Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante café da manhã com jornalistas-setoristas do Palácio do Planalto - Brasília/DF
Palácio do Planalto-DF, 18 de dezembro de 2013
Presidenta: Bom dia para todos. Antes que a gente comece, eu queria desejar Feliz Natal e próspero Ano Novo, [no âmbito] pessoal e profissional, mas, sobretudo, para nós todos e para o Brasil.
Eu estava pensando que era melhor vocês começarem com perguntas, e a gente começa, aí, a entrevista. Eu aproveito uma pergunta que outro faça e encaixo a minha exposição; aí, a gente ganha tempo, porque eu tenho de ir para o almoço com os oficiais-generais [ver discurso da presidenta para os oficiais-generais nas postagens de ontem deste blog 'democracia&política']. Mas acho que vão adiar meia hora, porque senão não dá. Concordam?
Jornalista: Pode tacar ficha?
Presidenta: Pode tacar ficha. Mas, por favor, um por vez.
Ministra Helena Chagas: O microfone vai circular, quem quiser perguntar levanta o dedo e a gente vai distribuindo, tá? Uma pergunta cada um, só, não é, gente? Não pode ser quatro em um, não.
Jornalista: Presidenta, bom dia.
Presidenta: Bom dia.
Jornalista: Luciana Marques, do SBT. Presidenta, eu já vou começar...
Presidenta: Tudo bom?
Jornalista: Tudo bem, presidenta? Falando de 2014, qual candidato a senhora acha mais difícil, mais competitivo, Eduardo Campos ou Aécio Neves? Obrigada.
Presidenta: Olha, querida, na minha agenda ainda eu não cheguei nesse momento, que é o momento eleitoral, eu estou aquém dele. Então, vou permitir te dizer que eu não vou me manifestar sobre isso. E muito menos sobre essa pergunta.
Jornalista: Presidente, bom dia. Eu sou Raquel, da Agência SMA...
Presidenta: Fala mais alto.
Jornalista: Eu gostaria de saber com a senhora se, em 2014, a gente vai cumprir meta cheia de superávit, se a gente vai cumprir a meta já com previsão de abatimento. E, há algumas semanas, a ministra Gleisi – é a mesma coisa, tá, a mesma pergunta ainda – a ministra Gleisi deu uma entrevista defendendo o sistema de bandas para superávit, assim como é feito com a meta da inflação. Eu queria saber se a senhora tem simpatia a essa ideia de ter um percentual máximo e o mínimo a ser cumprido. Enfim, o mais importante mesmo é se nesse ano [2014] a gente vai cumprir a meta cheia.
Presidenta: Olha, eu acredito que o Brasil tem tido excelente desempenho nessa questão do superávit. Se a gente olhar o G20, que é o grupo das 20 economias mais desenvolvidas e fortes, o que nós vamos ver? Nós vamos ver que apenas, se eu não me engano, seis economias – é, seis, duas, quatro, seis – seis economias, elas fazem o superávit primário, e nós estamos entre as melhores. Ou a gente está no 4º ou a gente está no 5º. Primeiro, é a Arábia Saudita, com 9,3% de superávit primário; depois a Itália, com 2; depois, somos nós ou a Alemanha, disputando 1,9%, 2%, 1,8%. Porque isso é uma estimativa do Fundo Monetário, mas é uma estimativa, não fechou ainda o superávit [exato] de ninguém, né? Não fechou o ano. Mas vocês vejam que a maioria dos países não faz. Então, é muito importante que o Brasil faça o superávit. Eu estou dando esse exemplo não para dizer e para desvalorizar o fato de a gente fazer superávit; pelo contrário, é para valorizar, mostrando que nós somos uma economia que tem preocupação fiscal forte e que essa preocupação fiscal se traduz no esforço do governo federal, e também dos entes federados, no sentido de garantir superávit primário para o Brasil, mostrando que as contas brasileiras são robustas.
Nós vamos fazer uma avaliação, vamos fazer todo um processo de discussão para definir como serão as metas de 2014. Agora, nós ainda estamos fazendo o balanço de 2013, uma vez que a partir de agora é que começam a fechar todas as variáveis, vai fechar inflação, vai fechar superávit – o superávit tem aquela característica que ele fecha mesmo é no último dia 31, tanto é que há um plantão no governo durante esses períodos, porque é onde fecham as contas públicas. E eu acredito também que nós teremos boas notícias no que se refere ao investimento direto externo. Então, ao fechar todas essas variáveis, nós vamos fazer uma proposta, como sempre fazemos, todos os anos, em relação a quais são as metas de 2014. Mas, ainda, nós precisamos fazer um balanço de 2013. Do nosso ponto de vista, os indicadores demonstram situação muito melhor do que muita gente esperava. Tinha gente dizendo, e isso nos jornais, que nós iríamos fechar o ano com inflação de 7%, que as pessoas teriam de se prover de dólares, que haveria uma catástrofe. Não é isso que se está verificando. Não fechou ainda o IPCA-15 e ele vai fechar. Quando fechar o IPCA-15, nós vamos ter uma ideia de quanto fechará a inflação, mas tudo indica que ela vai fechar comportada, abaixo do ano passado. Tudo indica. Como vocês sabem, todos vocês, previsão é algo que não se faz nem de um dia para o outro, porque você corre o risco de errar. Agora, você faz previsão para quê? Para melhorar suas condições de avaliar a vida, o momento e a situação do país. Nós estamos esperando uma inflação sob controle, estamos esperando cumprir a meta do superávit que nos propusemos e, obviamente, há variáveis que não controlamos. Nós não controlamos o superávit dos entes federados. Por que nós não controlamos superávit dos entes federados? Porque a Constituição lhes atribui autonomia e independência. Acredito que a situação do Brasil neste ano de 2013 foi uma situação de mostrar bastante força diante do agravamento da crise, porque houve agravamento da crise, principalmente no início de 2013, todos nós sabemos disso. Sabemos, também, que lá por junho, todos nós vivemos isso, começou a discussão que tem uma parte que é boa e uma parte que é ruim, né? A recuperação da economia americana é ótima pra nós e para o mundo, porque começa a recuperação da economia internacional depois da mais grave crise. Essa recuperação do mercado, no mercado de trabalho, no mercado imobiliário e também na área industrial e de serviços, ela, se configura de forma sistemática e vai ensejar a saída da política expansionista, da [política] monetária expansionista. Nós não sabemos se os [US$ 85 bilhões] vão se reduzir e quanto vão reduzir. Agora, sabemos que o primeiro processo de instabilidade disso ocorreu em junho; sabemos que foi ali que o dólar se valorizou e as outras moedas se desvalorizaram, sabemos que isso provoca variação nos juros, dos "treasures", que é um elemento de definição. Agora, o que nós temos certeza é que isso é momentâneo. Há o momento de saída, o momento de turbulência, e é momentâneo. Então, a gente tem de torcer para que a economia internacional melhore, não que ela piore. Outro dia, achei muito engraçado uma fala, porque diante desse fato de sair da medida expansionista, um pessoal estava torcendo. "Uma fala" não, foi até um texto. O pessoal estava torcendo para dar errado. Eu não, estou torcendo para a economia americana crescer, para eles diminuírem de forma bastante civilizada e organizada a sua saída da política monetária; estou torcendo para Europa se recuperar e estou torcendo para China também, que está mostrando indícios que está fazendo uma inflexão, e que vai sair por um caminho de sustentabilidade; que tudo isso ocorra, porque é isso que criará cenário internacional muito melhor para todos nós, né? Nós sabemos o quanto caiu o comércio externo no mundo, prejudicando todas as economias; houve uma transmissão por esse caminho. Hoje, a gente percebe que esse processo vai mudar, e ele vai mudar lentamente, e nós queremos dizer que o Brasil está preparado para isso. Por que nós estamos preparados? Primeiro, porque, hoje, se você olhar a nossa dívida líquida sobre PIB é uma das menores do mundo também. Isso permite que a gente tenha fôlego para sair de forma sustentável desse processo; que a gente tem a inflação sob controle; que a gente tem nossas reservas; que nós temos um Banco Central com condições de operar nesse sentido de fazer essa transição ser o mais suave possível. Então, do meu ponto de vista, acho que 2013 foi o momento em que a chamada crise, que muitos economistas internacionais discutiam se era em U, se era em V, se era em W. Ela é, eu acho, que num W mais profundo para esse momento, se você olhar do ponto de vista da economia internacional como um todo. Alguma economia pode até dizer: "olha, foi pior no primeiro momento, lá em 2009". Eu acho que foi pior quando se aprofundou a crise da Europa e se combinou com a crise americana, e além disso, com redefinição da economia chinesa. E isso indica uma perna para baixo do W mais profunda.
Tudo isso mostra que, nesse período, se a gente for comparar também taxa de crescimento das economias, nós tivemos desempenho bem razoável, considerando o que acontece no resto do mundo. Esperamos que o mundo tenha outra configuração e outro perfil em 2014. Esperamos. A gente sempre tem de ter essa chamada – como é que ele dizia? Ele dizia: “pessimismo da razão e otimismo da vontade”. Aquele grande teórico italiano.
Jornalista: Bom dia. Paulo, do "Wall Street Journal". É muito comum, presidenta, ouvir a crítica de que o governo da senhora tem feito muitas intervenções na economia, e que essas intervenções, muitas vezes, são pontuais, temporárias, tiram previsibilidade e, muitas vezes, há idas e vindas, como no recente episódio do "airbag" e o freio ABS. A senhora acha que há espaço para melhorar nesse aspecto de oferecer mais previsibilidade?
