nó corrediço em torno da Coreia Popular e, após negociações extensas, conseguiu pressionar uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como explicou a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, a intenção da administração Obama era "continuar a aumentar a pressão sobre o regime norte-coreano. E estamos procurando a maneira de melhor fazer isso, a avançar tanto bilateralmente como com nossos parceiros. Até que eles obtenham a mensagem, vamos ter de continuar a fomentar o isolamento desse regime" [8].

Com a aprovação da resolução nº 2087 de 22 de janeiro de 2013, do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções foram impostas à Coreia Popular, apesar do fato de que o tratado internacional do espaço exterior garante o direito de explorar o espaço a "todos os estados sem discriminação de qualquer espécie" [9].

A Coreia Popular reagiu furiosamente por ser discriminada como o único país sobre a Terra ao qual é negado o direito de lançar um satélite. A RPDC não tendia a anuir à imposição de sanções adicionais, quando a sua economia já estava a cambalear com as sanções existentes. Um porta-voz da RPDC destacou que, ao forçar a resolução no Conselho de Segurança, os Estados Unidos haviam violado a Carta das Nações Unidas, a qual declara que "a Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros".
Falando nas Nações Unidas, o delegado da RPDC, So Se Pyong, declarou: "Houve não menos de 2.000 testes nucleares e pelo menos 9.000 lançamentos de satélite no mundo desde que a ONU existe, mas nunca houve uma única resolução do seu Conselho de Segurança que proibisse testes nucleares e lançamentos de satélites". Acrescentando que os Estados Unidos haviam executado mais testes nucleares e lançamentos de satélite do que qualquer outro país, o delegado disse que não deveria ser permitido aos Estados Unidos bloquearem a Coreia Popular por exercer o seu direito de "utilizar o espaço para fins pacíficos", nem utilizar as Nações Unidas "como uma ferramenta para executar a sua política hostil para com a RPDC" [10].

Sem qualquer surpresa, a Coreia Popular optou por exprimir a sua resistência à agressividade da política estadunidense efetuando o seu terceiro teste nuclear em 12 de fevereiro de 2013. Vários dias depois, numa aparente referência ao Iraque e à Líbia, as mídias norte-coreanas recordaram os destinos que haviam acontecido àqueles países que haviam abandonado suas armas nucleares em resposta à pressão estadunidense. Esses exemplos, acrescentavam, "ensinam a verdade de que a chantagem nuclear dos EUA deveria ser contida com contra-medidas substanciais, não com compromisso ou retirada" [11]

Um dia após o teste nuclear, o Ministério da Defesa sul-coreano anunciou que havia instalado mísseis de cruzeiro capazes de atingir qualquer lugar na Coreia Popular e que aceleraria o desenvolvimento de mísseis balísticos de alcance semelhante. Além disso, a implementação da “cadeia de destruição” (kill chain) seria acelerada. [12]. Planejada originalmente para estar completa em 2015, a “cadeia de destruição” está agora em vias de estar instalada no fim deste ano. [13]

Enquanto decorriam discussões no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a imposição de sanções adicionais à Coreia Popular, a União Europeia avançou com o seu próprio conjunto de medidas, incluindo proibição de comércio com entidades públicas norte-coreanas e de comércio com títulos públicos da RPDC. A UE também aplicou proibição à abertura de bancos europeus na RPDC e que bancos norte-coreanos estabeleçam agência na UE. [14]

Levou mais de três semanas para negociar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em resposta ao teste nuclear norte-coreano. A questão mais contenciosa era incluir ou não o Capítulo 7, Artigo 42, o qual teria autorizado "imposição militar". Tanto os Estados Unidos e a Coreia do Sul argumentaram fortemente pela sua inclusão. Outra questão difícil era a inspeção de navios cargueiros norte-coreanos e houve discussão extensa antes de os Estados Unidos e a China acordarem na extensão de inspeções. [15]

Os chineses recusaram-se a concordar na "imposição militar", certamente temendo que isso aumentaria o risco de guerra. Nem acompanharam algumas das medidas mais duras que os Estados Unidos haviam incluído, como uma lista de desejos na sua minuta. [16]. A "imposição militar" teria sido particularmente perigosa, dada a história de como o Artigo 42 serviu de caminho [pretexto] para os Estados Unidos travarem guerras.

