sábado, 9 de agosto de 2008

A CLASSE MÉDIA BRASILEIRA CRESCER É MÁ NOTÍCIA PARA A MÍDIA?

Anteontem, este blog postou a seguinte notícia: ”CLASSE MÉDIA BRASILEIRA DO MESMO TAMANHO DA AMERICANA”

“Pela primeira vez, a classe média representa 51,8% da população de 15 a 60 anos. Desde abril de 2002, são mais cinco milhões nessa condição, conclui Marcelo Neri, da FGV. Ele aponta o aumento do emprego com carteira assinada como a principal causa.

Outra pesquisa, do Ipea, mostra que aumentos reais do salário mínimo e políticas sociais reduziram em três milhões o total de pobres desde 2002.

Com os novos dados, a classe média brasileira ficou do mesmo tamanho da americana, informa Merval Pereira (O Globo).”

Hoje, li no blog “Direto da Redação” um texto de Mair Pena Neto. Ele publicou o interessante artigo abaixo transcrito, onde analisa o porquê de a grande mídia esconder ou tirar valor das boas notícias sobre o Brasil nos últimos seis anos. O autor trabalhou na Globo, no Jornal do Brasil e na Agência Estado. Atualmente, trabalha na agência Reuters.

"COISA BOA É NOTÍCIA?

Levado ao pé da letra, o aforismo de Millôr Fernandes de que jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, pode gerar equívocos na profissão, como evitar notícias positivas ou minimizá-las por serem provenientes de fontes oficiais. Tal reflexão decorre da observação de como os principais jornais do país trataram a notícia de que a classe média passou a ser maioria no Brasil.

Proveniente de duas instituições respeitáveis, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a informação era jornalisticamente a mais importante e merecedora da manchete principal do dia, como fizeram O Estado de S. Paulo (Classe média já é maioria no Brasil) e Jornal do Brasil (A vez da classe média).

Mas parece ter havido uma tentativa de ocultá-la ou reduzi-la, talvez por ocorrer em um governo não muito bem visto por boa parte da mídia nacional. O Globo colocou-a na dobra superior, mas preferiu dar manchete a um tema abordado apenas em sua coluna econômica. Apesar de destinar três páginas à cobertura dos dois estudos, com o uso de recursos gráficos, personagens e entrevistas, o que caracteriza sua relevância, o jornal carioca enfatizou a divergência entre os institutos sobre as causas da melhora econômica, quando o mais importante era o fato em si.

A Folha de S. Paulo saiu com uma manchete local (Mapa da violência revela áreas mais perigosas de SP) e colocou os estudos em apenas uma coluna sob o discreto título “Mobilidade social reduziu desigualdade, aponta FGV”.

Jornalismo não é relações públicas, mas o compromisso com o fato que interessa à opinião pública, seja oficial ou não. E o fato de que o Brasil passou a ser um país de classe média é indiscutivelmente da maior relevância jornalística por qualquer critério que se queira examiná-lo.

O jornalista tem o dever de tentar revelar o que o poder oculta, seja ele o Estado, a corporação ou a confederação esportiva. Mas isso não significa não destacar avanços políticos, econômicos e humanitários. Se fosse esse o critério, não se daria manchete para o fim de uma guerra ou uma conquista da medicina por se tratar de notícia boa.

Mais preocupada com escândalos, que muitas vezes têm pouco fôlego apesar de todo o esforço midiático, a imprensa brasileira escorrega no seu compromisso de bem informar, quando nada na hierarquização das notícias."

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