Presidenta: Olha, eu acho que sempre há espaço para a gente melhorar e aperfeiçoar e ter capacidade de garantir. Quanto mais você garantir um quadro e o ambiente em que as pessoas possam se sentir mais livres para intervir, melhor. Agora, como em qualquer país do mundo, [há incertezas]. Porque vamos dizer o seguinte: nós não fizemos [como os EUA] uma intervenção do porte dos US$ 85 bilhões de dólares no mercado monetário, até porque nós não temos 85 bilhões de dólares para jogar no mercado monetário. O que eu quero dizer com isso é que os países, diante de situações graves, os governos dos países têm uma intervenção econômica. Nós também não salvamos [como os EUA], empresas automobilísticas aqui no Brasil, não foi necessário. Agora, diante da crise, os governos são levados a fazer coisas que não fazem em tempos normais e uma política anticíclica foi praticada no Brasil. Tem uma parte dela, obviamente, que vai ser permanente. Por exemplo, é permanente a redução da tributação sobre folha de pagamento. Quando a gente passou de um tipo de tributação para a do faturamento, isso vai ser permanente; levou a uma desoneração das folhas de pagamento e, portanto, uma desoneração do custo do trabalho no país. Essa é medida permanente, agora, obviamente, vocês vão me desculpar, mas tem [de haver] medidas pontuais. Por exemplo, vou usar outra vez os US$ 85 bilhões [no caso dos EUA]– os US$ 85 bilhões são uma medida pontual, eles [agora, pretendem] tirar os US$ 85 bilhões. Têm de tirar porque, quando a economia, a situação muda, você muda os instrumentos. Nós fizemos, de fato, política anticíclica. Se você me perguntar “vocês querem fazer?”, nós não temos nenhuma predileção por ficar fazendo política anticíclica, até porque ela é custosa. Quanto mais cedo nós sairmos disso, melhor para o país. Por exemplo, eu acredito que, hoje, muitas das desonerações pontuais feitas no passado não são necessárias e, portanto, não serão feitas.
Jornalista: Quais, presidenta?
Presidenta: Olha, Valdo, eu não vou ficar dizendo aqui o que vai entrar e o que vai sair. Acho que vai ter de ser avaliado pela área econômica. Não é prudente da minha parte, Valdo, não é prudente.
Jornalista: A senhora falou sobre a legislação da folha [de pagamentos]. Pela legislação, ela tem um prazo para terminar...
Presidenta: Mas eu posso lhe explicar isso de forma rápida. No início da desoneração da folha, eu não sei se vocês sabem, mas as empresas estavam temerosas, elas não sabiam o que iria acontecer, tanto é que entraram primeiro quatro, depois entrou mais uma dezena, aí foram entrando [outras] e a grande maioria dos setores queria; nós não conseguimos fazer isso naquele prazo. Então, para que a gente avaliasse, junto com as empresas, quanto tempo ficaria e não [deixar] para o infinito, nós demos um prazo. Agora, essa é uma medida que tende a ser permanente. Nós não estamos pensando em alterar a desoneração da folha.
Jornalista: Eu queria perguntar para a senhora sobre reforma ministerial, que está todo mundo ansioso para saber quando a senhora pretende fazer, se vai ser em uma etapa, se serão duas etapas, a partir de quando que a senhora está pensando fazer isso. E se o ministro Mantega, num segundo governo, se ele permaneceria com a senhora no governo. Ainda mais que, na última semana, ele fez três declarações, aí, meio atrapalhadas, que a senhora fez críticas a ele sobre as suas declarações.
Presidenta: Ô Tânia, eu não sei como fala "casca" em inglês, você sabe? Casca, uma casca de fruta. É que eu queria falar que a Sandra... desculpa, a Tânia apronta para mim "cascas de banana", mas eu queria falar em inglês para sofisticar o lance, viu, Tânia? É falar inglês: “bananas cascas”. Tânia, eu vou fazer uma reforma ministerial. Essa reforma ministerial vai ter um período; eu pretendo fazê-la de final de janeiro, metade de janeiro, até o carnaval; até o carnaval eu concluirei a reforma. Eu não tenho – ouviu, Tânia? – eu não tenho a reforma aqui e não pretendo dá-la se tivesse, porque se eu desse – aí que entra a “bananas casca” – se eu desse a minha reforma hoje, nas vésperas do Natal. Então, eu não tenho. No que se refere ao ministro Guido, pela vigésima ou trigésima vez, eu reitero que o ministro Guido está perfeitamente no lugar onde ele está.
Jornalista: Juliana, do "G1". Ontem, o Congresso aprovou, finalmente, o Orçamento, depois de muitas negociações. Eu queria saber se é um alívio para o governo ter esse Orçamento aprovado antes do final do ano, para evitar um rebaixamento do Brasil num ano eleitoral. E como que a senhora avalia a redução da previsão de crescimento do PIB, pois eles tiveram uma redução, diante da proposta que foi apresentada pelo governo. Se, de repente, a previsão deles está um pouco mais realista do que a do governo.
Presidenta: Só um comentário pequeno: se valer esse negócio de rebaixar os países pelo fato de os Orçamentos não serem aprovados, o que dizer do que acontece lá [em outros países], no caso do limite da dívida e de outras questões que já implicaram em fechamento, por um prazo determinado, do governo! Eu acho que a relação não é uma boa relação. Eu acredito que é muito importante o Congresso aprovar o orçamento. É muito bom. Sim, aprovou hoje (18) à 1h da manhã, mais ou menos. Acho muito bom isso. Acho que mostra um Congresso funcionando, mostra iniciativa também do Executivo, nós conseguimos, através de um processo de discussão, sempre é um processo de discussão, nós conseguimos aprovar o orçamento, o que para o Brasil; é muito bom. Acredito que isso permite que nós iniciemos 2014 de forma muito mais organizada. A gente não tem de fazer como fizemos no ano passado. Agora, eu queria aproveitar isso e dizer o seguinte: nós temos tido, na relação com o Congresso, uma relação muito construtiva. O Congresso tem sido grande parceiro do governo. Por exemplo, aprovamos a medida provisória dos Portos, transformando a medida provisória dos portos em lei de conversão. Nós mantivemos todas as características da medida dos portos e não tivemos vetos. Nós aprovamos o "Mais Médicos" que, durante um período, vocês lembram perfeitamente, até porque vocês redigiram, ou escreveram sobre isso, ou falaram, ou se manifestaram, vocês lembram que era uma ameaça a gente não aprovar o "Mais Médicos". Aprovamos. Aprovamos a lei que acho importantíssima, a "lei dos royalties e do excedente em óleo", que está no fundo social para a educação e saúde, que foi pra mim momento importante para o Brasil em termos de você definir macroaplicação dos recursos. Enfim, nós aprovamos varias medidas. Olha, quero dizer para vocês. Nós vivemos numa democracia, não há uma relação hierárquica entre os poderes. Há uma relação de equilíbrio: Legislativo, Executivo e Judiciário. Agora, eu também tenho de reconhecer que, em alguns casos, eles deram grandes contribuições; não é só a negociação da aprovação. Acho que deram contribuições. Nessa questão, por exemplo, que vocês não perguntaram, mas eu já falo, do "orçamento impositivo". Na questão do orçamento impositivo, o que nós conseguimos, eu acho um avanço em matéria da relação Executivo-Legislativo destinar 50% das emendas impositivas para educação, aliás, desculpa, para saúde. Estou com educação na cabeça, estou ficando fissurada nessa questão de educação. Mas quando nós destinamos isso para a saúde, o que estávamos fazendo é justamente negociação com outro padrão de qualidade com o Congresso. E quando você faz uma negociação com padrão de qualidade, tem resposta. Nós temos o compromisso de aprovar a PEC logo no início do ano, do ano legislativo. E acredito que, para o Brasil, isso será muito bom. Até porque, na PEC, eles estão colocando a importância de investir também na "média complexidade". A média complexidade é um nicho, não é bem um nicho, porque ela é bem importante no Brasil, muito delicado na área da saúde; atende milhões de pessoas. Então, complementa esse momento, essa questão dos 50% para a saúde. E outras questões mais que nós negociamos... não é toda semana, mas várias semanas, pelo menos uma semana por mês eu participo diretamente da reunião dos líderes da base na Câmara e dos líderes da base no Senado. E em outros momentos, fazemos a reunião do Conselho. É melhor fazer essa reunião separado para as pessoas poderem se manifestar mais. Quanto maior a reunião, com maior número de pessoas, menos as pessoas falam. Dá mais trabalho? Dá. Mas fica mais ágil.
E eu quero destacar uma coisa que, para mim, do ponto de vista do Congresso, é um marco: a assinatura do compromisso com a responsabilidade fiscal. Acho que mostra, da parte das lideranças da base, grande maturidade do ponto de vista do exercício da atividade legislativa. Eu creio que isso deveria ser mais destacado, porque foi um momento importante. Não faremos, ao contrário do que dizem, gastos nesse período. Não vamos fazer. É importante, nós não vamos nem ampliar despesas que não estão previstas, nem, de alguma forma, reduzir receitas fazendo benesses. Eu acho isso de uma maturidade extraordinária do Congresso brasileiro.
Jornalista: Avaliação do PIB ...
Presidenta: Querida, você já falou, mas eu respondo. Eles não protestaram, problemas deles... tá, então eu te falo.
