sexta-feira, 6 de maio de 2011

O ESTADO TEM DE INTERVIR NO ÁLCOOL? TEM, E VEJA PORQUE


Por Brizola Neto, no Tijolaço

“A nossa imprensa, sempre dedicada a desinformar e a fazer “campanhas” contra a Petrobras, não conseguiu, em semanas, fazer matéria tão esclarecedora quanto a que publicou quarta-feira (4) a agência [norte-americana de notícias] Reuters.

Com base nos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da USP, que monitora os preços do setor, o quadro fica escandaloso.

O preço do álcool anidro –aquele que é misturado à gasolina por razões técnicas e ambientais– vendido pelas usinas de cana às distribuidoras subiu. Entre 21 de janeiro e 20 de abril acumulou alta de 122 por cento. Passou de R$ 1,22 para R$ 2,72.

Com a alta, quem tinha condições de processar álcool anidro –o processo é diferente da produção, pois há adição de cal virgem para reduzir a presença de água– correu para o que dava mais lucro.

Nesse período, o preço do anidro representou uma vantagem média de 65% sobre o hidratado.

Como o preço do anidro alto empurra para cima o preço da gasolina que o contém, mesmo a Petrobras não alterando o preço da gasolina em suas refinarias (que se manteve em R$ 1,05), o valor nas bombas subiu.

E se a gasolina sobe, o álcool hidratado sobe atrás porque, ficando mais cara a gasolina, sobe a sua demanda [além disso, sua oferta diminuiu].

E como a frota de carros –e de carros flex– aumentou e carro não anda sem combustível, a ponta da procura estava garantida.

Tudo, portanto, é um jogo de opções por preços. Menos o efeito disso na economia em geral e na do cidadão em particular.

Agora, o preço do álcool está baixando. Nas usinas, mas não nos postos.

E vai cair mais. Por isso, as distribuidoras compram apenas o necessário à demanda de curto prazo, porque sabem que, amanhã, vão comprar mais barato. Nada de estoques, portanto.

O quadro que estamos vivendo hoje –com reflexos severos em toda a economia, como mostraram os dados do IBGE– é resultado da liberdade que as usinas têm de produzirem o quanto quiserem de cada produto (acrescente aí o açúcar, outra opção) e das distribuidoras de administrarem seus estoques ao bel-prazer das conveniências financeiras.

A medida provisória assinada por Dilma Rousseff, que passa a tratar o álcool como o que ele é (combustível) e não mais como outro produto agrícola qualquer, dá poderes à ANP para entrar nessa roda.

Pode estabelecer cotas, controlar a produção de cada produto processado, medir estoques das distribuidoras, limitá-los na safra ou fixá-los volumes mínimos nos períodos em períodos críticos como os de hoje.

Embora a MP esteja em vigor, não se teve notícia de nenhuma ação da ANP.

E nós, que vergonha, dependemos que uma agência de notícias estrangeira se interesse em desvendar as razões do aumento de preço dos combustíveis. A nossa prefere ficar batendo na Petrobras, pressionando por aumento de preço pela empresa e torcendo, torcendo muito, para isso fazer estourar a inflação e desgastar Dilma.”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado no seu blog “Tijolaço”
(http://www.tijolaco.com/o-estado-tem-de-intervir-no-alcool-tem-veja-porque/).

Nenhum comentário: