Por Eduardo Guimarães
“A vontade política e eleitoral dos
povos da América Latina jamais constituiu empecilho aos arreganhos golpistas de
uma elite branca, rica e de extrema direita que infecta a região sob orientação
farta e bem-paga desde Washington, e o episódio da prorrogação ou não da posse
de Hugo Chávez só faz comprovar tal premissa.
Há semanas que vimos lendo, vendo e
ouvindo porta-vozes dos donos da grande mídia pretendendo ministrar ao povo
venezuelano lições de como lidar com um valor que aqueles a quem esses mesmos
porta-vozes servem tantas vezes conspurcaram em passado não tão distante.
Querem, “apenas”, ensinar o país vizinho a exercer a própria democracia.
Tudo porque a vontade eleitoral
majoritária jamais impediu que esses mesmos brasileiros que clamam por
“democracia” na Venezuela defendessem por aqui que a vontade eleitoral desse
povo fosse relativizada por “iluminados” que saberiam melhor do que ele o que é
melhor para si.
Nesse episódio do adiamento da posse de
Chávez, portanto, em nenhum momento você leu, ouviu ou assistiu a algum
articulista, editorialista, comentarista de tevê ou de rádio se dando ao
trabalho de perguntar o que o povo venezuelano pensa disso tudo.
A mídia faz isso porque sabe que a
lógica induz à premissa de que o que a maioria daquele povo quer é que aquele a
quem há poucos meses elegeu não perca o mandato por conta de mera interpretação
da constituição que, inclusive, pode ser contestada, pois a premissa primeira
de qualquer democracia deve ser a valorização do voto popular.
Se uma maioria de quase oito milhões de
venezuelanos (ou 54% do eleitorado daquele país) elegeu Chávez há três meses em
uma campanha em que seu estado de saúde foi o principal assunto explorado por
seu principal adversário, essa mesma maioria por certo concordará em esperar um
pouco mais antes de ver aquele que elegeu perder o mandato.
Esses porta-vozes [no Brasil] de
multimilionários controladores de grandes e vastas concessões públicas de rádio
e televisão ou de veículos impressos nos quais são despejadas arcas incontáveis
de dinheiro público, então, desandaram a chamar a Venezuela de “ditadura”
porque a Justiça do país levou em consideração a vontade do povo.
Os “barões da mídia” e aqueles
porta-vozes, porém, tratam de exercer em seus jornais, revistas, rádios,
televisões e portais de internet a mais completa censura a qualquer um que
divirja deles como divergiu a maioria dos governos sul-americanos – o do Brasil
incluído – no que diz respeito a estar ocorrendo alguma violação da democracia
venezuelana.
A Venezuela é, sim, uma democracia.
Alguma eleição foi fraudada? Não. Todas, desde 1999, foram referendadas por
legiões de observadores internacionais. Ponto.
Se as eleições todas na Venezuela não
foram fraudadas, aquele povo continua querendo Chávez. A decisão sobre sua
reeleição foi tomada há três meses. Está fresca, firme e forte. Os poderes de
lá, portanto, apenas estão respeitando a vontade do povo, ainda que certos
“democratas” daqui e de lá não consigam entender.”
3 comentários:
Muito bom o texto.
Clarissa Mach,
Também achei. Por isso, aqui transcrevi. O mérito é de Eduardo Guimarães.
Maria Tereza
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