terça-feira, 17 de maio de 2011

ENTREVISTA COM FERNANDO HADDAD

"É colocar carro na frente dos bois", diz Haddad sobre Prefeitura de SP

HÁ SEIS ANOS NO COMANDO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, FAVORITO DE LULA PARA DISPUTAR O CARGO DIZ QUE DEBATE É PREMATURO, MAS NÃO DESCARTA CONCORRER

Por Mônica Bergamo, na Folha

O ministro da Educação, Fernando Haddad, é o candidato preferido de Lula para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2012. O ex-presidente defende o lançamento de um nome "novo" e palatável para a classe média paulistana e vê no ex-auxiliar o nome certo para a missão. Com seis anos no cargo, Haddad, que sofre resistência de setores do PT na cidade, afirma que o debate sobre a candidatura é "prematuro" e uma ideia "de difícil execução". Que ele, no entanto, não chega a descartar.

Na semana passada, o ministro recebeu a “Folha” em Brasília para uma entrevista. Abaixo, os principais trechos:

-O senhor está no ministério há seis anos. Pensa em sair para novos desafios?

Fernando Haddad -
Em 2007, lançamos o ‘Plano de Desenvolvimento da Educação’, com uma série de metas. E concluímos o mandato do presidente Lula cumprindo o que foi compromissado. É natural que haja sensação de missão cumprida.

Então, no ano passado, a minha perspectiva não era permanecer. Mas, à luz de conversas com o presidente Lula e, sobretudo, com a presidenta Dilma, já eleita, resolvi ficar. Já é difícil dizer não para um presidente; para dois, é quase impossível. E ela nos colocou um desafio estimulante na área de educação profissional e do ensino médio, que me reanimou. O PRONATEC [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico] será uma das marcas importantes do governo Dilma.

-Mas ela queria mesmo ou o senhor foi da cota do Lula?

Olha... Aí é uma pergunta que eu não fiz a ela. Nem poderia. Mas eu entendo que a presidenta Dilma evidentemente respeita muito a opinião do presidente Lula, mas não faria algo de que não estivesse convicta.

-Já houve relatos de que ela estaria insatisfeita com ministros, entre eles o senhor.

Num determinado momento, foi apresentado a ela -não por nós- um pequeno relatório dessas notas plantadas na imprensa por fontes anônimas. Na ocasião, ela deu entrevista para o jornal "Valor" desmentindo as notícias e reafirmando o apoio ao seu ministério de maneira bastante definitiva.

-O senhor é candidato a prefeito de São Paulo, como deseja o ex-presidente Lula?

Nós temos hoje, aqui no ministério, projetos muito complexos, como o PRONATEC. Antecipar um debate como esse, para mim, aqui no MEC, é muito difícil. E no PT de SP não faltam candidatos. Tem a ex-prefeita Marta Suplicy, que eu considero a mais preparada para pleitear o cargo, tem o ministro Aloizio Mercadante, tem jovens militantes petistas emergentes.

-Mas o senhor não descarta.

Eu... Eu não estou discutindo essa questão. Eu não estou dizendo que não. Eu estou dizendo é que o MEC é desafio e que a presidenta Dilma nos deu uma missão que nos animou.

Então, eu acho que é discussão, em primeiro lugar, prematura. E, no contexto de São Paulo, é colocar o carro na frente dos bois.

Não estou com a atenção voltada para essa questão, embora chegue ao meu conhecimento a simpatia que o presidente Lula tem.

-Quando Lula fala sobre isso, o que o senhor responde?

[Rindo] Digo para ele que eu acho complexa a ideia, de difícil execução.

-E ele?

Ele ri.

-Já o PT não gosta do senhor?

Eu não sei, sinceramente. Eu não sei te responder. Não sei nem se é verdade isso. Eu conheço a opinião do PT por notas anônimas em jornais. E eu não posso confiar porque ninguém se apresenta. Eu quero crer que não tenha ninguém... Como é que eu vou me pronunciar sobre isso? Não tem como.

-O PT tem dificuldades com parte da classe média, especialmente em SP.

