Por Vinicius Wu
“O ocidente busca compreender os recentes movimentos da Coreia do Norte em meio a um mar de simplificações. A hipótese mais banal é veiculada acriticamente por diversos veículos de comunicação: Kim Jong Un seria um insano e, assim, estaria brincando com a vida de milhões de coreanos ao liderar o país como uma criança mimada a jogar videogame. Ora, temos à disposição informações suficientes para não acreditar nessa bobagem.
Os quase vinte e cinco milhões de norte-coreanos sabem perfeitamente o quanto é inútil a discussão sobre a sanidade mental de Kim Jong Un. O que eles sabem é que Un, um jovem de 30 anos, assumiu o comando do sexto maior exército do mundo e precisa dar respostas ao grave problema de abastecimento que o país enfrenta [devido às sanções da ONU impostas pelos EUA]. Mobilizar a unidade nacional e forçar uma saída negociada com os EUA e a Coreia do Sul parece ser a estratégia do regime. Se, ao final dessa escalada de agressões verbais, conseguirem negociar algum tipo de ajuda humanitária e outras formas de assistência, terão obtido uma grande vitória. Kim Jong Un, ao dar sequência ao “Songun”, política estabelecida pelo pai, Kim Jong Il, que tem como fundamento a prioridade aos interesses militares, pretende reforçar sua capacidade de debelar qualquer indício de desestabilização política interna.
A Coreia do Norte possui um dos regimes mais militarizados que a história contemporânea conhece. Perto dessa dinastia militarista, a antiga URSS fica parecendo, praticamente, uma democracia liberal. E engana-se quem acredita que os movimentos de Kim Jong Un são decorrência de algum tipo de combate ideológico frente ao ocidente e o capitalismo. É pragmatismo mesmo. O regime norte-coreano, por sinal, advoga a superação do marxismo pelo “Juche”, uma espécie de doutrina teológica que reserva ao grande “presidente imortal e eterno”, Kim Il Sung - avô de Kim Jong Un e fundador da Coreia do Norte - um lugar divino. O “Juche” foi transformado em doutrina oficial em novembro de 1970, substituindo o marxismo-leninismo. Uma das lendas “Juche” bastante conhecida na Coreia do Norte, afirma que uma estrela de brilho intenso e um duplo arco-íris apareceram nos céus do Monte Paekdu quando o grande líder Kim Il Sung nasceu neste que é o mais auspicioso feriado da Humanidade.
Pode parecer engraçado, mas discordar ou rir da história oficial pode custar a vida de um norte-coreano comum. “Juche”, em coreano, tem um significado que se aproxima de “autoestima”. Transformada em ideologia oficial, essa doutrina que, em diversos aspectos, se aproxima do corporativismo fascista, busca legitimar com apelo religioso um regime tirânico que permite a seu “Líder supremo” desperdiçar milhões de dólares com seu programa nuclear enquanto milhares de camponeses se veem obrigados a comerem cascas de arvores para matar a fome.
A retórica norte-coreana não é nova. Em 2002, após George W. Bush incluir o país entre os membros do “eixo do mal” - expressão criada pelo então Presidente dos EUA - Pyongyang já havia anunciado que “varreria da terra sem piedade seus agressores”. Não deu em nada. E agora, mais uma vez, um conflito não parece ser o objetivo real do regime, muito embora o aparente despreparo de Kim Jong Un e as incertezas sobre o comando do país possam levar o atual processo a um desfecho imprevisível no momento. Mas, de fato, há bons motivos para acreditarmos que os dirigentes norte-coreanos não optaram por uma espécie de suicido coletivo.
Os interesses da China na região, que não aceita a ideia de ter os EUA margeando suas fronteiras no caso da derrubada da dinastia norte-coreana, é um fator que os líderes militares norte-coreanos manipulam muito habilmente. O colapso da Coreia do Norte e um eventual deslocamento em massa de gente faminta em direção à grande potência asiática é outro risco que Pequim não pretende correr. E assim, Kim Jong Un segue os passos de seu pai, com uma relativa convicção de que não será atacado. O povo norte-coreano segue sofrendo as consequências de um jogo tão real quanto lamentável.
Não há nada de loucura na grandiloquência verbal de Kim Jong Un. É a tal “realpolitik”. A mesma que torna conveniente aos EUA a atual tensão na península coreana - oportunidade para ampliar sua presença militar na região. E a ONU segue impotente evitando contrariar interesses e adotando sanções cujos efeitos são sentidos unicamente pelos miseráveis confinados nos campos da distante Coreia do Norte.”
