Por Paulo Henrique Amorim
“A cidade de Sorriso é a maior produtora de soja do mundo em quantidade e qualidade.
Sorriso fica a 420 km ao Norte de Cuiabá.
Foi fundada há 25 anos, tem 60 mil habitantes e o melhor IDH de Mato Grosso.
Para chegar dali ao Porto de Paranaguá, é preciso percorrer 2.300 km.
E olha que, desde o início do ano, a BR-163 esta ótima, até Corumbá.
O problema é em direção ao Norte, na direção do ponto extremo no Pará, o porto fluvial de Santarém.
Falta asfaltar 400 km.
E a presidenta Dilma se comprometeu a concluir a obra até dezembro do ano que vem.
Corre ao lado de Sorriso um rio afluente do Tapajós: o Teles Pires.
O sonho do produtor da região –que inclui, por exemplo, a dinâmica Sinop– é fazer o transporte fluvial: Teles Pires, Tapajós, Amazonas, e o mundo.
Seria trocar os 2.400 km até Paranaguá, em cima de um caminhão –que queima óleo e polui– por 1.300 km em chatas.
O Ministério dos Transportes –o DNIT– contratou técnicos para estudar a hidrovia.
O balanço energético seria impressionante.
A mesma carga custa a metade na ferrovia do que custa na rodovia.
E na hidrovia custa 1/10 do que custa na rodovia.
Essa hidrovia não está no PAC.
Mas enfrenta, desde já, a oposição dos ambientalistas.
Segundo o produtor Claudio Zancanaro, os ambientalistas temem pelo equilíbrio da fauna e da mata ribeirinha.
(É mais ou menos assim: o tráfego de chatas no rio pode despertar os macacos).
(Como a Blá-BláRina, que quase impede a construção de Santo Antonio e Jirau por causa do acasalamento dos bagres)
Num passeio sobre a região de Sorriso, num avião Navajo do Zancanaro, é possível perceber, com facilidade:
Nao há mais espaço disponível para plantar.
Os empresários têm que investir em produtividade, em equilíbrio ecológico e naquilo que os economistas chamam de “agregar valor”.
Além de produzir e esmagar soja e milho, empacotar soja e milho sob a forma de aves e suínos.
E, progressivamente, peixes.
Lá de cima é fácil perceber como se respeita ali o equilíbrio ambiental.
As áreas de proteção ambiental, a beira dos rios, totalmente preservada.
A Blá-BláRina, ali, não abriria o bico.
Não sei como foi a ocupação, quando os gaúchos de Passo Fundo começaram a chegar ali nos anos 70 do século passado.
Devem ter feito um estrago.
Mas, aprenderam, segundo Zancanaro, que preservar o meio ambiente é preservar a si próprio, o seu negócio, o patrimônio da família.
Hoje, Sorriso é o maior produtor de suínos de Mato Grosso.
E é um negócio em expansão acelerada.
Conheci Paulo Lucion, presidente da Associação dos Criadores e Suínos de Mato Grosso, ACRISMAT.
Ele é pioneiro na produção de suínos com total autossuficiência energética.
Do próprio suíno sai o metano que faz a fazenda, a criação e a indústria girarem.
No domingo, ele embarcou para a China –a presidente acabou de abrir o mercado de suínos brasileiros para a China– com a intenção de vender suínos –e o conceito de autossuficiência energética.
(E ainda dizem que o Brasil vai ser, apenas, um exportador de commodity. Se os colonistas (*) do PiG (**) soubessem o que tem de tecnologia e pesquisa e PhD num pernil –magro– de porco com uma cervejinha estupidamente gelada … !)
Sorriso aprendeu rapido: dez caminhões de milho equivalem a três caminhões de carne.
Tudo isso se passa no cerrado, onde há duas safras por ano, por obra de brasileiros anônimos da NASA nacional, a Embrapa.
E, agora, lá de cima, ja é possível ver os tanques de viveiros de peixe –tambaqui, pintado, pirarucu-, tudo alimentado à base de soja e milho.
E muita tecnologia da Embrapa.
O que falta ?, pergunto ao Lucion e ao Zancaro.
Radicalizar a produtividade com um ganho significativo no transporte.
E qual o maior obstáculo, agora que as obras do PAC I e II começam a se materializar ?
São as ONGs , dizem os dois.
O raciocínio é de Zancanaro:
O que sai mais barato para o estrangeiro ?
Aumentar a produtividade de seu produtor ou gastar meia dúzia de trocados com as ONGs?
Financiar as ONGs e reduzir a competitividade do produtor brasileiro –claro !
É mais barato construir uma moringa de água fresca na porta do Congresso do que atualizar a agricultura americana.
O subsidio dói, aumenta o déficit americano.
Ainda mais que, progressivamente, a agricultura brasileira se torna mais competitiva que a americana.
Ali, Sorriso está em cima de uma mesa de bilhar –o Chapadão do Parecis, que vai de Paranatinga a Rondônia– o maior chapadão agriculturável do mundo, em que apenas 23% das terras estão plantadas.
Tem terra, água, sol e empresário competente.
Para abater esse pessoal de Sorriso só a golpes de chá verde.”
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, agora, contra Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
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