O PIB, eu não faço previsões do PIB e acho que vocês não deveriam fazer, não, porque vocês errarim também. Outro dia, eu caí na besteira de ler uma matéria do [jornal] "Valor". Estava lá escrito no "Valor": duas consultorias - primeira página, num cantinho lá em cima – duas consultorias avaliam que é 1,5%. Eu falei: bom, consultoria. Se eles estão avaliando, é porque é, né. Eu caí nessa. Então eu sugiro que vocês não caiam. A gente... toda previsão é sujeita a tempestades, né Tânia? Toda. Então, o que acontece? Acontece o seguinte: nós temos condições de afirmar que o PIB vai ficar ali em torno de 2%, 2 e pouco. Isso nós temos condições, porque os números, praticamente, já apontam nessa direção. Se sair isso, e se você olhar os PIB do G20, você vai ver uma coisa extraordinária. O que você vai ver? Vamos ver se eu trouxe aqui o PIB do G20. Se eu não trouxe... Você vai ver uma coisa extraordinária. Você vai ver que todos, se você comparar dois anos, não precisa de comparar os de maior crescimento, 2007 e 2013 – há uma queda sistemática ... (Não, está no outro papel, não está aí não. Por favor, não está aí. Eu sei onde está, eu tenho memória visual, ele é coloridinho. É, eu tenho memória visual, está num negócio que ficou dentro do meu computador, lá em cima. Não está aqui, não estou vendo ninguém que carrega o meu computador). Bom, o que você nota? Você nota que você tem, mais ou menos, quase uma queda pela metade, para mais. Você tem uma queda do crescimento do PIB do mundo, não é o Brasil [somente que cai]. É o PIB de todos os países do mundo, mesmo aqueles que eram considerados especialíssimos. Vocês lembram que passaram três anos comparando a gente com o México; vocês lembram disso: “O México é bom, o Brasil é mau. O México é isso, o Brasil é aquilo”. O México, como todos os países do mundo - e nós não estamos querendo que o México não cresça, porque o México é parceiro nosso, queremos mais é que ele cresça porque ele vende para nós e nós vendemos para ele - teve queda. Os Estados Unidos, mesmo com essa recuperação, não estão passando de 1,5%. Ou está? Acho que não estão não. Estou olhando ali para o [jornalista do] "Wall Street". Mas acho que não está não. E você vê a mesma coisa na Europa, com exceção da Alemanha. O nosso querido presidente Hollande também está passando dificuldades; a Espanha e todos os países estão. Nós, este ano, tivemos desempenho melhor, mais acima do que tivemos em 2012. 2013, sob todos os aspectos, nós, se você olhar a comparação com os outros países do mundo proporcionalmente à nossa situação, nós nos saímos até bem. Então, eu não vou lhe dizer qual é que vai ser o PIB, nem o deste ano, tampouco do ano que vem, porque, se eu errar 0,2% na casa decimal, eu pago um pato louco. Isso eu aprendi quando eu era ministra de Minas e Energia, tá? Que eu dizia assim: “nós vamos ter de licitar este ano quatro mil MW". A gente licitava 3.820, lá ia eu para o cadafalso. Eu e o cadafalso. Então não falo isso. Por exemplo, vou dar outro exemplo de equívoco meu. Eu disse que nós iríamos universalizar o “Luz pra Todos”, e nós vamos, nós estamos na fase de universalização, que é a fase mais difícil que tem. Nós estamos tendendo à zero. Quando você tende a zero, fica por fim o que é mais difícil de fazer, e isso você pode levar dois anos para conseguir, três anos para conseguir, porque onde que está o que falta? No meio da floresta amazônica cercado de rio e árvore por tudo quanto é lado. Ou em lugares de difícil acesso e poucas pessoas. Agora, o que é importante é que este país, que quando entrei no governo em 2003 tinha, naquela época, nós usamos dados do IBGE, do censo de 2000, nós achávamos que tinha 10 milhões de pessoas, dava em torno de dois milhões de ligações. Você multiplica por cinco, naquela época se multiplica, ainda hoje na zona rural tem mais filho, né? Então, nós achávamos que havia 10 milhões, descobrimos que havia 12 milhões; depois, descobrimos que são 15 milhões. Faltam 270 mil. Aí você vai me perguntar: "você cumpriu a meta?" Cumpri sim, meus filhos. Não ter 15 milhões de pessoas, porque estamos agora nos 15 milhões e um pouquinho, não ter 15 milhões sem luz elétrica neste país faz toda diferença do mundo. É outro país. Agora, nós temos de pensar em outra coisa; porque é assim, você consegue uma meta, você pensa em outra coisa. Agora, tem de levar trifásico para esse povo, tem de mudar a qualidade do fornecimento de energia em alguns lugares, você não vai fazer isso simultaneamente. Você vai fazer isso em alguns lugares, senão você não pode fazer uma agroindústria. A vida é assim, e isso fica claro nas manifestações. As pessoas não pedem para voltar atrás; elas pedem para avançar. Elas não querem menos, elas querem mais democracia, mais inclusão, mais e melhor serviço, e é isso que acontece em qualquer país. Nós fomos lá, fizemos uma politica de transferência de renda. Uma de valorização do salário mínimo; uma de expansão; uma de aumento do emprego, e o que aconteceu? Criamos uma classe média nova. Essa classe média nova quer mais. A mãe que botou o filho, enfim, na primeira vez que nós exigimos que ela fosse lá e botasse o filho na escola, no caso, por exemplo, do "Bolsa Família", que eu acho que é o diferencial dele, a mãe agora vai querer que o filho vá para o ProUni, vai querer o filho universitário.
A questão da educação é questão fortíssima no Brasil. Acho que o Brasil, hoje, é um país, do meu ponto de vista, que tem na educação o seu grande caminho, porque, através da educação, eu estabilizo a saída da miséria e a ida para a classe média. Só através da educação que nós vamos estabilizar; e educação de qualidade, senão você não estabiliza, ou então a pessoa fica lá. Então, discutiam "porta de saída". A grande porta de saída é uma porta de entrada: é a educação.
A educação, além de ela fazer isso, ela faz com que o Brasil tenha um processo de agregação de valor, tem de apostar em ciência, tecnologia e inovação. Não há como fazer inovação se não tiver educação de qualidade no Brasil. Não há como ter educação de qualidade se não tiver creche, porque aí uma parte das crianças vão poder ...
[Interrompida com assessoramento sobre o documento com os PIB do G20, acima referido: "não é isso, não, eu só... não é isso, não. Mas eu não quero mais não, viu? Também não quero mais. Ele pegou o PIB mundial, mas pode usar, deixa ele aqui, não tem mal não, me dá ele aqui. Ele mostra que – só voltando aqui um pouquinho – esse gráfico mostra o seguinte: que o PIB mundial vem de 5,2%, em 2006; 5,3% – isso é projeção do Fundo Monetário –, 5,3% em 2007; 2008, 2,7%; 2009, -0,4%; 2010, ele vai para 5,2%; aí ele cai outra vez, 11%, 3,9% é o W; 12%, 3,2%; 13%, a projeção é 2,9%. Ele faz isso, a primeira perna é assim, aqui embaixo é 9%, sobe e cai outra vez"]
Então, para a nossa exportação, para o tráfego interno, tudo isso implica em ter um sistema ferroviário forte. Agora, nós não temos experiência nisso, é importante dizer. Nós temos uma pequena experiência de gestão de ferrovia, porque tem a MRS, a ALL, tem algumas empresas privadas na área da gestão. Estou falando o seguinte: na área da construção de ferrovias, nós vamos ter de ter mais parceiros. Nós estamos fazendo um processo de diminuição do risco do investimento ferroviário. Uma parte do risco, o risco de demanda, o Estado assume; o risco de engenharia é para o privado, mais ou menos o modelo do setor elétrico, de distribuição de risco. Nós esperamos que isso ocorra agora. Em uma parte das demais ferrovias, nós iremos também chamar o setor privado para fazer as propostas de engenharia, naquele modelo que se faz também no setor elétrico.
Mas, voltando, então, eu acho que esse é um problema que nós vamos ter de enfrentar, é essa a saída, por isso que eu gosto do PRONATEC. Vocês não estão dando atenção para o PRONATEC; um dia vocês vão dar. Mas é. Nós colocamos uma meta e fizemos uma parceria com o pessoal do "Sistema S" e da CNI. A CNI ajudou violentamente nesse processo, porque não podia fazer curso de baixa qualidade, tinha de fazer curso padrão Sistema S, padrão SENAI, padrão SENAC, padrão SENAR e padrão SENAT (o “nat” é de transporte; o SENAR é da agricultura. SENAI é indústria). Bom, quando a gente fez esse programa, uma parte é capacitação de trabalhador. Há uma parte que é capacitação do "Bolsa Família".
Nesse PRONATEC Brasil Sem Miséria, nós já formamos 850 mil pessoas. E formar 850 mil pessoas é dar condição a eles de ter uma profissão. Você forma de ajudante para tratamento de idoso, até a quantidade imensa de cabeleireiras que há neste país, não é meninas? Vocês sabem que nós somos um dos países com maior consumo na área de indústrias da beleza. E prolifera essa questão. Faz parte da inserção, eu acho, da mulher no mercado de trabalho. Não sei se vocês viram essa mulher formada no PRONATEC, era engraçadíssima, a unha era desse tamanho assim, pintada assim, toda bonita pintada, e ela era torneira mecânica. Estava se formando em torneira mecânica. Mulher vai para [o trabalho de] torneira mecânica de unha pintada. Acho que esse é um processo inclusivo. É um processo de transformação da sociedade, e daquilo que todo mundo gosta: competitividade. Se não aumentarmos e qualificarmos nossos trabalhadores, não há competitividade.
Nesse PRONATEC Brasil Sem Miséria, nós já formamos 850 mil pessoas. E formar 850 mil pessoas é dar condição a eles de ter uma profissão. Você forma de ajudante para tratamento de idoso, até a quantidade imensa de cabeleireiras que há neste país, não é meninas? Vocês sabem que nós somos um dos países com maior consumo na área de indústrias da beleza. E prolifera essa questão. Faz parte da inserção, eu acho, da mulher no mercado de trabalho. Não sei se vocês viram essa mulher formada no PRONATEC, era engraçadíssima, a unha era desse tamanho assim, pintada assim, toda bonita pintada, e ela era torneira mecânica. Estava se formando em torneira mecânica. Mulher vai para [o trabalho de] torneira mecânica de unha pintada. Acho que esse é um processo inclusivo. É um processo de transformação da sociedade, e daquilo que todo mundo gosta: competitividade. Se não aumentarmos e qualificarmos nossos trabalhadores, não há competitividade.
E aí eu entro numa questão muito cara para mim. Nós estamos conseguindo fazer as concessões que prometemos. Nós tivemos seis concessões de aeroportos ao longo do meu governo, começando lá atrás em São Gonçalo do Amarante, fazendo os três, os dois de SP e Brasília, Confins e Galeão. Fizemos as cinco rodovias viáveis, porque há rodovia que não é viável porque o local onde ela passa não é compatível com a renda. Ela exige um preço de retorno do capital, o que não bate com o que é possível supor que aquela região pague em forma de] pedágio. Então, tem umas que não são [passíveis de concessão], são obra pública, mas há outras que são. Nós achamos que acertamos o "caminho das rodovias". E vamos fazer [para ferrovias]; o tribunal aprovou, se não me engano foi ontem, ou antes de ontem. O TCU aprovou a primeira [concessão] de ferrovias. É importante fazer a primeira de ferrovias, porque, dessa forma, nós jamais fizemos licitação de ferrovias. O Brasil, um país desse tamanhão, que não tem ferrovia nesse momento. Eu falei isso numa reunião que estava o Clinton, e ele me disse que esse era um problema também a recuperação das ferrovias nos Estados Unidos, mas, no nosso caso, não é recuperação não, temos que fazer uma nova em folha. E isso vai exigir uma parte de dinheiro público e, obviamente, a capacidade da iniciativa privada. E nós vamos fazer o primeiro teste com Lucas... com Uruaçu a Lucas do Rio Verde, eles chamam de Campinorte, mas é ali perto, é junto com Uruaçu, Lucas do Rio Verde-Campinorte. E essa é uma questão estratégica para o país. Aí, nós teremos, de fato, modais. Porque sem trilho, num país dessa dimensão, vocês podem ter certeza, isso é uma questão tão grave quanto você não conservar suas rodovias. Nós não temos como sustentar o transporte de carga pelo país afora com o custo que ele tem, porque você transportar minério por rodovia é um absurdo, grãos por rodovia é outro absurdo, mesmos contêineres, grandes contêineres.
