Entrevista com Carlos
Lessa [padrinho e eleitor de José Serra]
Por Eleonora de Lucena, [no
jornal de direita, tucano, “Folha de São Paulo”]
“Ex-Professor da
Presidente na Unicamp nos anos 70, economista, critica a política de energia e
dá nota 5 ou 6 para a prática da atual administração.
A presidente Dilma Rousseff é desenvolvimentista,
mas continua fazendo uma política de estabilização. Ela tem boas ideias, porém
"não tem coragem de pô-las em prática". O diagnóstico é de Carlos
Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa, ex-professor de Dilma na UNICAMP na
disciplina de economia brasileira.
Ex-presidente do BNDES (governo Lula) e ex-reitor
da UFRJ, Lessa, 76, dá nota 9 para o discurso da presidente e 6 ou 5 para a sua
prática.
Eleitor de Serra, de quem foi padrinho de
casamento, Lessa ataca a privatização [privataria tucana] no setor de energia e o modelo adotado a
partir dos anos 1990. A seguir, os principais pontos da entrevista.
MODELO BRASILEIRO
“A grande pergunta é: para onde vamos? Se tivermos mobilização nacional, um entendimento
claro de qual é o projeto nacional e coerência dos diversos personagens em
relação a isso, a possibilidade de construí-lo aumenta enormemente. Na minha
visão, o Brasil continua apostando na globalização, apesar da crise mundial
dessa globalização”.
DESNACIONALIZAÇÃO
“A desnacionalização [implantada fortemente por
FHC/PSDB] trouxe uma porção de defeitos. O mais elementar é que ela confirma
cada vez mais a dependência de suprimentos do exterior e a necessidade de
investir voltado para fora. O país fica, cada vez mais, amarrado à opção de ser
um componente da periferia mundial. Quando há desnacionalização, o país passa a
ser apenas um comprador de tecnologia, na melhor das hipóteses”.
BAIXO CRESCIMENTO
“A desnacionalização [desencadeada pelos
demotucanos] explica muitas coisas. E o setor público não investe com clareza
para apontar para onde o Brasil irá. O setor público continua prisioneiro do
"Consenso de Washington". Continua usando o modelo de metas da
inflação, apesar de os europeus já estarem abandonando esse modelo. O Brasil
continua fazendo uma política que, prioritariamente, é de estabilização, não de
desenvolvimento. Mas faz um discurso a favor do desenvolvimento”.
DILMA DESENVOLVIMENTISTA
“Foi minha aluna, é inteligente. Tem ideias, em
princípio, boas. Ela não tem coragem de pô-las em prática. Faz o enunciado, mas
não o coloca em prática. Não gosto de dar nota. Mas, em relação às coisas que
ela sugere, daria nota 9. Para o que ela faz, dou nota 6 ou 5.
Ela diz que é necessário abaixar a taxa de juros.
Concordo integralmente. Então, é preciso fazer uma política consistente para
baixar para valer. Teria que mexer na taxa de juros do BC, na dívida púbica,
tornar cada vez mais difícil essa corrida em cima dos títulos de dívida
pública.
Teria que lançar uma proposta de imposto de
exportação para poder voltar a desvalorizar o câmbio para valer. Elevar o dólar
de R$ 2 para R$ 3. É muito? Note que, no Planalto, a borrachinha de apagar e o
lápis são chineses”.
INVESTIMENTO PÚBLICO
“O investimento público sofre limitações terríveis.
Eu apostava que o petróleo ajudaria o Brasil a encontrar uma frente de
expansão. Não encontrou. Ao contrário, o que vejo é um discurso cada vez mais
duvidoso em relação à Petrobras”.
PETROBRAS
“Vejo a Petrobras vendendo refinarias no exterior,
dizendo que está perdendo dinheiro com gasolina, com gás de cozinha. Isso faz
os empresários brasileiros duvidarem de que a Petrobras tocará para a frente o
seu programa. Aí, se a Petrobras não vai, serei eu, dono da lanchonete da
esquina, que vou apostar no crescimento brasileiro?”
ENERGIA
“O Brasil vinha construindo uma estrutura
energética que era a melhor do planeta, que quase não dependia de petróleo,
carvão, gás.
Veio uma coisa surrealista: foi reduzido
espetacularmente o peso da energia elétrica dentro da matriz. Começa com
Collor, avança com Fernando Henrique e é absolutamente confirmada nos governos
Lula e Dilma”.
PRIVATIZAÇÃO
“No caso da energia elétrica, [a privatização] é um
desastre de proporções colossais [criado pelo foverno demotucano FHC]. O Brasil
tinha um dos mais baixos custos de energia elétrica do planeta. Adotou-se o
preço pela energia mais cara que está sendo produzida.
Fizeram, no Brasil, uma coisa surrealista. As
térmicas empurraram para cima de uma maneira espetacular o preço da energia
elétrica”.
EMPRESÁRIO NACIONAL
“Como se faz uma globalização e, ao mesmo tempo,
reserva os segmentos dinâmicos dessa globalização em mãos nacionais? É muito
difícil. Quando o empresário nacional é muito robusto e poderoso, pula para
fora do Brasil e tenta reproduzir o padrão das múltis bem-sucedidas.
O empresário tem a visão de empresário. Se tivessem
uma visão nacional, estariam discutindo e debatendo um projeto nacional”.
MINÉRIOS
“Os chineses não são bobos e vão desenvolver sua
própria Vale na África. Por mais algum tempo, a Vale irá muito bem, mas, a
longo prazo, ela irá mal enquanto exportadora de minério de ferro. Se
desaparecer a conexão importante com a China, o Brasil vai ficar num mato sem
cachorro.”
FONTE: entrevista de Eleonora de Lucena [no jornal de direita, tucano,
“Folha de São Paulo”] com Carlos Lessa [padrinho e eleitor de José Serra]; foi professor de Dilma na UNICAMP (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/88524-dilma-precisa-de-coragem-para-ir-do-discurso-a-pratica.shtml)
[Trechos entre colchetes adicionados por
este blog ‘democracia&política’].
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