Li hoje no site “Vermelho”:
“A V Cúpula das Américas terminou, neste domingo, em Trinidad e Tobago, sem que houvesse consenso sobre a declaração final do encontro. Entre os argumentos para a não aprovação unânime do documento estão a questão do embargo a Cuba, a escassa presença, no documento, da crise econômica mundial e até mesmo discussões sobre quais países são democráticos e quais não são. Apesar disso, o evento foi considerado positivo em relação aos compormisso dos países com o desenvolvimento conjunto e abriu a esperança de uma nova era nas relações com os Estados Unidos.
Vários líderes, entre eles o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e seus colegas de Honduras da e Nicarágua reiteraram as reservas em torno do texto, sob o argumento de que passa por alto pela crise global e ignora a política de bloqueio a Cuba.
O documento já havia sido rechaçado na recente reunião dos países da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), integrada por Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Honduras, Cuba, Dominica e São Vicente e Granadinas.
"A declaração em si não tem a completa aprovação dos 34 países presentes. Alguns deles manifestaram suas reservas", declarou o primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning, no encerramento da reunião continental.
"O documento que emerge é um documento de compromisso, que recebeu a aprovação de alguns e a desaprovação de outros. Concordamos em adotar este documento, já que ao adotá-lo, reconhecemos que não há unanimidade e sim um grande consenso sobre estas questões importantes", completou Manning.
Integrantes da Alba, como o presidente equatoriano Rafael Correa, já haviam dito que o projeto final da declaração "não reflete a crise econômica que vivemos, que não é uma crise conjuntural, é uma crise do sistema capitalista, e as soluções querem ser dadas legitimando os responsáveis pela situação atual, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional".
Além da segurança energética e da prosperidade, temas incluídos na agenda do encontro, as questões que realmente centraram o evento foram Cuba e a crise econômica.
Durante a realização da cúpula, o presidente Evo Morales, em um encontro com repórteres, afirmou que seu colega estadunidense, Barack Obama, deveria escutar a comunidade internacional, que há 17 anos exige o fim dessa política hostil contra a ilha. "Obama tem a obrigação de reparar danos econômicos e políticos ocasionados ao país caribenho", opinou.
NOVA ERA DE COOPERAÇÃO
Neste domingo, Obama, prometeu uma nova era de cooperação com a América Latina, que vá além da tradicional colaboração militar ou contra o tráfico de drogas. Segundo ele, a V Cúpula das Américas serviu para estabelecer uma nova etapa de respeito em direção aos países soberanos e democráticos do hemisfério, apesar das diferenças de opiniões.
Obama chegou a Port of Spain com o discurso de que está disposto ter um novo começo com Cuba e admitiu, neste domingo, que meio século de políticas americanas sobre Cuba "não funcionaram", mas destacou que a política americana em relação à Havana não mudará da noite para o dia.
De forma contraditória, questionado sobre um possível fim do embargo americano a Cuba, Obama repetiu que espera que o governo de Raúl Castro mostre sinais de que está disposto a investir na democratização e a libertar os presos políticos.
Obama destacou, em discurso, os "sinais positivos" nas relações de Washington tanto com Cuba quanto com a Venezuela, mas disse que isso não basta. "A prova para todos nós não são simples palavras, mas também atos", pediu Obama aos governos de Raúl Castro, em Havana, e de Hugo Chávez, em Caracas.
QUEIXAS AOS EUA
Desde que chegou a Port of Spain, em Trinidad e Tobago, na sexta-feira à tarde, Barack Obama, ouviu inúmeras queixas dos chefes de Estado presentes na Cúpula das Américas - de acusações sobre a "ingerência americana" em seus países até a "culpa", mais recente, pela crise financeira.
Os líderes tomaram o cuidado de não culpar especificamente o presidente americano. Mas, ainda assim, Obama teve de ouvir um apanhado de críticas à "postura histórica" dos Estados Unidos em relação à América Latina.
A artilharia de críticas começou com a presidente da Argentina, Cristina Kirschner, na abertura do evento. Segundo ela, a relação dos Estados Unidos com a América Latina foi, durante décadas, "traumática", o que resultou em "ditaduras" e "intervenções militares".
"Quero dizer ao presidente Obama que de maneira nenhuma isso significa uma crítica a ele. Mas sim um exercício de compreensão das coisas pelas quais temos passado", disse. Cristina arrancou os primeiros aplausos da plateia quando classificou de "paradoxo" a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Logo em seguida, foi a vez de o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, tecer uma série de acusações ao governo americano. Em um discurso de quase uma hora, Ortega descreveu com detalhes a "ingerência" dos Estados Unidos sobre o processo político da Nicarágua na década de 80.
