Li hoje no blog “Por um novo Brasil” o seguinte artigo de Candido Mendes. O autor é membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, presidente do "senior Board" do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade:
“Lula permanece nas regras do jogo quando, num acenar de mãos, poderia alterar as normas, na certeza da torrencial aprovação popular
Mais nos adiantamos no ano, mais se evidencia essa realidade política inédita do Brasil de agora. Os mais de 80% do apoio presidencial continuam indenes num comando presidencial que, ao mesmo tempo, se mantém por inteiro nas regras do jogo democrático. Inclusive é por essa fidelidade que despertou a admiração do presidente norte-americano, Barack Obama, à saída da reunião do G-20.
Lula permanece nas regras do jogo quando, num acenar de mãos, poderia alterar as normas constitucionais, na certeza da torrencial aprovação popular.Esse reconhecimento lá fora só salienta o contraste com Chávez e a triste consolidação da presidência perpétua do venezuelano, que só se reforça, mais e mais, com a violência crescente do regime, na eliminação paulatina dos adversários.
O potencial político de nosso presidente continua assentado na remuneração simbólica do "Lula-lá" e da gratificação inédita que tem todo brasileiro, saído do nada, nesses últimos anos, ao se reconhecer no topo do Planalto. Não avaliamos ainda o perdurar deste trunfo do regime inédito, tanto o país dos marginalizados marcha para a crescente mobilidade social.
O importante, entretanto, é o quanto, ao lado do prêmio da cabeça, a mudança vai à pele do Brasil de fundo e se experimenta no sucesso crescente do PAC. Mal reconhecemos, ainda, os múltiplos impactos sociais e políticos do Bolsa Família, que tornam a mudança brasileira tão distinta do progressismo social-democrático, dos conta-gotas das distribuições de renda e da contabilização da carteira profissional assinada. Resulta da entrada direta na educação básica, de par com a nova malha nacional da saúde, independentemente de uma relação fixa de emprego.A melhoria do orçamento doméstico do beneficiário gera, por sua vez, novas oportunidades de trabalho com o sistema produtivo e nas suas flutuações amplas de mercado.Falta-nos avaliar o impacto da lavoura familiar dentro do PAC, em novo assento do país de fundo ao seu interior, modificando os afluxos migratórios das nossas megalópoles. De que forma o bolseiro, ciente de seus benefícios, desenvolve uma consciência reivindicatória, à margem da antiga arregimentação sindical? E qual será o seu efeito sobre os movimentos sociais do começo do governo Lula? Como medir o confronto da lavoura familiar sobre os sem-terra, no contraponto crescente entre as políticas estritas de assentamento e esse empenho de educação e produtividade, ao lado do cultivo da terra? Ou, nela, de uma presença definida em termos de aumento de produção racionalizada, diante dos antigos mercados de subsistência e do agronegócio, que desponta ao mesmo tempo que o Bolsa Família? Deparamos, em todos esses marcos, consciências reivindicantes a repercutir, a seu tempo, na colossal vaga mobilizatória do "povo de Lula". Este não se disciplinará por partidos nem pelas velhas formações sindicais da visão clássica da dita melhoria da prosperidade nacional.
O desenvolvimento sustentado passa, também, por etapas inéditas em que se decanta a percepção dessa conquista. O sucesso do governo Lula reside em ter antecipado a visão da mudança e para onde ela acena, e o presidente é o exclusivo protagonista, para transpô-lo do carisma pessoal para o programa e a sensibilização nacional pelo PAC. São etapas, lances, conquistas ainda tenras sobre a promessa global. Mas esse sucesso tem hoje, antes de tudo, um pedagogo e um prazo curto para trazer ao estuário comum o povo de Lula.
Esse avanço ultrapassa a pessoa e se encarna no conteúdo de programa, no rumo à frente. Qualquer candidatura pode empolgar, ganhar a certeza da travessia. A mudança tem as surpresas da nova maturidade do Brasil que desperta, a partir da escolha de 2002, mais que um voto, uma opção. E o povo de Lula sabe, de vez, o que não quer.”
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