Embora os Estados Unidos não obtivessem tudo o que queriam, a aprovação da Resolução nº 2094 em 7 de março de 2013 pelo Conselho de Segurança da ONU atingiu muitos dos objetivos que advogavam. A resolução exige a todos os países que inspecionem navios e aviões norte-coreanos que forem suspeitos de transportarem bens proibidos. Restrições fortes são aplicadas a operações bancárias norte-coreanas. É ordenado a países que impeçam indivíduos norte-coreanos de transferirem volume de dinheiro (bulk cash), incluindo pessoal diplomático, que passam a estar sujeitos a "vigilância agravada", em violação da “Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas[17]. Ao visar diplomatas norte-coreanos para vigilância, buscas e detenção, os Estados Unidos têm como objetivo eliminar um dos poucos meios remanescentes que a RPDC tem para envolver-se em transações monetárias internacionais. As sanções bancárias da ONU e dos Estados Unidos fizeram com que a maior parte dos bancos internacionais ficassem pouco desejosos de ter transações com a Coreia Popular, forçando a RPDC a efetuar grande parte do seu comércio exterior na base de ‘cash’.

É a medida de restringir negócios de bancos com a Coreia Popular que promete infligir o maior dano à economia norte-coreana. "Perseguir o sistema bancário de um modo universal é comprovadamente a coisa mais forte na lista", observa antiga autoridade do Departamento de Estado, J. R. Revere. "Isso começa a morder na capacidade da Coreia Popular para financiar muitas coisas[18]. Primariamente, o comércio normal, dever-se-ia notar.

Poucos dias depois, o Departamento do Tesouro dos EUA avançou com as suas próprias sanções, proibindo transações entre o “Foreign Trade Bank” da Coreia Popular e indivíduos e negócios estadunidenses, e colocando congelamento sobre ativos mantidos sob jurisdição dos EUA. O “Foreign Trade Bank”, destaca o Departamento do Tesouro, é "o banco primário do intercâmbio externo da Coreia Popular[19]. A proibição efetivamente impede bancos e empresas em outros países de comerciarem com o “Foreign Trade Bank”, por temor de serem excluídos do contato com o sistema financeiro dos EUA. "Quando há um banco estrangeiro com que bancos dos EUA não façam negócios, bancos em outros países começam a evitar transações com ele", observa um especialista financeiro. "Eles ficam preocupados acerca de sofrerem, eles próprios, as consequências". Tipicamente, o comércio internacional está baseado no dólar, exigindo transações através do sistema financeiro estadunidense. Por essa razão, "bancos chineses não vão ser capazes de ajudar a Coreia Popular", acrescenta o analista financeiro [20].

Pelo seu lado, a Coreia do Sul adotou políticas que agravam o perigo de guerra. Segundo autoridade militar sul-coreana, "foi dada aos comandantes a autoridade para agirem primeiro, à vontade, no caso de uma provocação norte-coreana, para infligir retaliação que seja mais de dez vezes tão dura quanto o nível da provocação". [21]. O Diretor de Operações do Estado Maior das Forças Armadas, Kim Yong-hyon, declara que, em resposta a um incidente, as forças armadas sul-coreanas "punirão resolutamente não só a origem da provocação, como também suas forças que comandam[22]. Não é preciso muita imaginação para reconhecer como tal política tem o potencial para transformar uma escaramuça menor numa guerra.

Os Estados Unidos e a Coreia do Sul assinaram, recentemente, um plano de contra-provocação, no qual forças estadunidenses são comprometidas a providenciar apoio quando forças sul-coreanas ataquem um alvo norte-coreano. O plano esclarece ações que devem ser tomadas como resposta a vários cenários. De acordo com uma autoridade militar sul-coreana, ele leva em conta a política sul-coreana "a qual apela ao lançamento de contra-ataque não só para a origem da provocação como também a forças que a apoiam e seus comandantes". Em alguns cenários "armas estadunidenses podem ser mobilizadas para retaliar em águas territoriais e solo da Coreia Popular[23]. O plano de contra-provocação requer à Coreia do Sul consultas com os Estados Unidos antes de entrar em ação, mas se Seul requerer assistência, os Estados Unidos não podem recusar-se a tomar parte em operações militares [24].
Numa poderosa demonstração destinada a intimidar a Coreia Popular, os Estados Unidos e a Coreia do Sul começaram o seu exercício militar anual “Resolução Chave” (Key Resolve) em 11 de março, sobrepondo-se ao exercício militar de dois meses “Foal Eagle” que começou em 1º de março. Durante o exercício, bombardeiros B-52 com capacidade nuclear decolaram de Guam e praticaram o despejo de munições na Coreia do Sul [25]. Os comandantes estadunidenses sabiam que essa ação inflamaria sensibilidades norte-coreanas, dadas as dolorosas memórias que os norte-coreanos têm da Guerra da Coreia, quando bombardeiros estadunidenses executaram política de terra queimada e arrasaram todas as cidades norte-coreanas até ao solo.

Os Estados Unidos, mais uma vez, agravaram a pressão sobre a RPDC com o envio do submarino USS Cheyenne, movido a energia nuclear, equipado com mísseis Tomahawk, para participar no “Foal Eagle” [26]. Logo após, bombardeiros B-2 Stealth voaram sobre a Coreia do Sul em exercícios militares. "Como o B-2 tem a função de ser invisível ao radar, ele pode penetrar a defesa antiaérea para lançar armas convencionais e nucleares", comentou uma autoridade militar. "É a arma estratégica mais temida pela Coreia Popular[27]. O B-2, deve-se notar, é o único avião capaz de "entregar" a bomba “Massive Ordnance Penetrator” de 30 mil libras [13.590 kg], a qual pode perfurar 200 pés [61 m] de concreto antes de detonar. O avião também pode transportar múltiplas armas nucleares. Continuando a escalar a demonstração de força, os Estados Unidos enviaram, a seguir, aviões de combate F-22 Stealth à Coreia do Sul [28]. O governo sul-coreano pediu aos Estados Unidos para não mostrar os aviões em público porque isso seria provocação desnecessária à Coreia Popular. O pedido foi desatendido pelos Estados Unidos [29].

Num aumento do arsenal sul-coreano, os Estados Unidos aprovaram a venda de 200 bombas destruidores de bunkers, adequadas para alvejar instalações subterrâneas norte-coreanas. Os planos exigem que as bombas sejam instaladas até o fim do ano [30]. A Coreia do Sul também planeja comprar na Europa 200 mísseis de cruzeiro Taurus, lançados do ar, os quais são capazes de penetrar até seis metros de concreto reforçado [31].

Como parte do seu planejamento para contingências futuras, os Estados Unidos constituíram uma organização militar responsável pela entrada na Coreia Popular e captura de instalações e armas nucleares, no caso de uma crise na RPDC. Naquele cenário, as forças dos EUA também prenderiam "figuras chave" e reuniriam informação classificada. Não foi revelado quais indivíduos norte-coreanos seriam sujeitos a prisão pelas forças dos EUA. A força seria composta por forças armadas dos EUA, operacionais de inteligência e pessoal antiterrorismo. Um ensaio do plano fez parte dos exercícios “Key Resolve” recentemente concluídos [32].