Na polêmica que envolveu o artigo do Fernando Henrique Cardoso sobre a questão da classe média, alguns jornais fizeram questão de frisar que o PT também tinha interesse nesse segmento. E ficou muito claro que o PT quer ampliar o seu eleitorado sem abdicar do povão. A sinalização [de FHC] era de quase desistência de disputar o voto das camadas populares, o que não cai bem num partido que se diz social-democrata. A oposição está numa encruzilhada. Um de seus integrantes [Jorge Bornhausen] já disse que ela está sem líder. Outro [José Serra], que está sem rumo. Não é só o sucesso do governo que explica isso. E aí eu entro num tema, que é o da relação da oposição com a mídia. A parte mais doutrinária da imprensa -estou falando da mais doutrinária, não de toda a imprensa- prestou mais serviços ao governo do que à oposição.

-Como assim?

O governo melhora com a crítica da imprensa. E ela exerceu esse papel no governo Lula como eu nunca vi. Ponto para a imprensa. E ponto para o governo, que soube reagir e terminar bem avaliado. Acuada, a oposição, em vez de buscar compreender o que acontecia na sociedade e disputar o voto do eleitor, preferiu se abrigar nesse guarda-chuva doutrinário, mais conservador, que lhe parecia seguro. E essa situação demonstrou ser muito ineficiente do ponto de vista da disputa eleitoral. Na campanha presidencial, o candidato da oposição disse que o Banco Central não é a Santa Sé. A reação dessa imprensa doutrinária foi tão forte que ele foi obrigado a realinhar o discurso. E aí não ficou com uma, mas com duas Santas Sés: o BC e a igreja. Veja a armadilha que se criou. Esse exemplo é paradigmático.

-Falta mão de obra qualificada no Brasil. Vocês governam há oito anos. Não faltou ver isso antes?

Faltou ver bem antes, eu diria. E nós vimos. Tanto é que dobramos as vagas nas federais e estamos triplicando as vagas nos institutos que formam técnicos. Em dez anos, triplicamos o número de graduados no país, multiplicamos por mais de dois o número de técnicos formados.

-Mas não foi suficiente.

Essa sensação de falta de mão de obra qualificada vai se diluir no tempo. Nós estamos num ritmo em que oferta e demanda vão se encontrar logo adiante.

-E a qualidade? Indicadores como o PISA [exame que avalia estudantes de vários países] mostram o Brasil em 53º lugar entre 65 nações pesquisadas.

Em 2000, nós ficamos em último lugar no PISA. Em uma década, superamos 15 países. O Brasil foi o terceiro em evolução. Em nove anos, reduzimos à metade a distância que nos separava do México. Superamos países com mais tradição que a nossa, como a Argentina, que não teve a metade dos nossos problemas históricos, de escravidão, patriarcalismo. E tem a questão federativa. Veja os EUA, também federativo: é o maior PIB do mundo e está em 30º lugar no PISA. Uma coisa é a educação num Estado unitário, como a França. Outra é num país com a dimensão do nosso e a autonomia dos Estados. Aqui, o MEC só tem papel indutivo, nós não temos gestão sobre a rede.

-Há uma questão polêmica em São Paulo que é a política de bônus para professores, por desempenho das escolas ou notas deles em uma prova. O que o senhor acha?

Nós definimos metas de qualidade para cada escola e para cada rede em 2007. E deixamos a critério dos entes estabelecerem as estratégias para o atingimento das metas. Era a oportunidade de transformar o Brasil num laboratório de experiências pedagógicas e de políticas educacionais. Com várias estratégias, os Estados têm cumprido as metas, inclusive SP. Mas teve um sinal amarelo agora no SARESP [avaliação estadual] porque a nota caiu. Não vejo chance de uma política de bônus dar certo contra os professores. E eu tenho tido notícias de que tem havido da parte do governo do Estado mais abertura para ouvir a categoria. Todo mundo defende a política de promoção por mérito. A questão são os termos, se você vai promover pela avaliação dos alunos, pela prova do professor. É um bom debate.”

RAIO-X: FERNANDO HADDAD

FORMAÇÃO: Graduação em direito (1985), mestrado em economia (1990) e doutorado em filosofia (1996) pela Universidade de São Paulo

OCUPAÇÃO: Ministro da Educação dos governos Lula (2005-2010) e Dilma

ELEIÇÕES: É o candidato preferido de Lula para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2012, mas [segundo a tucana “Folha”] enfrenta resistência no PT”.

FONTE: reportagem de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1605201115.htm) [imagem do Google e entre colchetes adicionados por este blog].

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