Por Marcos
Coimbra, na revista “CartaCapital”
“Apesar
dos esforços em contrário de alguns comentaristas, o noticiário político do mês
passado foi dos menos emocionantes dos últimos tempos. Bem que quiseram
torná-lo interessante, tentando enxergar novidades onde nenhuma havia, mas não
funcionou.
O que
terminaram por fazer foi vender gato por lebre.
A tese
inventada é que, em fevereiro, o sistema político deu a largada para a corrida
eleitoral de 2014, algo que, se tivesse efetivamente acontecido, seria um fato
relevante. Implicaria duas coisas: que não havia começado antes e que
estaríamos em campanha desde então.
Na
opinião desses analistas, PT e PSDB, cada um a seu modo, teriam “precipitado” a
eleição. Ao fazê-lo, levaram outras forças políticas a antecipar seus
movimentos tendo em vista a próxima sucessão presidencial.
Só que
nada realmente significativo aconteceu.
Do lado
do PT, a tal antecipação viria de Lula ter afirmado, na reunião de comemoração
dos dez anos de governos populares, ser Dilma candidata. Ela teria todo o
direito de disputar a reeleição e seria a favorita para vencer.
Como
diria Mino Carta, até o mundo mineral sabia disso.
Desde a
posse de Dilma, ninguém ouviu Lula afirmar algo diferente. Mais
especificamente, nunca manifestou a vontade ou a intenção de ser o candidato de
seu partido no ano que vem.
Está
claro: isso não significa que seria
impossível que o fosse, na hipótese de Dilma não querer ou não poder se
reapresentar. Contando com a preferência de dois terços do eleitorado, o
ex-presidente era, é e continuará a ser forte candidato em potencial. Só se
surpreendeu com a sua declaração quem apregoou o oposto, que Lula cultivava o
“desejo secreto” de ser o candidato do PT em 2014. Esses, supostamente capazes
de conhecer suas “motivações íntimas”, se esquecem do óbvio.
Na cultura política desenvolvida
após adotar a reeleição, nunca é demais lembrar que, por iniciativa dos
tucanos, que pretendiam permanecer no poder por muitos anos, apenas o
administrador fracassado deixa de disputar o segundo mandato. Com a exceção de
Itamar Franco, apto a fazê-lo em 2002, mas que se absteve por razões
filosóficas (e assim abriu caminho para a
primeira eleição de Aécio Neves ao governo de Minas), todos os minimamente
bem-sucedidos o buscaram.
Tirar de
Dilma essa possibilidade equivaleria a considerar que faz um péssimo trabalho e
que não merece sequer a chance de pleitear a recondução.
Vendo
como as pessoas a avaliam e quão elevada é a sua aprovação, a ideia não faz
sentido. Ainda mais para quem conhece minimamente como pensa Lula. Negar a ela
o direito de se reeleger seria assumir um erro cometido ao indicá-la e a apresentá-la
ao País como gestora competente.
Ou seja,
a declaração de Lula de que Dilma é a candidata do PT em 2014 é apenas a
reiteração do evidente. Nela não houve qualquer “antecipação” da próxima
eleição.
O
segundo fato de fevereiro que nada teve de extraordinário foi o discurso do
senador Aécio Neves, com críticas ao governo e ao PT. Inusitado seria se
tivesse subido à tribuna para elogiá-los.
O
desafio do ex-governador de Minas não é afirmar-se como candidato. Por seus
méritos e muitos deméritos de seus correligionários, é a escolha natural do
PSDB.
Mas ele
não dispõe, como seus antecessores, do direito de determinar o conteúdo e os
discurso de sua candidatura. Ninguém disse a Covas, Fernando Henrique, Serra ou
Alckmin o que deveriam falar, como e para quem. Ninguém escalou seus assessores
e consultores.
A
candidatura de Aécio nasce com dois problemas. De um lado, precisa se libertar
dos radicais de direita, que na política, na sociedade e na mídia querem fazer
dele o porta-voz. De outro, precisa se livrar do engessamento do passado e da
obrigação de carregar o fardo da defesa do “legado de FHC”.
Os
paradoxos de Aécio não foram resolvidos no pronunciamento. Nele, voltou a ser o
novo que o velho pretende manter sob tutela.
Resta o
terceiro ‘não fato’ de fevereiro: o
lançamento da “Rede” de Marina Silva.
Como
todo projeto individualista, esse é outro cuja relevância só será estabelecida
pelo tempo. Hoje, parece que será pequena. Com até o PV a relutar em apoiá-la,
quantos parlamentares se disporão a segui-la? Sem eles, terá, na eleição, a
mídia de qualquer nanico.
À
distância, Eduardo Campos ficou vendo essas movimentações, rezando para que não
o esquecessem. Tampouco tinha algo a dizer.
Mas nem
Aécio, nem Marina, nem ele precisam se preocupar. Mesmo que nada façam, sempre
terão a nossa “grande imprensa” para fazer marola.”
FONTE: escrito por Marcos Coimbra, na revista “CartaCapital”.
Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/politica/marcos-coimbra-analistas-vendendo-gato-por-lebre.html). [Título modificado por este blog 'democracia&política'].
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