Então, para a nossa exportação, para o tráfego interno, tudo isso implica em ter um sistema ferroviário forte. Agora, nós não temos experiência nisso, é importante dizer. Nós temos uma pequena experiência de gestão de ferrovia, porque tem a MRS, a ALL, tem algumas empresas privadas na área da gestão. Estou falando o seguinte: na área da construção de ferrovias, nós vamos ter de ter mais parceiros. Nós estamos fazendo um processo de diminuição do risco do investimento ferroviário. Uma parte do risco, o risco de demanda, o Estado assume; o risco de engenharia é para o privado, mais ou menos o modelo do setor elétrico, de distribuição de risco. Nós esperamos que isso ocorra agora. Em uma parte das demais ferrovias, nós iremos também chamar o setor privado para fazer as propostas de engenharia, naquele modelo que se faz também no setor elétrico.
Eu queria dizer agora sobre os portos. Eu acho que uma das coisas mais importantes, em termos de reforma regulatória, realizada, foi portos. Para vocês terem uma ideia do tamanho disso, a quantidade de terminais de uso privado que vão ser liberados será muito significativa, um investimento em três faixas: numa faixa que é em torno de R$ 2 bilhões, que são grandes terminais de uso privado; numa outra faixa, que está entre R$ 1,750 bilhão e outra faixa de R$ 100 milhões, um pouquinho para cima. Tudo isso vai representar melhoria na estrutura de transporte portuário e de logística muito significativa. Além dos arrendamentos dos portos públicos. Mas teve um sentido na lei. O primeiro sentido era buscar a competição, mas buscar a competição permitindo que o porto privado fizesse de tudo, ele tivesse carga própria e carga de terceiros. Ele não podia ter carga de terceiros; hoje ele pode, o porto privado. Ou seja, ele pode transportar contêineres. É importante que se frise que, geralmente, é a carga mais rentável. Contêiner é de grande rentabilidade. E isso estrutura-se junto com o sistema de logística.
No caso dos aeroportos, eu quero dizer para vocês que nós contratamos pelo Banco do Brasil. A SAC – Secretaria de Aviação Civil – contratou o Banco do Brasil, e o Banco do Brasil está nos ajudando a fazer estudos de todos os aeroportos. Nós vamos licitar pátio, pista e terminal de vários pequenos aeroportos. Como são muitos, nós dividimos em algumas etapas, mas isso vai mudar também a estrutura regional dos aeroportos. Esses aeroportos não têm rentabilidade para serem privatizados, eles não dão a rentabilidade necessária, eles são necessariamente investimento público. Mas nós estamos muito interessados numa proposta de construir algo como uma "Infraero Serviços" e fazer uma associação, não no sentido do patrimônio, porque não é esse o interêsse das empresas, mas no sentido de contratar um grande administrador de aeroportos para nos auxiliar na gestão. Para dar um salto na gestão dos aeroportos, dos regionais e das cidades que têm aeroporto público. Há em Porto Alegre, Curitiba... São Paulo não. São Paulo, possivelmente, vai ter um terceiro [aeroporto]. Vocês lembram do terceiro aeroporto? Nós vamos liberar a questão de ter três aeroportos em São Paulo, mas não está claro ainda quando vai ser. Vai ser rápido, mas não sei a data.
No caso dos aeroportos, eu quero dizer para vocês que nós contratamos pelo Banco do Brasil. A SAC – Secretaria de Aviação Civil – contratou o Banco do Brasil, e o Banco do Brasil está nos ajudando a fazer estudos de todos os aeroportos. Nós vamos licitar pátio, pista e terminal de vários pequenos aeroportos. Como são muitos, nós dividimos em algumas etapas, mas isso vai mudar também a estrutura regional dos aeroportos. Esses aeroportos não têm rentabilidade para serem privatizados, eles não dão a rentabilidade necessária, eles são necessariamente investimento público. Mas nós estamos muito interessados numa proposta de construir algo como uma "Infraero Serviços" e fazer uma associação, não no sentido do patrimônio, porque não é esse o interêsse das empresas, mas no sentido de contratar um grande administrador de aeroportos para nos auxiliar na gestão. Para dar um salto na gestão dos aeroportos, dos regionais e das cidades que têm aeroporto público. Há em Porto Alegre, Curitiba... São Paulo não. São Paulo, possivelmente, vai ter um terceiro [aeroporto]. Vocês lembram do terceiro aeroporto? Nós vamos liberar a questão de ter três aeroportos em São Paulo, mas não está claro ainda quando vai ser. Vai ser rápido, mas não sei a data.
E tudo isso, eu acho que aponta num sentido de modernização grande da infraestrutura do país. Requer imensa dificuldade, porque ao fazer infraestrutura, falam “ah, mas em outros lugares é mais rápido”, não é Valdo? Lá nos outros lugares em que "é muito rápido" nós não temos de submeter os estudos à aprovação de ninguém, nesses "outros lugares". Decide fazer, não é, Valdo ... Valdo, eu levei dois anos... que dois anos o quê... foi 2003... levei quatro, no governo Lula, para fazer licitação de hidrelétrica. Nós aprendemos, Valdo, o governo tem um conhecimento, porque ninguém fazia leilão de hidrelétrica, porque também ninguém toca no assunto de hidrelétrica hoje. A quantidade – se eu não me engano – eu vi um relatório, nós fizemos um relatório que nós fizemos nove leilões de geração – eu não sei se é de geração ou de transmissão. Mas, isso eu tenho aqui e pego logo, logo para você. Então, para se fazer licitação no Brasil (são sete... são sete de geração e dez de transmissão, de onze a treze [2011 a 2013]. Mas a gente começou a fazer isso em sete, 2007. Nós já sabíamos. As outras, nós temos de olhar como é que fica). Você tem sempre de fazer uma tentativa. Há dois problemas no Brasil sérios: um problema que é projetos bons. Nós não temos, nós continuamos não tendo uma prateleira de projetos. Por quê? Como o déficit é muito grande, a gente vive correndo atrás da máquina. O déficit de investimento neste país. Vamos lembrar quando é que investiram em rodovia. Vou lembrar quando. Sabe quando? [Há décadas]. E eu estou tentando arrumar até hoje. Até hoje, nós estamos arrumando. Que é aquela federalização das rodovias. Federalizaram as rodovias e o investimento... passaram um dinheiro para fazer o investimento e o investimento, muitas vezes, não foi realizado. Até porque eu desconfio que não era muito para fazer investimento, era para "fechar o caixa". Depois disso, nós tivemos várias tentativas. Metrô, há [projeto de] metrô que tem 20 anos. Agora, nós resolvemos investir em metrô. Todos os governadores e prefeitos que investem em metrô aprenderam; eles tiveram também seu tempo de aprendizado. Porque eu não posso falar que só a gente dar o dinheiro para eles resolve o problema, não é? Eles têm de ter o projeto, fazer a licitação, arrumar, às vezes o preço sai mais alto do que eles botaram, eles têm de cancelar a licitação. Porque a lei é muito clara, ele não pode fazer se o preço estiver acima. Então, ele tem de cancelar, fazer outra, tem todo um processamento aqui no Brasil que é diferenciado em relação ao resto do mundo. Nem nos Estados Unidos, nenhum país do mundo que eu conheça, tem o [longuíssimo] regime que nós temos para investir em infraestrutura. Nenhum. Nós fizemos uma RDC debaixo de uma quantidade de crítica que “Deus te livre e guarde”. Mas fizemos o RDC. E o que é o RDC? É o direito de contratar uma obra junto com o projeto, para diminuir o prazo. Porque você contrata um projeto, leva um ano e meio; aí, depois, você licita a obra, e para licitar, leva mais um ano e meio, e já foram três. Outra coisa, mudar os padrões construtivos. Para fazer creche, hoje, nós estamos mudando os padrões construtivos. Nós estamos usando a metodologia do pré-fabricado; aí, tem vários tipos de pré-fabricado; você tem de certificar, falar “bom, esse pré-fabricado pode, aquele pode”. O Tribunal aceitou pré-fabricado para creche, não aceitou ainda pré-fabricado para outras atividades. Então, acho que nós estamos conseguindo impor, hoje - e quando falo nós, não é só o governo federal não, os estados também - impor um ritmo mais acelerado de licitação, com esses mecanismos, RDC, com o mecanismo do pré-fabricado... Para vocês terem uma ideia, uma creche levava um ano e meio a dois, com o pré-fabricado vai em oito [meses], no limite, o tempo máximo. Ninguém fala que teve em quatro [meses], porque senão todas vão ser quatro [meses]. É até oito [meses]. Pode ser em quatro [meses], pode ser em seis [meses], pode ser em sete [meses]. Mas isso é fundamental. Nós, durante uma porção de tempo, dissemos, nos anos 90, que fazer metrô era incompatível com o perfil de renda brasileiro. Metrô era para gente desenvolvida e rica, e deu no que deu. Você tem uma cidade de 11 milhões de habitantes, com 40 km, ou 45 km, ou 70 km de metrô. Eu tenho visto, por parte dos governadores, um comprometimento cada vez maior com isso. Pela primeira vez, o governo federal colocou R$ 143 bilhões para mobilidade urbana. Nós selecionamos metrô, VLT (veículo leve sobre trilho) e o chamado "Bus". É BRT, "Bus Rapid Transit". Acho que é isso. E outro dia me disseram “isso aí era o ligeirinho do Lerner”. E é o ligeirinho do Lerner, chama "Bus", que nem a descoberta do avião do nosso Santos Dumont, outro vai lá e "dá de mão" [se apropia do mérito]. Mas o ligeirinho é esse BRT. E tem também só corredor. E tem os fluviais. Ontem, no Recife, eu lancei o eixo fluvial sul. O tramo fluvial sul. Eles já fizeram o oeste, com a nossa parceria. Se eu não me engano, o norte, o norte ou o oeste. Então, há um nível de desafio, e tem um desafio que é traumatizante, que se chama saneamento. A água é mais simples. O grande problema é o esgoto sem tratamento. Mas os passos foram extraordinários se você comparar com o passado. E eu não acredito que haja tamanho volume de investimento sendo feito nessas áreas [em outros países], pelo menos nos países que eu conheço, não tem.
