Por Eduardo Guimarães
PROVOCAR
CÂNCER EM ALGUÉM É FÁCIL COMO TIRAR DOCE DE CRIANÇA
“Pouco depois do anúncio oficial da
morte de Hugo Chávez pelo presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro,
este acusou publicamente os Estados Unidos de estarem por trás do câncer que
acometeu o ex-presidente e, en
passant, aproveitou para atribuir à potência os cânceres que, quase
simultaneamente, atingiram vários outros presidentes sul-americanos.
Esse boato encampado pelo provável
novo presidente que os venezuelanos elegerão em semanas, porém, não é novo. Há
cerca de dois anos, especulou-se largamente sobre a estranha “coincidência” de
cinco líderes sul-americanos que não se alinham a Washington terem contraído
câncer quase simultaneamente.
Detalhando: Dilma Rousseff, Lula, o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, a
presidente argentina, Cristina Kirchner, e o próprio Chávez contraíram câncer
quase todos ao mesmo tempo.
Não foi a primeira vez que os
Estados Unidos foram acusados de cometer assassinatos políticos sem uso de
violência, apelando para a tecnologia. O ex-presidente brasileiro Jango Goulart
ou o líder palestino Yasser Arafat foram alguns entre tantos outros que se
acredita que tenham sido assassinados pelos norte-americanos dessa forma.
Nesse aspecto, o leitor Carlos
Alberto Rocha deixou comentário que, no mínimo, leva à reflexão:
“(…) O assassinato de Arafat foi abafado e contou com a
ajuda da tradição muçulmana, que não procede a autópsia dos seus mortos. Mas a
disposição de sua viúva Suha e uma criteriosa investigação da TV Al-Jazeera
levaram à descoberta do assassinato e a um pedido formal da Autoridade Nacional
Palestina para que um comitê patrocinado pela ONU proceda o desdobramento da
investigação feita por médicos suíços, que já levou à exumação do corpo do
líder palestino.
Após nove meses, um trabalho
meticuloso dos especialistas suíços e exame de roupas e objetos que Arafat usou
nos dias que antecederam sua morte – roupa, escova de dente e até seu icônico
kefiyeh que não tirava da cabeça – revelaram quantidade anormal de polonium, um
elemento radioativo raro ao qual poucos países têm acesso, ou seja, apenas os
do restrito clube atômico
(…)”
Os títeres dos EUA na imprensa e os
admiradores da potência hegemônica na sociedade civil tratam de ridicularizar a
suspeita. Sobre o câncer que acometeu um homem forte e sadio como Chávez, que
jamais adoecera gravemente em mais de cinquenta anos de vida, apegam-se a
excessos retóricos e generalizações para desmoralizar a teoria.
Nesse aspecto, os casos de Lula e
Dilma são emblemáticos. Ela contraiu câncer antes de se tornar presidente e Lula
teve a doença justamente na parte do corpo que ele mais forçou ao longo da vida
de líder sindical e político, a garganta, sendo sua voz rouca indicativa de que
pode até ter nascido com algum problema nela que se agravou pelo esforço
repetitivo. Além disso, Lula e Dilma são moderados e mantiveram e mantêm
relações civilizadas com os EUA.
Todavia, se isolarmos os casos em
que os EUA teriam interesse real em exterminar os que supostamente quem
exterminou foi o câncer, não há como descartar uma hipótese como essa.
Em primeiro lugar, alguém seria tão
cínico a ponto de afirmar que os americanos não exterminariam um líder político
que os confrontasse? Só pode ser uma piada.
Alguém se lembra do soldado
americano Bradley Manning, que entregou documentos secretos ao WikiLeaks,
sobretudo o vídeo que ficou conhecido como “Collateral Murder” [Assassinato
Colateral], em que se veem militares americanos num helicóptero assassinando
civis desarmados, dos quais dois eram jornalistas da Agência Reuters, e ferindo
duas crianças?
Chávez, não vamos nos esquecer, é o
líder político que foi à tribuna da Assembleia Geral da ONU e, ali mesmo,
declarou que o então presidente dos Estados Unidos, que acabara de precedê-lo,
havia deixado, no local, cheiro de enxofre por ser a encarnação do diabo. E que
vinha contrariando todos os interesses geopolíticos ianques, sobretudo no
Oriente Médio.
Razões para matar Chávez não
faltavam aos EUA. Se tivesse a tecnologia para instilar câncer em adversários,
matando-os sem poder ser acusado de tê-lo feito, a potência certamente não
hesitaria em usá-la.
Bem, se assim é, então vou contar um
segredinho a você, leitor: a tecnologia
para causar câncer já existe, até porque não é tecnologia, mas um efeito físico
advindo do contato humano com substâncias chamadas de cancerígenas.
Trocando em miúdos: basta bombardear
o alvo por curto período com doses de intensidade controlada de radiação para
ter quase certeza de que essa pessoa contrairá câncer. E o que é mais espantoso
é que, aqui, não se faz revelação alguma, pois esse fato é conhecido por
qualquer um.
Na mesma viagem aos Estados Unidos
em que Chávez insultou o ex-presidente George Bush filho, por exemplo,
equipamento colocado num quarto de hotel poderia bombardear o alvo por algumas
horas com doses controladas de radiação e o efeito fatalmente poderia ser o
câncer.
Dizer que uma potência que leva o
homem ao espaço e que desenvolveu os drones, que lhe permitem matar populações
inteiras à distância, não teria a tecnologia para induzir câncer em alguém, é
piada. Tecnologia há. Motivação, no caso de Chávez, havia – e muita. Se isso de
fato ocorreu, porém, é outra história.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães no
seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/03/provocar-cancer-em-alguem-e-facil-como-tirar-doce-de-crianca-2/).
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