Tendo feito tudo para provocar os norte-coreanos, a Administração Obama agarrou a oportunidade para apontar a sua reação como justificação para instalar uma lista de desejos (wish list) de hardware antimíssil. O Pentágono anunciou que estacionaria 14 interceptadores de mísseis adicionais em Fort Greely, Alasca, e prosseguiria com o seu plano de colocar um segundo radar antimíssil no Japão [33]. Uma bateria “Terminal High-Altitude Area Defense” (THAAD) é prevista ser exibida em Guam na sua primeira instalação [34], e a plataforma SBX-1 X-Band Radar, com base no mar, está movendo-se para o Pacífico ocidental; a Marinha diz poder ser o primeiro de outros posicionamentos navais [35].

O “Wall Street Journal” relata que o espetáculo de força militar foi planejado antecipadamente, no que a Administração Obama denominou "o manual de estratégia" ("the playbook"). Os Estados Unidos agiram com intenção deliberada de ameaçar a Coreia Popular. Segundo o artigo, a administração decidiu colocar o manual em "pausa" só quando as mídias revelaram a deslocação de dois destróiers com mísseis guiados para o Pacífico ocidental e foi sentido que, talvez, essa notícia arriscasse pressionar os norte-coreanos demasiado longe. O posicionamento dos destróieres, como foi dito, não era para ser revelado. Os próximos passos do manual foram adiados [36]. Também foi informado que os Estados Unidos adiaram um voo de teste de um Minuteman ICBM em um mês, a fim de não aumentar tensões.

A percepção que a administração Obama pretende transmitir ao público americano e mundial, portanto, é que os Estados Unidos estão agindo "responsavelmente" a fim de neutralizar a situação. Uma alta autoridade da defesa, entretanto, disse: "Não havia ordem de segredo da Casa Branca" em relação ao posicionamento dos destróieres. Além disso, hardware militar [armas] recentemente posicionado não foi retirado, ao passo que o exercício combinado em grande escala dos EUA-Coreia do Sul, “Foal Eagle”, no degrau da porta da Coreia Popular, continua sem interrupção [37].

Apesar das afirmações de que está amortecendo suas ações, a Administração Obama está fazendo o oposto. Autoridades dos EUA dizem que não pretendem entrar novamente em combate com a RPDC [38]. A dissuasão sob medida e a cadeia de destruição estão em programação acelerada, colocando a Península Coreana à beira da guerra. Enquanto isso, os Estados Unidos trabalham arduamente para persuadir outros países a sancionarem o “Foreign Trade Bank” da RPDC e estão considerando outros meios pelos quais possam levar a Coreia Popular ao colapso econômico. Uma autoridade anônima do Departamento de Estado dos EUA observou que ainda havia espaço para a ampliação de sanções. "Não sei o que acontecerá, mas não alcançamos o limite, ainda há espaço para mais, e temos de tentar[39].

Autoridades dos EUA pediram à União Europeia para sancionar o “Foreign Trade Bank” e novas discussões são esperadas de acordo com essas linhas [40]. O Japão e a Austrália já concordaram e juntar-se-ão aos Estados Unidos no sancionamento do banco. Tanto o responsável do Departamento do Tesouro David Cohen como o secretário do Tesouro Jack Levy pediram à China para fazer o mesmo [41]. O presidente Obama fez um telefonema pessoal ao presidente chinês Xi Jinping, instando-o a sancionar o “Foreign Trade Bank” e autoridades dos EUA continuam a pressionar a China, insistindo que, se a China não "tomar posição" sobre a Coreia Popular, os EUA aumentarão suas forças militares na Ásia [42].

Essa consequência, os chineses certamente percebem: seria voltada tanto contra eles como contra a Coreia Popular. A opção que a Administração Obama está oferecendo é que os chineses possam, ou observar os Estados Unidos expandirem sua militarização da região e endurecerem o seu cerco da China, ou dobrarem-se à pressão americana e cooperarem provocando a ruína econômica da Coreia Popular. É provável que, ao escolher a última opção, os chineses venham a descobrir que os Estados Unidos não têm intenção de reduzir seu eixo central na Ásia, e a sua presença militar na região cresceria sem dificuldades.