Jornalista: Jefferson, da agência [norte-americana de notícias] "Reuters". A senhora, quero só continuar no campo de autocrítica. A senhora falou aqui ao longo da conversa com a gente que pessimismo traz razão ...
Presidenta: "Pessimismo dá razão, otimismo dá vantagem". Antônio Gramsci.
Jornalista: Muito obrigado também por me educar. É que eu não lembrava. Ao longo dos seus anos de gestão, e olhando do ponto de vista do mercado financeiro, que não quer dizer que está certo, o governo é atacado por perda de confiança. A senhora mesmo foi mais ousada no primeiro café que teve com a gente aqui e apostou num crescimento de 4,5%. Depois de uma pergunta da Cristiana Lobo. Agora a senhora não está se posicionando, mas o governo ao longo desses anos vem fazendo algumas coisas estimulando o otimismo que faz parte do que os governos têm que fazer, que é estimular os empresários e tudo mais. Mas claramente, apesar dos resultados dos leilões, há uma desconfiança no mercado financeiro a ponto de alguém cogitar a perda da nota de investimento, ou rebaixamento dela. De alguns dizerem que, para o Brasil, o efeito cambial pode ser pior quando os EUA tirarem seus investimentos. Então, eu queria saber da senhora se a senhora acha que o governo exagerou um pouco na dose de otimismo? Inclusive, quando o Mantega se compromete com metas fiscais que não pode cumprir depois. Ou mesmo quando adotou alguma 'contabilidade criativa' para fechar as contas no ano passado. A senhora acha que teve algum exagero nessa parte? E eu gostaria só se a senhora pudesse indicar qual a maior bandeira desse governo para a senhora até agora? E qual a coisa que a senhora não conseguiu fazer até agora que acha que não vai dar tempo de terminar?
Presidenta: Bom, no que se refere ao otimismo, eu acho que é absolutamente imperdoável um governo pessimista, imperdoável. E eu gostaria muito que você me mostrasse um. A não ser algum que esteja diante da guerra, e mesmo assim eu prefiro a linha Churchill: “sangue, suor e lágrimas”, vamos até o fim, vamos derrotar, porque é assim que se ganha as coisas. No que se refere ao primeiro ano de governo, nós vínhamos de 2010, [quando] ninguém estava esperando que a crise fosse se aprofundar. Não fomos somente nós que nos equivocamos, acho que todas as previsões daquele momento se equivocaram.
No que se refere à desconfiança ou qualquer outro sentimento em relação ao Brasil, por parte de investidores internacionais, eu vou lhe dar uma coisa que me deram agora: o Banco Central acabou de divulgar novos números sobre o investimento estrangeiro direto no Brasil. Até novembro, foram US$ 57,5 bilhões. Portanto, tudo indica que nós vamos fechar o ano naquela hierarquia de investimentos diretos externos internacionais, em que os primeiros são os Estados Unidos, o segundo é a China, o terceiro Hong Kong; se somar a China com Hong Kong, nós viramos o terceiro; se você não somar, nós somos o quarto, pode ser que nós chegamos [a posições mais elevadas...], mas estaremos sempre entre os cinco, seis. US$ 57,5 bilhões é algo bastante significativo, e ninguém bota US$ 57 bilhões onde acha que a situação é muito crítica.
Além disso, eu queria lhe dizer uma outra coisa: vocês... [interrupção: Acha aqui para mim aquele outro que está... uma coisa que eu anotei, não está aí não. Eu anoto e some, gente, me desculpa]. Mas teve uma parte da sua pergunta que me interessa muito responder. É essa questão de como é que se olha o Brasil hoje. Eu acho que há tendência de muita gente, e eu temo por elas, de olhar sempre o copo meio vazio. E essa tendência de fazer isso é complicada, porque uma parte da economia é expectativa. Cada vez que você instila a desconfiança, instila uma discussão sem muito sentido, você cria um clima de expectativa muito ruim. Vou dar um exemplo, indo para o bem concreto. "Leilão de Libra". Eu passei, pelo menos, os cinco dias anteriores ao leilão de Libra pensando em que mundo estamos eu e a imprensa. Porque, no leilão de Libra, a imprensa dizia que seria uma catástrofe, que viriam os chineses se adonar dos nossos recursos, que não viria nenhuma empresa internacional. E que essa discussão sobre bisbilhotices contaminariam o leilão; enfim, que seria uma situação caótica. Ora, o leilão mostrou um dos consórcios mais fortes do mundo. Primeiro, com duas grandes empresas internacionais, que, se diga de passagem, são muito amigas dos chineses. Porque essas duas empresas chinesas, que ficaram com uma parte minoritária, cada uma com cinco, totalizando 10%. É não. Cada uma com 10%, não é? É 40% a Petrobras, 20% Shell, 20% a Total, 10% CNOOC e 10% CNPC. Mostra uma visão bastante equivocada da realidade. O leilão de Libra foi um sucesso. Um sucesso. Por que ele foi um sucesso? Porque juntou empresas fortíssimas. Primeiro, juntou a Shell, que, com a Petrobras, são responsáveis por uma das melhores tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas. A Total também, e duas das maiores petroleiras do mundo que são as duas chinesas. Que controlam o quê? Controlam os fluxos comerciais de compra e venda de petróleo, porque a China é um dos maiores compradores de petróleo, e que estavam aqui porque as outras duas também queriam os chineses. Então, ou existe uma extrema vontade de distorcer os fatos, de se autoenganar a respeito do que é esse leilão. Esse leilão implica no fato de que 85%, se contar com a Petrobras junto (se contar a Petrobras separado nós ficamos com 75% do rendimento em óleo dele), o Brasil fica com 85%. Por que empresas do porte dessas, que entendem bastante do mercado internacional do petróleo, aceitaram participar de um leilão que é 25/75. Sabe por quê? Porque ele é um alto negócio, e quem não entende desse riscado... – qual é o riscado? Mercado internacional de petróleo – se equivoca quando vai falar. Por quê? Porque também supor que alguma grande empresa internacional de petróleo, uma IOC, seja contra a parceria com os chineses é ignorar minimamente os fatos. Não só são grandes parceiras, como uma se sente extremamente confortável com a presença da outra, não há concorrência nesse caso, não tem problema nesse caso. Não se faz um consórcio sem um acordo entre parceiros, não se faz isso. Ora, veja bem, esse "Campo de Libra" é o maior leilão neste século na área de petróleo. É o maior leilão. Mesmo considerando a existência de "shale gas", nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na Argentina, em vários lugares, o "shale gas" tem vários problemas na sua extração, ele não vai acabar com a necessidade de petróleo no mundo. Não dar valor a esse fato é estarrecedor; foi o maior evento nessa área acontecido. Para mim, é surpreendente isso. Então, vocês me desculpem, mas eu acho que é uma questão relevante para o país. Relevante por conta do petróleo, relevante por conta da indústria naval, relevante por conta da destinação desse recurso para a educação. Então, vejam só, nós ressuscitamos uma indústria morta, a indústria naval. Eu ontem estava olhando a P-62. A P-62, eles compraram o casco, deram uma recauchutada no casco e montaram os "top sides" aqui, modo compressor, modo gerador, todos os equipamentos. É maior que vários campos de futebol; ficaram lá brigando se era maior que o Mineirão ou que o Maracanã, aí resolveram que junta o Mineirão e o Maracanã, era maior que os dois. Isso significa que, ali, eu estive lá, eu vi, era pó, era barro. Hoje tem um estaleiro que produz plataforma e navio, e que tem sondas e mais navios Suezmax e Aframax contratados, 19 navios, se eu não me engano. E seis sondas, se forem bem eficazes, produzirão a sétima.
Com esse leilão de Libra vão ter, no mínimo, 12 e, no máximo, 18 dessas plataformas. Cada plataforma com 5 barcos. Há uma demanda... Fora o resto que tem de fazer para poder dar conta, dar conta do que já existe. Há demanda para essa indústria fantástica. Então, esse leilão de Libra não é um episódio secundário, ele é um dos mais importantes episódios na constituição da indústria de gás e de petróleo do Brasil, na constituição da indústria naval, da indústria metalúrgica no Brasil, e da indústria que a gente pode chamar da indústria da educação.
Jornalista: A Petrobras tem sido criticada, presidente ... (inaudível)
Presidenta: Sabe que eu fico surpresa... Ah, vão é? Vão fazer isso é?
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Me desculpa, mas, "ô gente", isso não é sério, não é? Esse troço de falar que vão "reestatizar a Petrobras". A Petrobrax? A Petrobrax, você está falando da Petrobrax, vai chamar Petrobrax novamente? Sei... Não vou comentar isso. Eu discuto isso depois. Querido, [com o modelo atual, diferentemente do governo FHC/PSDB] nós somos os controladores da Petrobras, o governo é o controlador. Façam o que fizerem, nós estamos no Conselho de Administração, não tem outro jeito, nós somos os controladores, estamos lá no Conselho com os – como é que chama isso? – os minoritários, nós e os minoritários. É essa a interferência que o governo faz, prevista na "lei das SA".
