O jornal “O Estado de São Paulo” publicou ontem a seguinte reportagem de Leandro Modé (li no blog do Noblat):
PAÍS VIRA UM DOS DESTINOS PREFERIDOS DOS INVESTIDORES E O REAL É A MOEDA COM A TERCEIRA MAIOR VALORIZAÇÃO ANTE O DÓLAR
A melhora de humor nos mercados internacionais nas últimas semanas trouxe o investidor estrangeiro de volta ao Brasil e colocou os principais ativos do País em destaque no mundo. Do início do ano para cá, a bolsa brasileira é a que tem os maiores ganhos do planeta e o real é a moeda com a terceira maior valorização ante o dólar. Se a máxima segundo a qual o mercado financeiro antecipa o que ocorrerá meses depois na economia real for mesmo verdadeira, os brasileiros podem ter razão para algum alívio, em meio a tantas notícias negativas.
Até a quarta-feira, o índice MSCI Brasil avançava 27,41%, ante 25,7% do MSCI Rússia, segundo colocado no levantamento feito pelo Estado. Essa série de termômetros do mercado acionário global foi criada pela MSCI Inc., divisão do banco americano Morgan Stanley. É a medida mais usada pelos investidores para comparar as bolsas porque adota referências semelhantes e elimina a influência das moedas locais.
No mercado cambial, também até quarta-feira, o ganho do real em relação ao dólar era de 6,32%, ante 6,74% do rand sul-africano e 10,66% do peso chileno. Sexta-feira, a moeda americana valia R$ 2,191. Segundo o vice-presidente da mesa de operações do Banco WestLB, Alexandre Ferreira, o avanço do real só não é mais expressivo porque o Banco Central (BC) já fez operações que, na prática, tiveram o mesmo valor de uma compra de dólares.
No fim de março, a autoridade monetária deixou de rolar vários contratos de um instrumento financeiro chamado swap, num total de US$ 3,5 bilhões. Se o BC tivesse mantido a estratégia anterior, provavelmente o real estaria no topo do ranking mundial hoje, como a Bovespa.
A valorização dos dois ativos está interligada e deve-se principalmente à volta do apetite pelo risco entre os investidores estrangeiros. Isso ocorreu por causa do relativo otimismo que se seguiu ao anúncio do plano do governo Barack Obama para salvar bancos nos EUA e ao resultado da reunião do G-20, na qual se definiu, entre outras coisas, que banco relevante não vai mais quebrar e os planos de estímulo podem chegar a US$ 5 trilhões em todo o mundo.
É como se a tempestade tivesse amainado e os investidores mais arrojados já estivessem saindo da toca para olhar as opções com bom potencial de retorno. Nesse contexto, o Brasil se destaca por várias razões.
A primeira delas é resumida pela palavra fundamentos. "O Brasil tem estabilidade política, uma relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) controlada, adota câmbio flutuante e tem amplo espaço para reduzir a taxa básica de juros, diferentemente da maioria dos países", afirma o presidente da Corretora do Citibank no Brasil, Roberto Serwaczak.
Essa combinação fez com que o investidor estrangeiro voltasse a comprar ações de empresas brasileiras nas últimas semanas - o que, por tabela, ajuda a valorizar o real. Até 14 de abril, o saldo de operações de estrangeiros na Bovespa estava positivo em R$ 2,7 bilhões. No ano, o superávit é de pouco mais de R$ 4 bilhões. Para se ter uma ideia, em 2008, as saídas superaram as entradas em R$ 24,6 bilhões.
Outra razão é algo que pode soar estranho em um momento de crise: excesso de liquidez. "É claro que há fatores para justificar um certo otimismo, mas o que realmente explica o movimento recente é a sobra de dinheiro no mundo", diz João Saldanha, da Bradesco Corretora.
"Os bancos centrais e os tesouros estão injetando liquidez imensa, que encontra cada vez menos possibilidades de boa remuneração", completa, referindo-se às taxas de juros em níveis historicamente baixos nos países desenvolvidos.
O superintendente de Renda Variável do Itaú-Unibanco, Walter Mendes, acrescenta mais um fator que explica o otimismo do investidor externo com o Brasil: a solidez do sistema financeiro. Nenhum banco quebrou no País em decorrência da crise e as instituições nacionais não estavam expostas ao mercado imobiliário dos EUA, onde a crise começou.
Mendes observa, ainda, que a bolsa brasileira foi uma das que mais se desvalorizaram após a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em 15 de setembro. Portanto, parte da expressiva alta de 2009 se explica pela extensão da queda anterior. No ano inteiro de 2008, o Ibovespa recuou mais de 40%.
Apesar dos números favoráveis, os analistas dizem que a onda de otimismo pode não ser duradoura, já que ainda se espera muita instabilidade no mundo nos próximos meses, talvez anos. "Minha impressão é de que estamos em um veranico", diz o presidente do Banco HSBC para América Latina, Emilson Alonso. "Acho que, daqui até o meio do ano, veremos volatilidade ainda. Não acredito que esse veranico será um verão."
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