Li hoje no site “Vermelho” a seguinte entrevista com Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do Fundo para o Brasil, América Latina e Caribe, realizada pelo “Portal Amanhã”:
“Em meio à crise econômica global, a maior desde o crash de 1929, o Brasil vira a página, quita sua histórica dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e se dispõe a contribuir com recursos, passando de devedor a credor da instituição. E isso significa uma grande mundança para o Brasil. Quem afirma é ninguém menos do que o brasileiro que atualmente mais entende de FMI: Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do Fundo para o Brasil, América Latina e Caribe.
O economista conversou com o Portal Amanhã durante o 9º Congresso Mundial de Viagem e Turismo (WTTC), realizado em Florianópolis (SC), e que encerrou neste final de semana. Na opinião de Batista, o Brasil será um dos primeiros países a superar a crise, ao lado de China e Índia. Para isso, o diretor do FMI baseia-se principalmente nos fundamentos da economia brasileira, como o controle da inflação e a solidez do sistema financeiro.
Veja a entrevista:
PORTAL AMANHÃ - COMO O SENHOR ENXERGA O POSICIONAMENTO DO BRASIL ANTE A CRISE?
O Brasil tem pontos fortes, que levam a crer que o país poderá sair desta turbulência antes de muitos outros. A balança de pagamentos e a situação das contas públicas são boas; o sistema financeiro é sólido e a inflação está abaixo do centro da meta. O grande problema que enfrentamos desde o fim do ano passado é a queda brusca na taxa de crescimento. O desafio agora é promover uma retomada deste crescimento. A economia brasileira estava numa espécie de boom de investimentos, que foi interrompido por um choque externo bastante violento. Só agora essa situação internacional parece começar a melhorar. A situação dos fundamentos econômicos brasileiros não é ruim, então há uma expectativa positiva em relação ao país, apesar de 2009 ainda não ser um ano bom.
PORTAL AMANHÃ - POR QUE O BRASIL NÃO ESTÁ SOFRENDO TANTO NESTA CRISE QUANTO NAS ANTERIORES?
O Brasil é traumatizado com crises e, desta vez, não se deixou levar durante a fase do boom da economia global, na primeira metade da década. Até 2007, por exemplo, o Brasil foi mais cauteloso do que países da Europa Oriental. Não que estejamos imunes, evidentemente, mas de uma maneira geral os países mais experientes em crises, como os latino-americanos e os asiáticos, estão indo melhor.
PORTAL AMANHÃ - A TENDÊNCIA, ENTÃO, É DE QUE ESTAS REGIÕES SE RECUPEREM MAIS RAPIDAMENTE?
É. Alguns países, inclusive, continuam crescendo bem, como a China e a Índia. Acho que o grande problema está na Europa Oriental, a meu ver, a região mais afetada.
PORTAL AMANHÃ - COMO O SENHOR ENXERGA O FATO DE O BRASIL TER SE TORNADO CREDOR DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL?
Sou suspeito para falar sobre isso, porque me considero um devedor nato, hereditário e até inadimplente. Então, ainda não me ajustei a essa condição de credor. O Brasil anunciou que vai dar uma contribuição ao FMI, mas, que eu saiba, ainda nem definiu o montante e nem a modalidade. Tudo indica que esse fato inédito na nossa história vai acontecer, e o Brasil será credor do FMI. Em meio à maior crise dos últimos 70 anos, isso mostra que alguma coisa mudou. Assim, o Brasil se coloca em outro patamar; nossa influência é maior. Estar na diretoria-executiva do FMI hoje, representando o Brasil, é bem diferente do que era dez anos atrás, quando o governo brasileiro ‘passava o pires'.
PORTAL AMANHÃ - COMO O BRASIL PASSA A SER VISTO NO CENÁRIO EXTERNO?
Quando cheguei no FMI, em 2007, para compor a diretoria do Fundo, o que me chamou atenção foi o fato de que o prestígio do Brasil na instituição era maior do que entre os próprios brasileiros. Desde então, tenho notado que os brasileiros estão cada vez mais positivos em relação ao Brasil, apesar da crise. Ao contrário do que se esperava, a crise - que é gravíssima na Europa e nos Estados Unidos - não teve efeitos devastadores no Brasil. O país não apenas deixa de pedir recursos ao FMI como está se dispondo a contribuir. Isso causa um certo espanto até pra mim, mas é claro que é positivo. Esta é, na realidade, uma forma de o país aplicar reservas. A intenção é fazer com que a contribuição brasileira seja tratada de uma maneira que tenha liquidez, ou seja, que possa ser sacada em caso de necessidade.”
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