Por Mário Augusto Jakobskind
“Não é de hoje
que as riquezas petrolíferas brasileiras são cobiçadas pelas multinacionais do
setor. Basta lembrar que, desde a criação da empresa estatal de petróleo no
Governo Getúlio Vargas, os então chamados entreguistas fizeram de tudo para
evitar a criação da Petrobras.
Ao longo do
tempo, a 'mídia de mercado' nunca se conformou com o crescimento da empresa. No
reinado do ditador de plantão Ernesto Geisel, vieram os chamados 'contratos de
risco', que, segundo o grande nacionalista Desembargador Osny Duarte Pereira, era
a forma encontrada para que as reservas descobertas ficassem em banho maria, ou
seja, sem exploração, apenas para a utilização quando necessário pelas empresas
do setor.
O tempo passou,
mas apesar das pressões, a Petrobas se manteve. No governo do famigerado Fernando
Henrique Cardoso, fez-se de tudo para privatizar [para estrangeiros] a estatal. Houve reação dos
movimentos sociais, sobretudo das representações sindicais dos petroleiros. Mas
Cardoso conseguiu abrir o capital para acionistas de Wall Street, fazendo com
que a empresa deixasse de ser totalmente nacional. Mas com tudo isso, o Estado
continuou controlando as ações e, consequentemente, os votos nas assembleias.
O objetivo dos
que então estavam no poder era facilitar ao máximo os interesses das
multinacionais petrolíferas. O então presidente jurava por tudo que era
sagrado, mas nunca convenceu os mais atentos, de que não estava nos seus planos
a privatização da empresa. Tentar ele tentou, mas a reação foi grande e, pelo
menos, freou a estratégia.
No período,
entretanto, o governo ainda concedeu facilidades para as multinacionais. Desde
os leilões de bacias petrolíferas até a aprovação de uma legislação concedendo
a propriedade da riqueza para o grupo que estivesse fazendo a exploração do
ouro negro.
Com Lula, ocorreu
uma mudança, reforçando o poder da União, travando a facilidade na legislação
que favorecia em cem por cento as multinacionais. Desde então, volta e meia os
colunistas de sempre e os editoriais dos jornalões não se cansam em criticar a
legislação que está em vigor atualmente e vale para as riquezas do pré-sal.
Neste momento, é
preciso muita atenção por parte dos brasileiros para evitar que, em função de
problemas passageiros, as pressões aumentem e o lobby multinacional consiga que
a legislação mencionada volte atrás e permita as facilidades concedidas no
tempo de FHC.
É preciso, também, acompanhar os passos da própria presidente da empresa, Maria da Graça Foster,
se ao abrir o jogo sobre as dificuldades ela foi apenas sincera, como mencionam
os colunistas de sempre, ou abre-se um capítulo para retrocesso momentâneo.
É preciso, também, questionar o conceito de dificuldade propalado, já que a filosofia da empresa
não pode ser apenas do mercado, que só pensa no lucro dos acionistas.
É preciso estar
atento, também, ao fato de que Graça Foster estaria em adiantados entendimentos
com a mexicana Pemex e a norueguesa Statoil.
E tudo isso sob
a justificativa de investimentos para modernizar e ampliar a área de refino,
segundo o [jornal tucano] "Valor Econômico", “deslocando os recursos para a prioritária atividade
de exploração e produção de uma nova empresa que seria formada pelas refinarias
da companhia”.
Em matéria de
retrocesso, depois de a Presidenta Dilma Rousseff prometer que estavam
suspensos os leilões de petróleo na área do pré-sal, o governo acaba de
anunciar que eles serão realizados ainda este ano. Ou seja, o governo cedeu às
pressões.
Em suma: os
analistas que andam dizendo que a Petrobras está com problemas financeiros
raciocinam como se a empresa fosse privada e que só o mercado tem a receita
para geri-la. É o tipo de raciocínio que não leva em conta também a soberania
do país.
Para evitar mal ainda maior é necessário mobilização dos movimentos sociais pela
preservação da Petrobras.”
·
FONTE: escrito por Mário Augusto
Jakobskind, correspondente no Brasil
do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha
de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o
Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros,
de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. Artigo
publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/petrobras-sob-pressao).
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