sexta-feira, 6 de maio de 2011

PORTUGAL NO PURGATÓRIO


Fechado o pacote de socorro financeiro com o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia, Portugal entra em rota ainda mais recessiva, que deve durar até 2013.

É o que se depreende das condições aceitas pelo país, quebrado pela crise financeira de 2008, para receber o empréstimo de € 78 bilhões (R$ 185 bilhões). O acordo implica, ao menos, dois anos de contração de cerca de 2% do PIB, queda maior do que a prevista anteriormente pelo FMI. O desemprego deve ir além de 12%, contra 8% nos anos pré-crise.

As contas portuguesas se deterioraram profundamente nos últimos três anos. Desde 2008, a dívida pública saltou de 58% para 79% do PIB (o teto para países da zona do euro é 60%). O déficit público aumentou de 3,1% do PIB para 9,1% (o limite europeu é 3%).

Para pôr as contas em ordem e evitar calote na dívida, que afetaria os bancos dos países mais ricos da Europa, Portugal arcará com ajuste pesado. Preveem-se medidas estruturais para aumentar a produtividade da economia, e não somente cortes de gastos públicos.

Foram exigidas privatizações equivalentes a 5 bilhões, incluindo empresas de transporte (como a TAP), energia e seguros. Salários do setor público serão congelados, e impostos sobre a venda de carros e cigarros serão aumentados. O seguro-desemprego será pago por, no máximo, 18 meses (metade do prazo atual), e as indenizações para trabalhadores demitidos serão reduzidas.

O socialista José Sócrates, premiê demissionário desde que a oposição lhe negou, em março, a aprovação de um plano de austeridade, disse que o acordo preserva interesses de Portugal. Comparado aos pacotes para Irlanda e Grécia, o principal abrandamento seria o ritmo mais lento no cronograma de redução do déficit público.

Ao fim do purgatório, espera-se que Portugal não necessite recorrer a algum calote (esse caminho de reestruturação da dívida já parece inevitável, em médio prazo, no caso da Grécia). Apesar de até a oposição conservadora prometer apoio ao pacote, o efeito eleitoral é menos previsível e será aferido no pleito geral de 5 de junho.”

FONTE: publicado na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0505201102.htm) [imagem do Google adicionada por este blog]

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