Uma fonte diplomática revela que, quer a China concorde ou não em acompanhar os pedidos estadunidenses, o efeito sobre a economia da Coreia Popular pode ser o mesmo. "O que o governo dos EUA está é à procura de aplicar pressão psicológica sobre bancos chineses. Se bancos dos EUA evitarem transações com bancos chineses que tenham laços com bancos norte-coreanos na lista negra ou outras entidades, isso poderá levar a efeitos semelhantes àqueles das sanções do boicote secundário[43].

Sem qualquer dúvida, as autoridades e as mídias norte-coreanas têm emitido proclamações de cortar o fôlego, efetuando ações como cortar a linha telefônica militar com a Coreia do Sul; anunciando a intenção de reiniciar o reator nuclear de Yongbyon; e encerrando temporariamente o Complexo Industrial de Kaesong, o que parece exacerbar tensões de forma imprudente. Contudo, há lógica no seu comportamento. A administração Obama nunca quis negociar com a Coreia Popular e, claramente, pretende efetuar mudança de regime quando acumula sanções sobre sanções e desenvolve planos militares que ameaçam a existência da RPDC. Com efeito, ações dos EUA encorajaram a Coreia Popular a desenvolver um programa de armas nucleares como seu único dissuasor realista contra ataques, dada a tecnologia obsoleta do seu armamento convencional.

Entretanto, autoridades norte-coreanas sabem que os EUA sabem que eles não têm arma nuclear utilizável, nem têm veículo de entrega [míssil ou avião] adequado. A RPDC tem opções limitadas e, por agora, autoridades norte-coreanas aparentemente sentem que têm apenas duas opções. Podem, ou aceitar docilmente, ciclo após ciclo de punição, enquanto testemunham desamparadamente o dano crescente à sua economia e as ameaças à sua nação, ou podem reforçar a sua retórica como meio de enviar uma mensagem aos Estados Unidos. Essa mensagem é de que, se os Estados Unidos atingirem a Coreia Popular, obterão resposta mais forte do que esperam, que deveriam pensar duas vezes antes de atacar e que, quanto mais os Estados Unidos exercerem pressão, mais a RPDC resistirá.

Infelizmente, isso produz um ciclo de realimentação (feedback loop), em que, quanto mais os Estados Unidos punem a RPDC, mais fortemente os norte-coreanos resistem e, quanto mais resistem, mais punição vem a seguir. O único meio aparente de sair desse impasse é um processo de paz, mas a Administração Obama permanece obstinadamente oposta a negociações.

O analista de assuntos internacionais Chen Qi, da Universidade Tsinghua, destaca que os Estados Unidos "não respeitaram as preocupações de segurança da RPDC e que essa é a razão porque a questão nuclear na Península Coreia não foi resolvida". Chen sugere que "Washington pode querer que a questão nuclear de Pyonyang seja resolvida porque proporciona uma desculpa para a instalação de sistemas antimísseis e penetrações militares [norte-americanas] na região, as quais alinham-se com o seu 'reequilíbrio militar' no Extremo Oriente[44] . As autoridades dos EUA, deveria ser mantido em mente, nunca esconderam o seu desejo de provocar mudança de regime na Coreia Popular, sem se importarem com os perigos dessa política.