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Meu querido, essa é uma questão que a Petrobras lhe responde, não eu. Agora, eu quero avisar para vocês que, de fato, eu sou contra indexação [de preços]. Eu acho que a economia brasileira tem vários problemas, vários deles nós superamos. Nós superamos aquilo que eu estou falando: problemas herdados do passado. Um deles, que era a inflação descontrolada, nós superamos; robustez fiscal, nós superamos; ter capacidade de resistir às oscilações cambiais internacionais, nós conseguimos fazer. Tem uma que nós temos de sempre olhar e cuidar: a indexação. A indexação talvez seja a memória mais forte do processo inflacionário crônico que nós vivemos ao longo dos anos 80 e 90. Indexação é algo extremamente perigoso. Então, indexar a economia brasileira ao câmbio ou a qualquer outra variável externa é uma temeridade. E eu gostaria, também, que vocês me mostrassem quem faz isso.
Jornalista: Roseann Kennedy, da rádio CBN. Presidente, eu queria saber qual a avaliação que a senhora faz da carta do Edward Snowden, se entende que aquilo é, sim, um pedido de asilo ou um apelo, um "por favor olhem para mim e me socorram". Se o governo brasileiro, no caso, se a senhora considera, de fato, a possibilidade, havendo um pedido formal, de conceder esse asilo e o que pesaria para essa decisão.
Presidenta: Olha, eu não acho que o governo brasileiro tem de se manifestar sobre algo de um indivíduo que não deixa claro, não dirigiu nada para nós. Nós não somos um órgão ao qual se faz ou se consulta ou se comunica por interpostas, de formas – você entende? – em que há intermediários. A nós, não foi encaminhado nada. Me dou completamente ao direito de não me manifestar sobre o que não foi encaminhado. Vou me manifestar como? Não me encaminharam nada, não me pediram nada e, mais do que isso, eu não interpreto cartas de ninguém. Não é minha missão.
Jornalista: Presidente, eu estou aqui a um metro de distância da senhora, disciplinadamente esperando para lhe perguntar ...
Presidenta: E eu estou aqui esperando que a senhora pergunte.
Jornalista: Por gentileza, presidente, a senhora está se encaminhado para o último ano desse mandato. Eu queria lhe perguntar, a oposição já prepara armas contra a senhora, como é do processo. Uma delas é a Petrobras. A senhora acabou de dar a resposta. Eu queria lhe perguntar: qual é a marca do seu governo até aqui? Qual é aquele programa, aquela ação, aquele feito de governo que a senhora diria: é o meu orgulho. E qual é aquele aspecto de governo, aquele aspecto da gestão que a frustra um pouco ou qual a senhora gostaria de ter mais tempo para trabalhar? Se a senhora fosse de bate-pronto responder, o que é que primeiro lhe vem à mente?
Presidenta: Essa é uma pergunta difícil, sabe por quê? Porque no governo é que nem uma família, você gosta de vários filhos. E aquele negócio que a mãe fala para a gente e tem hora que a gente fica olhando muito intrigado ou até desconfiado: “eu gosto de todos iguais”. Minha mãe sempre falava isso em relação aos seus três filhos. Eu só tive uma filha, mas eu entendo. Você gosta de formas diferentes. Eu acho que alguns programas são muito importantes. Eu tenho essa fixação na educação. Acho que é na educação que sempre eu vou querer mais, que eu acho que precisa de mais. Você dar mais atenção, você se dedicar mais. E também é do que eu tenho mais orgulho também. Mas, eu não posso deixar de te dizer que eu tenho orgulho de a gente ter sido capaz de focar a política de superação da pobreza. Acho que nós termos sido capazes de, em 2 anos e meio, tirar 22 milhões de pessoas da pobreza para mim é um orgulho. Sabe por quê? Porque demonstra maturidade e domínio do instrumento público de política. Nós pudemos fazer isso porque nós viemos de um patamar de evolução de 10 anos. Então, a gente tinha os instrumentos. Nós tínhamos o "Cadastro Único", nós tínhamos o perfil de todas as pessoas que recebiam, nós sabíamos quantos filhos tinham, nós sabíamos, enfim, todos os detalhes para poder focar a política e saber como é que é que nós iríamos reduzir. E o que nós descobrimos? Nós descobrimos que criança e jovem tinham menos proteção social do que os aposentados. Por exemplo, por conta de todas as melhorias e das evoluções e conquistas que nós tivemos na área dos aposentados.
Então, para mim, isso foi um orgulho muito grande, porque nós conseguimos ... Quando você vê que você chegou a um ponto de maturação que você consegue dominar aquela área e fazer a política que transforma. Eu considero importante a questão do "Mais Médicos". Eu acho que o "Mais Médicos" são um reconhecimento. Se vai levar 8 anos para a gente formar um medico no Brasil, seis na graduação e dois na residência, nós temos que tomar providência e aumentar o número de médicos e a formação, interiorizar a formação, garantir residência e graduação de qualidade. Agora, a população não pode esperar. Nós sabemos que não havia médico, que a distribuição de médicos no território nacional é desigual, faltam na periferia das grandes cidades, na periferia das médias, no interiorzão deste país, no Norte e no Nordeste, principalmente nas regiões de fronteira, para as populações quilombolas e para os distritos indígenas. Faltava médico, fisicamente faltava médico. Você pode ter o posto de saúde... Eu não estou dizendo que isso elimina a necessidade de hospitais, eu estou tratando de uma outra coisa, estou tratando da atenção básica que resolve 80% dos problemas de saúde que uma pessoa tem, ao longo da vida, e que se atende onde no Brasil? No posto de saúde. Mas pode atender onde também? Na casa da pessoa. Pode atender mais onde? O espaço para atendimento da atenção básica é um espaço mais simplificado. Depois você tem a UPA e depois você tem o hospital.
Eu gosto do "Mais Médicos" porque nós tomamos uma medida, conseguimos formatar uma política, que leva esse médico e esse atendimento humanizado, porque uma das coisas que as pessoas queixam, é que o atendimento médico não era humanizado. Até porque, como havia muitas pessoas para serem atendidas e poucos médicos, o médico tinha de fazer atendimento muito mais rápido, não é? Até se compreende isso. Mas não se justifica para nós, para o poder público, que ele não tome providências. Então, isso levou a uma ampliação do atendimento, uma melhoria do atendimento. O retorno dessa política é, sem sombra de dúvida, extraordinário. As pessoas comentam que melhorou o atendimento, que foi feito concretamente. Ele não significa uma opção contra os médicos brasileiros; pelo contrário, mas acho também que esses médicos que vieram, por sua solidariedade, por sua generosidade, eles merecem todo o nosso reconhecimento. E, além disso, eu acho que demonstra um padrão de atendimento que nós temos de voltar a ter também, dentro do Brasil.
Eu tenho orgulho disso, e quero dizer para você também, "mudando do saco para a mala", que eu tenho também muito orgulho de ter conseguido fazer o marco regulatório dos portos, porque eu acho que vai beneficiar o país, e as concessões. Cada real aplicado em concessão, eu acho que se transforma em crescimento do PIB, mas se transforma, sobretudo, em melhoria da vida das pessoas, porque uma coisa está ligada à outra.
Agora, se você deixar eu falar mais um tempo, eu lhe falo outras coisas, também, que eu gosto muito. Eu gosto do "Viver sem Limites", por conta da questão das pessoas com deficiência. Acho que [é importante] a gente olhar e ter um programa de governo, porque, durante muito tempo, a população brasileira teve um grau de invisibilidade muito grande. Eu não sei se vocês lembram, havia um livro do "realismo mágico", vocês lembram da época do realismo mágico? Eu sou velha, eu sou da época do realismo mágico. E tinha o "Garabombo Invisível", que era um livro de um peruano, se eu não me engano. E eu acho que uma parte do povo brasileiro, durante um período, foi tipo o "Garabombo Invisível": ninguém via ele, sabia que ele existia, mas 'in limine' não enxergava, de qualquer jeito não enxergavam mesmo. Acho que não era só o povo, acho que eram os negros, as pessoas com deficiência, mesmo nós mulheres e a violência que se recai sobre as mulheres.
Então, há alguns programas eu que eu gosto muito. Eu gosto do "Viver sem Limites", eu gosto da "Casa das Mulheres", e eu gosto de todos os programas de cotas dos negros. Por quê? Porque este país foi um país que viveu a escravidão durante muitos anos. Este país, que viveu a escravidão, quando aboliu a escravidão, manteve hierarquia da sociedade escravista,... a forma de manter a hierarquia da sociedade escravista era o racismo. E o racismo se perpetuou numa estrutura societária. Tanto é que quando a gente fala: “tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza”, pode saber que uma parte dessas pessoas, significativa, se não a grande maioria, é negra.
Então, ter uma política de cotas, no Brasil, é a forma pela qual você faz a política afirmativa. Eu sou a favor de cotas nas universidades e no serviço público. Acho que é imprescindível um país que, no senso, se declarou 50% afrodescendente, mais de 50% afrodescendente, ele tem de ser contemplado com políticas específicas. Eu sei que a política social nossa beneficia os negros. Isso ocorre no ProUni. Porque o ProUni é para estudante de baixa renda. Ocorre no FIES, para estudante de baixa renda. Ocorre em todas as políticas de valorização. Você pode olhar no PRONATEC, vai lá, você vai ver mulher e vai ver muito negro. E também vai ver jovens.
Eu quero lhe dizer que há uma política pela qual eu vou me apaixonar: é a "política de inclusão digital". Banda larga de alta capacidade no Brasil. É o meu grande desafio do futuro, que é o que você perguntou. Para mim o desafio é esse. Porque banda larga de alta capacidade junta uma porção de políticas, inclusive, a questão da educação.
Quero dizer para vocês, para encerrar, que essa é uma política que tem também uma característica forte. Um dos grandes valores que qualquer pesquisa vai mostrar para vocês, de qualquer pai, de qualquer mãe, é a educação dos filhos. E também essa valorização que o jovem tem pela capacidade, em relação à geração anterior, de dominar a internet, de pegar a internet e fazer da internet uma forma de se expressar, e um mundo próprio. Inclusive, eu acho que deu um status para o jovem, esse jovem novo da classe média que surgiu. Eu acredito que essa é uma política para além de educacional. Ela é uma política cultural, é uma política de democratização do país. Então, dar acesso à banda larga é algo fundamental. Por isso, eu lhe agradeço muito. Mas, nunca se esqueça, a gente gosta de todos os filhos.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo para vocês."