Os quase vinte e cinco milhões de norte-coreanos sabem perfeitamente o quanto é inútil a discussão sobre a sanidade mental de Kim Jong Un. O que eles sabem é que Un, um jovem de 30 anos, assumiu o comando do sexto maior exército do mundo e precisa dar respostas ao grave problema de abastecimento que o país enfrenta [devido às sanções da ONU impostas pelos EUA]. Mobilizar a unidade nacional e forçar uma saída negociada com os EUA e a Coreia do Sul parece ser a estratégia do regime. Se, ao final dessa escalada de agressões verbais, conseguirem negociar algum tipo de ajuda humanitária e outras formas de assistência, terão obtido uma grande vitória. Kim Jong Un, ao dar sequência ao “Songun”, política estabelecida pelo pai, Kim Jong Il, que tem como fundamento a prioridade aos interesses militares, pretende reforçar sua capacidade de debelar qualquer indício de desestabilização política interna.
A Coreia do Norte possui um dos regimes mais militarizados que a história contemporânea conhece. Perto dessa dinastia militarista, a antiga URSS fica parecendo, praticamente, uma democracia liberal. E engana-se quem acredita que os movimentos de Kim Jong Un são decorrência de algum tipo de combate ideológico frente ao ocidente e o capitalismo. É pragmatismo mesmo. O regime norte-coreano, por sinal, advoga a superação do marxismo pelo “Juche”, uma espécie de doutrina teológica que reserva ao grande “presidente imortal e eterno”, Kim Il Sung - avô de Kim Jong Un e fundador da Coreia do Norte - um lugar divino. O “Juche” foi transformado em doutrina oficial em novembro de 1970, substituindo o marxismo-leninismo. Uma das lendas “Juche” bastante conhecida na Coreia do Norte, afirma que uma estrela de brilho intenso e um duplo arco-íris apareceram nos céus do Monte Paekdu quando o grande líder Kim Il Sung nasceu neste que é o mais auspicioso feriado da Humanidade.
Pode parecer engraçado, mas discordar ou rir da história oficial pode custar a vida de um norte-coreano comum. “Juche”, em coreano, tem um significado que se aproxima de “autoestima”. Transformada em ideologia oficial, essa doutrina que, em diversos aspectos, se aproxima do corporativismo fascista, busca legitimar com apelo religioso um regime tirânico que permite a seu “Líder supremo” desperdiçar milhões de dólares com seu programa nuclear enquanto milhares de camponeses se veem obrigados a comerem cascas de arvores para matar a fome.
A retórica norte-coreana não é nova. Em 2002, após George W. Bush incluir o país entre os membros do “eixo do mal” - expressão criada pelo então Presidente dos EUA - Pyongyang já havia anunciado que “varreria da terra sem piedade seus agressores”. Não deu em nada. E agora, mais uma vez, um conflito não parece ser o objetivo real do regime, muito embora o aparente despreparo de Kim Jong Un e as incertezas sobre o comando do país possam levar o atual processo a um desfecho imprevisível no momento. Mas, de fato, há bons motivos para acreditarmos que os dirigentes norte-coreanos não optaram por uma espécie de suicido coletivo.
Os interesses da China na região, que não aceita a ideia de ter os EUA margeando suas fronteiras no caso da derrubada da dinastia norte-coreana, é um fator que os líderes militares norte-coreanos manipulam muito habilmente. O colapso da Coreia do Norte e um eventual deslocamento em massa de gente faminta em direção à grande potência asiática é outro risco que Pequim não pretende correr. E assim, Kim Jong Un segue os passos de seu pai, com uma relativa convicção de que não será atacado. O povo norte-coreano segue sofrendo as consequências de um jogo tão real quanto lamentável.
Não há nada de loucura na grandiloquência verbal de Kim Jong Un. É a tal “realpolitik”. A mesma que torna conveniente aos EUA a atual tensão na península coreana - oportunidade para ampliar sua presença militar na região. E a ONU segue impotente evitando contrariar interesses e adotando sanções cujos efeitos são sentidos unicamente pelos miseráveis confinados nos campos da distante Coreia do Norte.”
FONTE: escrito por Vinicius Wu, Secretário Geral de Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Transcrito no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=604.8) [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]
Nenhum comentário:
Postar um comentário