Uma mudança na política estadunidense pode nunca acontecer a menos que a Coreia do Sul abra o caminho com firmeza e isso é perspectiva improvável no presente. Tal mudança pode ter de esperar cinco anos, quando a próxima eleição presidencial tiver lugar na Coreia do Sul. Isso é um longo tempo, dados os planos estadunidenses para [rapidamente] elevar tensões na Península Coreana. Se a Coreia do Sul não demonstrar liderança para uma abordagem alternativa antes disso, a questão é por quanto tempo tensões podem ferver sem transbordar uma crise perigosa.”
NOTAS

1- http://www.counterpunch.org/2012/10/18/militarizing-south-korea/
2- http://www.kpolicy.org/documents/interviews-opeds/ 121204gregoryelichmappingthefutureussk.html
3- http://www.kpolicy.org/documents/interviews-opeds/ 121204gregoryelichmappingthefutureussk.html
4- http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/53216
5- David Wright, "Markus Schiller's Analysis of North Korea's Unha-3 Launcher," All Things Nuclear, February 22, 2013.
6- Michael Elleman, "Prelude to an ICBM? Putting North Korea's Unha-3 Launch into Context," Arms Control Association, March 2013.
7- http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/5321689
8- http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/5321689
9- http://www.oosa.unvienna.org/oosa/SpaceLaw/outerspt.html
10- "DPRK Delegate Makes Speech at UN Special Committee Session," KCNA, February 23, 2013.
Stephanie Nebehay, "North Korea Blames U.S. for Tension on Peninsula," Reuters, February 27, 2013.
11- "Nuclear Test, Part of DPRK's Substantial Countermeasures to Defend its Sovereignty: KCNA Commentary," KCNA, February 21, 2013.
12- Kim Eun-jung, "S. Korea Beefs Up Integrated Air and Missile Defense," Yonhap, February 13, 2013.
Kim Hee-jin, "Military Deploys Cruise Missiles in Reaction to North," JoongAng Ilbo, February 14, 2013.
13- "S.Korea, US to Discuss Stopping NK's Nuclear Program," Dong-A Ilbo, February 21, 2013.
14- Adrian Croft, "EU to Tighten Sanctions on North Korea after Nuclear Test," Reuters, February 15, 2013.
15- Lee Chi-dong, "'Strongest Sanctions' on NK, Output of Artful U.N. Diplomacy," Yonhap, March 8, 2013.
"S. Korea Seeks U.N. Resolution with Military Means Against N. Korea," Yonhap, February 15, 2013.
Park Hyun and Park Min-hee, "US and China Butting Heads over North Korea," Hankyoreh, February 15, 2013.
16- Peter Ford, "China Agrees to Sanction North Korea, but How Far will it Go?," Christian Science Monitor, March 6, 2013.
17- Security Council SC/10934, "Security Council Strengthens Sanctions on Democratic People's Republic of Korea in Response to 12 February Nuclear Test," UN Security Council, March 7, 2013.
Park Hyun, "UN Expected to Pass Exceptionally Tough Sanctions on North Korea," Hankyoreh, March 7, 2013.
18- Rick Gladstone, "U.N. Resolution to Aim at North Korean Banks and Diplomats," New York Times, March 5, 2013.
19- Press Release, "Treasury Sanctions Bank and Official Linked to North Korean Weapons of Mass Destruction Programs," U.S. Department of Treasury, March 11, 2013.
20- Park Hyun, "New Unilateral US Sanctions Target North Korean Banks," Hankyoreh, March 14, 2013.
21- Kim Kui-kun, "North's Threat Offensive…Signing of 'ROK-US Counter Provocation Plan' Delayed," Yonhap, March 12, 2013.
22- Yi Yong-chong, "Secures Coordinates for a Commander's Office of the North; If Missile Launched Against It," JoongAng Ilbo, March 11, 2013.
