sábado, 20 de abril de 2013

O QUE A “THE ECONOMIST” NÃO DIZ SOBRE A INFLAÇÃO

Crítico do Banco Central do Brasil e do que chama de “interferência” do governo de Dilma Rousseff, o semanário [direitista, braço na mídia do mercado financeiro internacional] britânico esquece de mencionar que o totem anti-inflacionário que hegemonizou o pensamento econômico desde o monetarismo de Ronald Reagan e da recentemente falecida Margaret Thatcher, está em crise. Esse totem fez toda a política econômica girar em torno de um objetivo único: a inflação. Mas hoje os próprios países centrais estão fracassando na obtenção desse objetivo ou o estão abandonando de forma deliberada.

 

A análise é de Marcelo Justo.


“Londres - “Um banco central sabe que perdeu as rédeas das expectativas inflacionárias quando se converte em objeto de piadas”. Assim começa a nota publicada na sexta-feira pelo semanário britânico “The Economist” sobre a política inflacionária brasileira. O centro das brincadeiras é o preço do tomate. “As redes sociais têm caricaturas de ladrões de banco fugindo com bolsas carregadas de tomates e ganhadores da loteria banhando-se em molho de tomate”. Segundo a revista, o serviço aduaneiro brasileiro indicou que os contrabandistas paraguaios acrescentaram tomates argentinos ao seu estoque de drogas, cigarros e produtos eletrônicos.

O semanário é muito crítico do Banco Central do Brasil e da “interferência” do governo de Dilma Rousseff. “Os preços subiram cerca de 6,6%, muito acima do objetivo oficial de 4,5%. Finalmente as zombarias obrigaram o banco a mudar de política. No dia 17 de abril, o Banco Central subiu a taxa de juro em 0,25%”. Segundo disseram ao semanário “analistas de mercado”, o atual índice de 7,5% seguirá subindo até chegar a 8,5% no final do ano.

Uma razão pela qual o Banco Central não mudou durante muito tempo as taxas de juros foi porque pensava que a pressão sobre os preços se devia a questões passageiras. Os economistas ortodoxos se sentem hoje reivindicados por suas previsões de que os ajustes automáticos feitos nos salários, alugueis, honorários profissionais e muitas outras coisas (um legado da hiperinflação do passado) iriam ter impacto generalizado nos preços”.

A análise enviesada do semanário esquece de mencionar que o totem anti-inflacionário que hegemonizou o pensamento econômicos desde o monetarismo de Ronald Reagan e da recentemente falecida Margaret Thatcher, está hoje em crise. Esse totem fez toda a política econômica girar em torno de um objetivo único: a inflação. Mas hoje os próprios países centrais estão fracassando na obtenção desse objetivo ou estão o abandonando de forma deliberada porque o consideram contraproducente.

Vejamos:

No Reino Unido, desde dezembro de 2009, não se alcança a meta inflacionária do Banco da Inglaterra de 2% anuais. Segundo indicou dia 16 de abril o Escritório Nacional de Estatísticas, a inflação em março foi de 2,8% e o Banco da Inglaterra reconheceu que terá que esperar até 2016 para poder alcançar novamente o objetivo de 2%. Dado que essa é uma promessa para o futuro que o Banco vem fazendo desde 2009 (promessa que vai esticando anualmente os prazos), suas projeções perderam credibilidade.

Nos Estados Unidos, a Reserva Federal deixou claro que seu objetivo primordial, no momento, é baixar o desemprego (7,6% em sua última medição na sexta-feira) e não a inflação (2,4%).

No Japão, a política do novo governo de Shinzo Abe é, deliberadamente, inflacionária. O Banco Central variou seu objetivo de uma inflação de 1% por outro mais importante: evitar a deflação (queda de preços que engole lucros e leva a desinvestimento e bancarrotas), corda no pescoço que a economia japonesa carrega. Segundo o economista Hamish Mc Era, editor associado do “The Independent”, todos os países centrais abandonaram a política de metas inflacionárias que a “The Economist” segue idolatrando.

As metas inflacionárias são hoje uma ferramenta que perdeu toda credibilidade. Ninguém quer dizer, mas os fatos mostram que ela foi abandonada no Reino Unido, nos Estados Unidos e Japão. A única exceção é o Banco Central Europeu (BCE)”, escreveu na sexta Mc Rae no “The Independent”.

 

Nada melhor que a exceção para confirmar os efeitos nefastos da regra. A política ultraortodoxa do Banco Central Europeu (dominado pela Alemanha que vive sob a sombra traumática da hiperinflação dos anos 20 que abriu a porta ao nazismo) fez com que se mantivessem taxas de juros altas na época prévia ao estouro de 2008 e que, mesmo nos dois anos seguintes, insistisse em fazer da inflação o objeto central de sua política. Se nos anos prévios à queda do Lehman Brothers essa política bloqueou o crescimento de muitos dos 17 países que formam a zona do euro, nos anos seguintes representou o salva-vidas de chumbo que seguiu afundando as economias.

 

As taxas, finalmente, baixaram e hoje estão em mínimo histórico, ainda que acima das registradas nos EUA e no Reino Unido. Não aconteceu nada com a inflação, mas o crescimento europeu, estagnado pela débâcle financeira e pelas dívidas fiscais que deixou, não responde. Como disse certa vez o falecido comandante Hugo Chávez, “esse não levanta nem com Viagra”.


FONTE: análise de Marcelo Justo, de Londres, publicada no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21932). [Trecho entre colchetes adicionado por este blog 'democracia&política'].

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