Do “Brasil 247”
“Em sua coluna no fim de semana, o jornalista Elio Gaspari fez uma exortação aos leitores: "vem pra rua você também!", indicando que ele deseja a repetição dos protestos ocorridos em junho. A convocação foi duramente condenada em editorial da “Carta Maior”. "É a sua explícita contribuição à campanha conservadora no próximo ano", diz o texto de Saul Leblon. Segundo a “Carta”, só eventos anormais, como atos de violência nas ruas, especialmente durante a Copa, poderão devolver o poder aos "conservadores" [PSDB, DEM, PPS, "elite", mídia].
Em sua coluna desse fim de semana, o jornalista Elio Gaspari fez uma convocação. Pediu o povo nas ruas em 2014, para que se repitam os protestos de junho (leia aqui). Essa exortação foi duramente condenada em editorial da “Carta Maior”. Leia abaixo:
"A CONVOCAÇÃO PARA 2014: "ELIOOO, O HEITOR!"
Em coluna natalina, em 25 de dezembro, o jornalista Elio Gaspari convoca protestos de rua para 2014. O panfleto está encartado na [tucana] “Folha” e assemelhados.
Por Saul Leblon, da “Carta Maior”
Em sua coluna natalina, em 25 de dezembro de 2013, na “Folha”, o jornalista Elio Gaspari convoca protestos de rua para 2014.
É a sua explícita contribuição à campanha conservadora no próximo ano.
‘Em 2014 vem prá rua você também’, diz o título da coluna que arremata com a seguinte exortação: ‘Em 2014, a turma que paga as contas irá às urnas. Elas poderão ser um bom corretivo, mas a experiência deste ano que está acabando mostra que surgiu outra forma de expressão, mais direta: "Vem pra rua você também".
Gaspari engrossa o coro daqueles que – a exemplo dele, sabem que só o impulso de acontecimentos anormais pode devolver o poder ao conservadorismo ao qual se filiam, nas eleições do próximo ano.
Reconheça-se no panfleto encartado na “Folha” o predicado da coerência: Gaspari se mantém fiel à cepa na qual foi cevado e graças a qual deixou o batente das redações para viver das memórias da ditadura.
O artigo é uma extensão dessa trajetória.
É como se o autor psicografasse vozes e agendas às quais serviu como uma tubulação expressa quando a ditadura militar agônica buscava erguer a ponte dos anos 80, para trocar o uniforme pela gravata, sem macular a essência do poder.
Gaspari, subchefão de “Veja”, então, ao lado de Roberto Guzzo, aderiu ao esforço de erguer linhas de passagem sem rupturas de destino.
Secretárias pressurosas emitiam a convocação em sustenidos de urgência pelos corredores da revista nos anos 80: 'Eliiooooo, o Heitor, o Heitor!'.
Era algo religioso.
O telefonema-chave chegava invariavelmente um ou dois dias antes do fechamento da edição semanal.
'Heitor', mais especificamente, o coronel Heitor Aquino Ferreira, acumulava credenciais do outro lado da linha.
Elas justificavam a ansiedade incontida no trinado das secretárias.
Sua ficha corrida incluía o engajamento, cadete ainda, na conspiração para derrubar Juscelino, em 1955; a ativa participação golpista para derrubar Jango, em 64; a prestação de serviços para injetar músculos no SNI; a ação lubrificante à passagem de Daniel Ludwig, o bilionário do projeto Jari, pelos corredores do poder militar. E assim por diante.
Com base nesse saldo, foi nomeado secretário de dois ditadores: Geisel e Figueiredo.
Elio e Heitor tinham mais que a cumplicidade na missão específica da travessia do quartel para a urna.
Fluxo e vertedouro identificavam-se num traço de caráter, digamos, olfativo: ambos eram bons farejadores dos ventos da história.
Elio começou a carreira no jornal “Novos Rumos”, ligado ao partidão (PCB). Rápido, sentiu a friagem vinda do polo oposto e foi servir ao colunista social e reacionário de carteirinha, Ibrain Sued; pós-golpe, ascendeu como turbojato na carreira.
A pretensiosidade é outro traço que dá liga à parceria.
Na conspiração golpista de 64, o capitão Aquino Ferreira usava um codinome afetado: 'Conde de Oeiras'.
Nos telefonemas ao jornalista Elio Gaspari --destinatário dos pressurosos arrulhos das secretárias de “Veja” nos anos 80--, o já coronel Heitor considerava desnecessário o anonimato.
Tampouco, Elio recomendava discrição às telefonistas.
Eram tempos em que pertencer a certos círculos fazia bem ao currículo e ao ego.
Ser o mensageiro, a tubulação dos bastidores da ditadura, dava prestígio e holerite. Ademais de alimentar uma sensação de impunidade quase cínica.
Quando os telefonemas de Brasília agitavam as pautas e o arremate dos fechamentos de “Veja”, Heitor servia como homem de confiança e porta-voz do general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do ditador Geisel.
Foi nessa condição de emissário e serviçal que ele reuniu as famosas 40 pastas de documentos da ditadura, entregues entre 1982 e 1987 ao jornalista amigo selando um troca-troca feito de empatia e propósitos comuns.
Os arquivos serviriam de lastro aos livros que Gaspari lançaria com a sua versão sobre o ciclo da ditadura.
Era essa a carga simbólica que os chamados de Heitor propagavam pelos corredores da “Veja”, um ou dois dias antes do fechamento. Às vezes, no mesmo dia; não raro, mais de uma vez ao dia.
O destinatário dos telefonemas das sombras, a exemplo de outros protagonistas de um enredo à espera de um filme, agora convoca as massas às ruas em 2014.
De certa maneira, presta-se, ainda, ao papel de duto de Heitor, já morto, psicografando lições, limites e agendas à democracia brasileira.
Teimosa, ela insiste em afrontar os perímetros sociais e econômicos delimitados nos anos 80, nos "gloriosos" dias da “transição segura e gradual”, abraçada pela dupla de democratas.
O artigo de Natal carrega a ansiedade abusada de quem vê nas urnas de 2014 a última chance de reverter um processo no qual 'bruxos' de farda e megalomaníacos de redação perdem a prerrogativa de ditar o que é bom para o país e para a democracia.”
FONTE: jornal online “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/125085/Por-que-Elio-Gaspari-convocou-as-ruas-em-2014.htm).
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