segunda-feira, 9 de maio de 2011

Bresser-Pereira: “CHINA - COPIAR SEM SE SUBMETER”


“Escrevo este artigo ainda sob o impacto que me causou a viagem à China. Quando escrevi minha última coluna nesta ‘Folha’, há duas semanas, eu havia visto apenas Pequim, que já me impressionara, mas o espanto começou quando cheguei a Xian, antiga capital do Império Chinês onde foi descoberto o exército de terracota que o imperador que unificou a China em 221 AC mandou enterrar junto com ele.

É cidade de 7,5 milhões de habitantes. Uma cidade em construção. No caminho do aeroporto moderníssimo para o centro da cidade, vi centenas de imensos prédios sendo construídos. Quase todos de 35 andares com quatro apartamentos por andar de cerca de 90 m2 e ar condicionado central.

Nas demais cidades médias que visitei, Guilin, Hangzhow, e na grande Xangai, novamente desenvolvimento econômico espantoso: grandes e modernos aeroportos, estradas muito boas, avenidas largas e arborizadas, cidades radicalmente renovadas, estação de trens bala conjugada com aeroporto e metrô em Xangai, automóveis caros e novos nas ruas, grandes lojas de todas as grifes mundiais, e prédios de escritório belíssimos, mais impressionantes do que os de Chicago.

Nada é mais moderno que a China que eu vi. Literalmente, destruiu tudo o que era de pouco valor e reconstruiu de acordo com lógica iniciada pelo Japão no final do século 19 e retomada pela China na segunda metade do século 20: copiar sem se submeter; modernizar tudo sem aceitar "conselhos" dos mais modernos.

Para superar a humilhação sofrida no século 19, quando foram submetidos ao imperialismo ocidental, esses dois grandes povos compreenderam que era preciso copiar as instituições e a tecnologia ocidentais, ou seja, que era preciso fortalecer a nação, dotá-la de Estado moderno, realizar a revolução industrial e garantir o bom funcionamento de mercados regulados -as quatro condição de uma estratégia nacional de desenvolvimento ou de competição internacional.

Fiquei tão impressionado com o desenvolvimento econômico chinês (não o político) que decidi fazer um cálculo: quantas vezes cresceram China e Brasil entre 1980 e 2010?

Dado um crescimento anual do PIB, de 10,06 % na China e 2,55% no Brasil, a renda brasileira cresceu 1,3 vezes (pouco mais que dobrou) enquanto que, em 2010, a chinesa era 16,7 vezes maior do que em 1980!

Nos últimos dez anos, o Brasil melhorou seu desempenho, mas enquanto na China a taxa anual de crescimento da indústria é hoje de 32% (!), no Brasil vemos lenta desindustrialização e a consideramos "natural". Antes [anos 90], vítimas do complexo de inferioridade colonial, nos curvávamos à Inglaterra e à França, depois, aos Estados Unidos, agora nos curvamos à China: aceitamos como "destino" fornecer-lhe ‘commodities’.

Quando digo que poderíamos crescer a taxa duas vezes maior se tivéssemos estratégia nacional de desenvolvimento, se decidíssemos (principalmente, mas não apenas) administrar os juros e o câmbio como fazem os chineses, as pessoas me olham entre surpresas e desconfiadas.

É o sinal da aceitação da derrota perante concorrentes "melhores" e "mais modernos", -uma derrota que a China recusou e, por isso, assombra o mundo.”

FONTE: escrito por Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0805201115.htm) [imagem do google e entre colchetes adicionados por este blog].

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