Ouça a íntegra da entrevista (1h23min51s) da Presidenta Dilma
FONTE: Blog do Planalto (http://www2.planalto.gov.br/imprensa/entrevistas/entrevista-coletiva-concedida-pela-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-cafe-da-manha-com-jornalistas-setoristas-do-palacio-do-planalto-brasilia-df-1/view). [Trechos entre colchetes introduzidos por este blog 'democracia&política' para eliminar gaguejamentos e contrações normais somente na linguagem falada].
Jornalista: Jefferson, da agência [norte-americana de notícias] "Reuters". A senhora, quero só continuar no campo de autocrítica. A senhora falou aqui ao longo da conversa com a gente que pessimismo traz razão ...
Presidenta: "Pessimismo dá razão, otimismo dá vantagem". Antônio Gramsci.
Jornalista: Muito obrigado também por me educar. É que eu não lembrava. Ao longo dos seus anos de gestão, e olhando do ponto de vista do mercado financeiro, que não quer dizer que está certo, o governo é atacado por perda de confiança. A senhora mesmo foi mais ousada no primeiro café que teve com a gente aqui e apostou num crescimento de 4,5%. Depois de uma pergunta da Cristiana Lobo. Agora a senhora não está se posicionando, mas o governo ao longo desses anos vem fazendo algumas coisas estimulando o otimismo que faz parte do que os governos têm que fazer, que é estimular os empresários e tudo mais. Mas claramente, apesar dos resultados dos leilões, há uma desconfiança no mercado financeiro a ponto de alguém cogitar a perda da nota de investimento, ou rebaixamento dela. De alguns dizerem que, para o Brasil, o efeito cambial pode ser pior quando os EUA tirarem seus investimentos. Então, eu queria saber da senhora se a senhora acha que o governo exagerou um pouco na dose de otimismo? Inclusive, quando o Mantega se compromete com metas fiscais que não pode cumprir depois. Ou mesmo quando adotou alguma 'contabilidade criativa' para fechar as contas no ano passado. A senhora acha que teve algum exagero nessa parte? E eu gostaria só se a senhora pudesse indicar qual a maior bandeira desse governo para a senhora até agora? E qual a coisa que a senhora não conseguiu fazer até agora que acha que não vai dar tempo de terminar?
Presidenta: Bom, no que se refere ao otimismo, eu acho que é absolutamente imperdoável um governo pessimista, imperdoável. E eu gostaria muito que você me mostrasse um. A não ser algum que esteja diante da guerra, e mesmo assim eu prefiro a linha Churchill: “sangue, suor e lágrimas”, vamos até o fim, vamos derrotar, porque é assim que se ganha as coisas. No que se refere ao primeiro ano de governo, nós vínhamos de 2010, [quando] ninguém estava esperando que a crise fosse se aprofundar. Não fomos somente nós que nos equivocamos, acho que todas as previsões daquele momento se equivocaram.
No que se refere à desconfiança ou qualquer outro sentimento em relação ao Brasil, por parte de investidores internacionais, eu vou lhe dar uma coisa que me deram agora: o Banco Central acabou de divulgar novos números sobre o investimento estrangeiro direto no Brasil. Até novembro, foram US$ 57,5 bilhões. Portanto, tudo indica que nós vamos fechar o ano naquela hierarquia de investimentos diretos externos internacionais, em que os primeiros são os Estados Unidos, o segundo é a China, o terceiro Hong Kong; se somar a China com Hong Kong, nós viramos o terceiro; se você não somar, nós somos o quarto, pode ser que nós chegamos [a posições mais elevadas...], mas estaremos sempre entre os cinco, seis. US$ 57,5 bilhões é algo bastante significativo, e ninguém bota US$ 57 bilhões onde acha que a situação é muito crítica.
Além disso, eu queria lhe dizer uma outra coisa: vocês... [interrupção: Acha aqui para mim aquele outro que está... uma coisa que eu anotei, não está aí não. Eu anoto e some, gente, me desculpa]. Mas teve uma parte da sua pergunta que me interessa muito responder. É essa questão de como é que se olha o Brasil hoje. Eu acho que há tendência de muita gente, e eu temo por elas, de olhar sempre o copo meio vazio. E essa tendência de fazer isso é complicada, porque uma parte da economia é expectativa. Cada vez que você instila a desconfiança, instila uma discussão sem muito sentido, você cria um clima de expectativa muito ruim. Vou dar um exemplo, indo para o bem concreto. "Leilão de Libra". Eu passei, pelo menos, os cinco dias anteriores ao leilão de Libra pensando em que mundo estamos eu e a imprensa. Porque, no leilão de Libra, a imprensa dizia que seria uma catástrofe, que viriam os chineses se adonar dos nossos recursos, que não viria nenhuma empresa internacional. E que essa discussão sobre bisbilhotices contaminariam o leilão; enfim, que seria uma situação caótica. Ora, o leilão mostrou um dos consórcios mais fortes do mundo. Primeiro, com duas grandes empresas internacionais, que, se diga de passagem, são muito amigas dos chineses. Porque essas duas empresas chinesas, que ficaram com uma parte minoritária, cada uma com cinco, totalizando 10%. É não. Cada uma com 10%, não é? É 40% a Petrobras, 20% Shell, 20% a Total, 10% CNOOC e 10% CNPC. Mostra uma visão bastante equivocada da realidade. O leilão de Libra foi um sucesso. Um sucesso. Por que ele foi um sucesso? Porque juntou empresas fortíssimas. Primeiro, juntou a Shell, que, com a Petrobras, são responsáveis por uma das melhores tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas. A Total também, e duas das maiores petroleiras do mundo que são as duas chinesas. Que controlam o quê? Controlam os fluxos comerciais de compra e venda de petróleo, porque a China é um dos maiores compradores de petróleo, e que estavam aqui porque as outras duas também queriam os chineses. Então, ou existe uma extrema vontade de distorcer os fatos, de se autoenganar a respeito do que é esse leilão. Esse leilão implica no fato de que 85%, se contar com a Petrobras junto (se contar a Petrobras separado nós ficamos com 75% do rendimento em óleo dele), o Brasil fica com 85%. Por que empresas do porte dessas, que entendem bastante do mercado internacional do petróleo, aceitaram participar de um leilão que é 25/75. Sabe por quê? Porque ele é um alto negócio, e quem não entende desse riscado... – qual é o riscado? Mercado internacional de petróleo – se equivoca quando vai falar. Por quê? Porque também supor que alguma grande empresa internacional de petróleo, uma IOC, seja contra a parceria com os chineses é ignorar minimamente os fatos. Não só são grandes parceiras, como uma se sente extremamente confortável com a presença da outra, não há concorrência nesse caso, não tem problema nesse caso. Não se faz um consórcio sem um acordo entre parceiros, não se faz isso. Ora, veja bem, esse "Campo de Libra" é o maior leilão neste século na área de petróleo. É o maior leilão. Mesmo considerando a existência de "shale gas", nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na Argentina, em vários lugares, o "shale gas" tem vários problemas na sua extração, ele não vai acabar com a necessidade de petróleo no mundo. Não dar valor a esse fato é estarrecedor; foi o maior evento nessa área acontecido. Para mim, é surpreendente isso. Então, vocês me desculpem, mas eu acho que é uma questão relevante para o país. Relevante por conta do petróleo, relevante por conta da indústria naval, relevante por conta da destinação desse recurso para a educação. Então, vejam só, nós ressuscitamos uma indústria morta, a indústria naval. Eu ontem estava olhando a P-62. A P-62, eles compraram o casco, deram uma recauchutada no casco e montaram os "top sides" aqui, modo compressor, modo gerador, todos os equipamentos. É maior que vários campos de futebol; ficaram lá brigando se era maior que o Mineirão ou que o Maracanã, aí resolveram que junta o Mineirão e o Maracanã, era maior que os dois. Isso significa que, ali, eu estive lá, eu vi, era pó, era barro. Hoje tem um estaleiro que produz plataforma e navio, e que tem sondas e mais navios Suezmax e Aframax contratados, 19 navios, se eu não me engano. E seis sondas, se forem bem eficazes, produzirão a sétima.
Com esse leilão de Libra vão ter, no mínimo, 12 e, no máximo, 18 dessas plataformas. Cada plataforma com 5 barcos. Há uma demanda... Fora o resto que tem de fazer para poder dar conta, dar conta do que já existe. Há demanda para essa indústria fantástica. Então, esse leilão de Libra não é um episódio secundário, ele é um dos mais importantes episódios na constituição da indústria de gás e de petróleo do Brasil, na constituição da indústria naval, da indústria metalúrgica no Brasil, e da indústria que a gente pode chamar da indústria da educação.
Jornalista: A Petrobras tem sido criticada, presidente ... (inaudível)
Presidenta: Sabe que eu fico surpresa... Ah, vão é? Vão fazer isso é?
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Me desculpa, mas, "ô gente", isso não é sério, não é? Esse troço de falar que vão "reestatizar a Petrobras". A Petrobrax? A Petrobrax, você está falando da Petrobrax, vai chamar Petrobrax novamente? Sei... Não vou comentar isso. Eu discuto isso depois. Querido, [com o modelo atual, diferentemente do governo FHC/PSDB] nós somos os controladores da Petrobras, o governo é o controlador. Façam o que fizerem, nós estamos no Conselho de Administração, não tem outro jeito, nós somos os controladores, estamos lá no Conselho com os – como é que chama isso? – os minoritários, nós e os minoritários. É essa a interferência que o governo faz, prevista na "lei das SA".
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Meu querido, essa é uma questão que a Petrobras lhe responde, não eu. Agora, eu quero avisar para vocês que, de fato, eu sou contra indexação [de preços]. Eu acho que a economia brasileira tem vários problemas, vários deles nós superamos. Nós superamos aquilo que eu estou falando: problemas herdados do passado. Um deles, que era a inflação descontrolada, nós superamos; robustez fiscal, nós superamos; ter capacidade de resistir às oscilações cambiais internacionais, nós conseguimos fazer. Tem uma que nós temos de sempre olhar e cuidar: a indexação. A indexação talvez seja a memória mais forte do processo inflacionário crônico que nós vivemos ao longo dos anos 80 e 90. Indexação é algo extremamente perigoso. Então, indexar a economia brasileira ao câmbio ou a qualquer outra variável externa é uma temeridade. E eu gostaria, também, que vocês me mostrassem quem faz isso.