23- Song Sang-ho, "Korea, U.S. Set Up Plan to Counter N.K. Provocation," Korea Herald, March 24, 2013.
24- Hong Jin-su, "U.S. Military Will Intervene Under Certain Conditions Following North Korean Provocation," Kyunhyang Shinmun, March 25, 2013.
25- Lee Chi-dong, "B-52 Bombers in Korea Show U.S. Defense Commitment: Pentagon," Yonhap, March 19, 2013.
26- Kang Seung-woo, "Nuclear Sub Joins ROK-US Joint Naval Drill," Korea Times, March 20, 2013.
27- Kim Eun-jung, "U.S. B-2 Stealth Bomber Conducts First Drill in Korea," Yonhap, March 28, 2013.
28- Paul Eckert, "U.S. Stealth Jets Join South Korea Drills Amid Saber-Rattling," Reuters, March 31, 2013.
29- "F-22 Stealth Jets Join Drills in S.Korea," Chosun Ilbo, April 2, 2013.
30- Kim Eun-jung, "U.S. B-2 Stealth Bomber Conducts First Drill in Korea," Yonhap, March 28, 2013.
Song Sang-ho, "B-2 Stealth Bombers Conduct Firing Drills on Peninsula," Korea Herald, March 28, 2013.
31- "S.Korea to Buy Bunker-Buster Missiles from Europe," Chosun Ilbo, April 4, 2013.
32- "Pres. Park Urges Preventing NK from 'Daring' to Launch Attack," Dong-A Ilbo, April 3, 2013.
"'US Organ to Take Over NK Nuke Facilities in Case of Crisis," Dong-a Ilbo, March 7, 2013.
33- Kate Brannen, "North Korea Sparks Missile Defense Upgrade in Alaska," Politico, March 15, 2013.
Phil Stewart and David Alexander, "U.S. to Bolster Missile Defenses to Counter North Korea Threat: Hagel," Reuters, March 15, 2013.
34- Julian E. Barnes and Adam Entous, "With an Eye on Pyongyang, U.S. Sending Missile Defenses to Guam," Wall Street Journal, April 3, 2013.
35- Barbara Starr, Jethro Mullen and K.J. Kwon, CNN, April 1, 2013.
36- Adam Entous and Julian E. Barnes, "U.S. Dials Back on Korean Show of Force," Wall Street Journal, April 3, 2013.
37- Kevin Baron, "Who Exactly Ordered Those Destroyers Against Korea?," The E-Ring (Foreign Policy), April 4, 2013.
38- Jay Solomon and Julian E. Barnes, "North Korea Warned," Wall Street Journal, March 29, 2013.
39- Adrian Croft, "U.S. Wants EU to Put North Korean Bank on Sanctions List," Reuters, March 25, 2013.
40- Adrian Croft, "U.S. Wants EU to Put North Korean Bank on Sanctions List," Reuters, March 25, 2013.
41- Antoni Slodkowski and Warren Strobel, "Japan, Australia to Sanction North Korean Bank as Part of U.S.-Led Crackdown," Reuters, March 26, 2013.
"U.S. Urges Nations to Cut North Korea's Financial Link," CBS News, April 5, 2013.
42- Mark Landler, "Detecting Shift, U.S. Makes Case to China on North Korea," New York Times, April 5, 2013.
43- Lee Chi-dong, "U.S. Officials Discussing Iran-Style Sanctions on N. Korea: Source," Yonhap, March 20, 2013.
44- Scott Murdoch, "Beijing Tells US to Tone Down North Korea Threats," The Australian, February 19, 2013.


FONTE: escrito por Gregory Elich, no jornal online “Counterpunch” (EUA). O autor faz parte do Conselho de Diretores do "Jasenovac Research Institute" , do "Conselho Consultivo do Korea Policy Institute e da Korea Truth Commission", autor de "Strange Liberators: Militarism, Mayhem, and the Pursuit of Profit" . Artigo traduzido e publicado pelo site “Resistir” (Portugal) e transcrito no portal “Vermelho”  (www.counterpunch.org/2013/04/09/whats-annoying-the-north-koreans)
(http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=211416&id_secao=9) [Imagens do Google, aspas, entrecolchetes e adaptações ao idioma português adotado no Brasil adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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