Jornalista: Roseann Kennedy, da rádio CBN. Presidente, eu queria saber qual a avaliação que a senhora faz da carta do Edward Snowden, se entende que aquilo é, sim, um pedido de asilo ou um apelo, um "por favor olhem para mim e me socorram". Se o governo brasileiro, no caso, se a senhora considera, de fato, a possibilidade, havendo um pedido formal, de conceder esse asilo e o que pesaria para essa decisão.
Presidenta: Olha, eu não acho que o governo brasileiro tem de se manifestar sobre algo de um indivíduo que não deixa claro, não dirigiu nada para nós. Nós não somos um órgão ao qual se faz ou se consulta ou se comunica por interpostas, de formas – você entende? – em que há intermediários. A nós, não foi encaminhado nada. Me dou completamente ao direito de não me manifestar sobre o que não foi encaminhado. Vou me manifestar como? Não me encaminharam nada, não me pediram nada e, mais do que isso, eu não interpreto cartas de ninguém. Não é minha missão.
Jornalista: Presidente, eu estou aqui a um metro de distância da senhora, disciplinadamente esperando para lhe perguntar ...
Presidenta: E eu estou aqui esperando que a senhora pergunte.
Jornalista: Por gentileza, presidente, a senhora está se encaminhado para o último ano desse mandato. Eu queria lhe perguntar, a oposição já prepara armas contra a senhora, como é do processo. Uma delas é a Petrobras. A senhora acabou de dar a resposta. Eu queria lhe perguntar: qual é a marca do seu governo até aqui? Qual é aquele programa, aquela ação, aquele feito de governo que a senhora diria: é o meu orgulho. E qual é aquele aspecto de governo, aquele aspecto da gestão que a frustra um pouco ou qual a senhora gostaria de ter mais tempo para trabalhar? Se a senhora fosse de bate-pronto responder, o que é que primeiro lhe vem à mente?
Presidenta: Essa é uma pergunta difícil, sabe por quê? Porque no governo é que nem uma família, você gosta de vários filhos. E aquele negócio que a mãe fala para a gente e tem hora que a gente fica olhando muito intrigado ou até desconfiado: “eu gosto de todos iguais”. Minha mãe sempre falava isso em relação aos seus três filhos. Eu só tive uma filha, mas eu entendo. Você gosta de formas diferentes. Eu acho que alguns programas são muito importantes. Eu tenho essa fixação na educação. Acho que é na educação que sempre eu vou querer mais, que eu acho que precisa de mais. Você dar mais atenção, você se dedicar mais. E também é do que eu tenho mais orgulho também. Mas, eu não posso deixar de te dizer que eu tenho orgulho de a gente ter sido capaz de focar a política de superação da pobreza. Acho que nós termos sido capazes de, em 2 anos e meio, tirar 22 milhões de pessoas da pobreza para mim é um orgulho. Sabe por quê? Porque demonstra maturidade e domínio do instrumento público de política. Nós pudemos fazer isso porque nós viemos de um patamar de evolução de 10 anos. Então, a gente tinha os instrumentos. Nós tínhamos o "Cadastro Único", nós tínhamos o perfil de todas as pessoas que recebiam, nós sabíamos quantos filhos tinham, nós sabíamos, enfim, todos os detalhes para poder focar a política e saber como é que é que nós iríamos reduzir. E o que nós descobrimos? Nós descobrimos que criança e jovem tinham menos proteção social do que os aposentados. Por exemplo, por conta de todas as melhorias e das evoluções e conquistas que nós tivemos na área dos aposentados.
Então, para mim, isso foi um orgulho muito grande, porque nós conseguimos ... Quando você vê que você chegou a um ponto de maturação que você consegue dominar aquela área e fazer a política que transforma. Eu considero importante a questão do "Mais Médicos". Eu acho que o "Mais Médicos" são um reconhecimento. Se vai levar 8 anos para a gente formar um medico no Brasil, seis na graduação e dois na residência, nós temos que tomar providência e aumentar o número de médicos e a formação, interiorizar a formação, garantir residência e graduação de qualidade. Agora, a população não pode esperar. Nós sabemos que não havia médico, que a distribuição de médicos no território nacional é desigual, faltam na periferia das grandes cidades, na periferia das médias, no interiorzão deste país, no Norte e no Nordeste, principalmente nas regiões de fronteira, para as populações quilombolas e para os distritos indígenas. Faltava médico, fisicamente faltava médico. Você pode ter o posto de saúde... Eu não estou dizendo que isso elimina a necessidade de hospitais, eu estou tratando de uma outra coisa, estou tratando da atenção básica que resolve 80% dos problemas de saúde que uma pessoa tem, ao longo da vida, e que se atende onde no Brasil? No posto de saúde. Mas pode atender onde também? Na casa da pessoa. Pode atender mais onde? O espaço para atendimento da atenção básica é um espaço mais simplificado. Depois você tem a UPA e depois você tem o hospital.
Eu gosto do "Mais Médicos" porque nós tomamos uma medida, conseguimos formatar uma política, que leva esse médico e esse atendimento humanizado, porque uma das coisas que as pessoas queixam, é que o atendimento médico não era humanizado. Até porque, como havia muitas pessoas para serem atendidas e poucos médicos, o médico tinha de fazer atendimento muito mais rápido, não é? Até se compreende isso. Mas não se justifica para nós, para o poder público, que ele não tome providências. Então, isso levou a uma ampliação do atendimento, uma melhoria do atendimento. O retorno dessa política é, sem sombra de dúvida, extraordinário. As pessoas comentam que melhorou o atendimento, que foi feito concretamente. Ele não significa uma opção contra os médicos brasileiros; pelo contrário, mas acho também que esses médicos que vieram, por sua solidariedade, por sua generosidade, eles merecem todo o nosso reconhecimento. E, além disso, eu acho que demonstra um padrão de atendimento que nós temos de voltar a ter também, dentro do Brasil.
Eu tenho orgulho disso, e quero dizer para você também, "mudando do saco para a mala", que eu tenho também muito orgulho de ter conseguido fazer o marco regulatório dos portos, porque eu acho que vai beneficiar o país, e as concessões. Cada real aplicado em concessão, eu acho que se transforma em crescimento do PIB, mas se transforma, sobretudo, em melhoria da vida das pessoas, porque uma coisa está ligada à outra.
Agora, se você deixar eu falar mais um tempo, eu lhe falo outras coisas, também, que eu gosto muito. Eu gosto do "Viver sem Limites", por conta da questão das pessoas com deficiência. Acho que [é importante] a gente olhar e ter um programa de governo, porque, durante muito tempo, a população brasileira teve um grau de invisibilidade muito grande. Eu não sei se vocês lembram, havia um livro do "realismo mágico", vocês lembram da época do realismo mágico? Eu sou velha, eu sou da época do realismo mágico. E tinha o "Garabombo Invisível", que era um livro de um peruano, se eu não me engano. E eu acho que uma parte do povo brasileiro, durante um período, foi tipo o "Garabombo Invisível": ninguém via ele, sabia que ele existia, mas 'in limine' não enxergava, de qualquer jeito não enxergavam mesmo. Acho que não era só o povo, acho que eram os negros, as pessoas com deficiência, mesmo nós mulheres e a violência que se recai sobre as mulheres.
Então, há alguns programas eu que eu gosto muito. Eu gosto do "Viver sem Limites", eu gosto da "Casa das Mulheres", e eu gosto de todos os programas de cotas dos negros. Por quê? Porque este país foi um país que viveu a escravidão durante muitos anos. Este país, que viveu a escravidão, quando aboliu a escravidão, manteve hierarquia da sociedade escravista,... a forma de manter a hierarquia da sociedade escravista era o racismo. E o racismo se perpetuou numa estrutura societária. Tanto é que quando a gente fala: “tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza”, pode saber que uma parte dessas pessoas, significativa, se não a grande maioria, é negra.
Então, ter uma política de cotas, no Brasil, é a forma pela qual você faz a política afirmativa. Eu sou a favor de cotas nas universidades e no serviço público. Acho que é imprescindível um país que, no senso, se declarou 50% afrodescendente, mais de 50% afrodescendente, ele tem de ser contemplado com políticas específicas. Eu sei que a política social nossa beneficia os negros. Isso ocorre no ProUni. Porque o ProUni é para estudante de baixa renda. Ocorre no FIES, para estudante de baixa renda. Ocorre em todas as políticas de valorização. Você pode olhar no PRONATEC, vai lá, você vai ver mulher e vai ver muito negro. E também vai ver jovens.
Eu quero lhe dizer que há uma política pela qual eu vou me apaixonar: é a "política de inclusão digital". Banda larga de alta capacidade no Brasil. É o meu grande desafio do futuro, que é o que você perguntou. Para mim o desafio é esse. Porque banda larga de alta capacidade junta uma porção de políticas, inclusive, a questão da educação.
Quero dizer para vocês, para encerrar, que essa é uma política que tem também uma característica forte. Um dos grandes valores que qualquer pesquisa vai mostrar para vocês, de qualquer pai, de qualquer mãe, é a educação dos filhos. E também essa valorização que o jovem tem pela capacidade, em relação à geração anterior, de dominar a internet, de pegar a internet e fazer da internet uma forma de se expressar, e um mundo próprio. Inclusive, eu acho que deu um status para o jovem, esse jovem novo da classe média que surgiu. Eu acredito que essa é uma política para além de educacional. Ela é uma política cultural, é uma política de democratização do país. Então, dar acesso à banda larga é algo fundamental. Por isso, eu lhe agradeço muito. Mas, nunca se esqueça, a gente gosta de todos os filhos.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo para vocês."
Ouça a íntegra da entrevista (1h23min51s) da Presidenta Dilma
FONTE: Blog do Planalto (http://www2.planalto.gov.br/imprensa/entrevistas/entrevista-coletiva-concedida-pela-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-cafe-da-manha-com-jornalistas-setoristas-do-palacio-do-planalto-brasilia-df-1/view). [Trechos entre colchetes introduzidos por este blog 'democracia&política' para eliminar gaguejamentos e contrações normais somente na linguagem falada].
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