Ortega também levantou a questão cubana. "Tenho vergonha de estar aqui nessa cúpula sem a presença de Cuba", disse. Mas acrescentou que o presidente Obama "obviamente não tinha culpa, já que tinha apenas três meses na época da Revolução Cubana".
Apesar das acusações aos Estados Unidos, Obama reagiu com presença de espírito. "Fico feliz que o presidente Ortega não me culpe por coisas que aconteceram quando eu tinha três meses de idade", disse, descontraindo a plateia.
A avaliação geral na Cúpula é de que o líder americano teria sabido contornar as cobranças. "Ele de forma alguma parece constrangido", disse um funcionário da OEA. Na manhã do domingo, Obama esteve reunido com os 12 chefes de Estado que formam a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um dos temas foi a crise econômica. O presidente Lula, por exemplo, sugeriu que os Estados Unidos ampliassem a ajuda financeira aos países mais pobres da região. De acordo com o chanceler Celso Amorim, que acompanhou o encontro, o clima da reunião foi "bastante cordial".
Em seu discurso de abertura, Obama sugeriu que os líderes do hemisfério "olhassem para o futuro" e que não ficassem presos a "desavenças do passado". "Com frequência, a oportunidade de se construir uma nova parceria nas Américas é prejudicada por discussões ultrapassadas", disse o presidente americano.
Já as críticas de Chávez aos Estados Unidos foram menos contundentes do que se esperava. Segundo a Agência Bolivariana de Notícias (ABN), o presidente da Venezuela disse que os Estados Unidos devem "romper com essa concepção que somos seu quintal".
No evento, contudo, o líder venezuelano elogiou a postura de Obama durante os encontros na Cúpula. Segundo ele, o presidente americano teria se mostrado "interessado" nas palavras dos outros chefes de Estado, que apresentaram suas "inquietudes". "Que bom que Obama tenha tomado nota e que responda a algumas de nossas interrogações", disse Chávez.
A postura amistosa de Chávez em relação a Obama foi considerada uma surpresa. A foto dos dois líderes se cumprimentando, na abertura a Cúpula, foi exposta no portal do governo venezuelano, sob o título "cumprimento histórico entre presidentes Obama e Chávez".
O presidente venezuelano também anunciou que indicará um novo embaixador para os EUA. O nome escolhido por Chávez é o diplomata Roy Chaderton. Segundo o presidente, a designação do novo embaixador será "para dirigir uma nova era de relacionamento político e econômico".
Em setembro de 2008, Venezuela e EUA suspenderam suas relações diplomáticas devido à expulsão do embaixador em Caracas, Patrick Duddy, em "solidariedade" a uma ação similar que tinha tomado o presidente boliviano, Evo Morales. A nova nomeação é o primeiro passo para o que pode ser o restabelecimento das relações entre Estados Unidos e Venezuela
AJUDA MAIOR A MONTADORAS
O fundo de US$ 100 milhões anunciado neste sábado por Barack Obama, para o microfinanciamento na América Latina, tem volume 174 vezes menor que os US$ 17,4 bilhões dados pelo governo americano à General Motors (GM) e Chrysler para evitar a falência das montadoras. O fundo latino americano será destinado para facilitar o fluxo de créditos.
Em comunicado, a Casa Branca disse que o Fundo para o Crescimento com Microfinanciamento para o Hemisfério Ocidental visará a fornecer fontes estáveis de financiamento a médio e longo prazo a entidades dedicadas aos pequenos empréstimos, para ajudar a aumentar a capacidade de concessão de crédito.
Por outro lado, desde dezembro, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos emprestou US$ 13,4 bilhões à GM e outros US$ 4 bilhões à Chrysler para manter as companhias funcionando.
A Casa Branca disse que outro objetivo do fundo anunciado neste sábado será aumentar as fontes de financiamento para as micro e pequenas empresas enquanto não conseguem se recuperar economicamente. O novo organismo terá participação do Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Interamericana de Investimentos, entre outras entidades.
O Fundo de Investimentos do BID desempenhará o papel principal na configuração do novo organismo, informou a Casa Branca. Apesar de o fundo disponibilizar US$ 100 milhões inicialmente, o objetivo é arrecadar US$ 250 milhões para este fundo, para o que as entidades constituintes pedem que outras organizações do setor público e privado participem.
LULA "REALIZADO"
Ao final da cúpula,o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que Obama, “deve ter tomado um banho de América Latina” e que, certamente, houve uma evolução muito grande nas relações dos EUA com o continente. Lula disse que saiu surpreso com os resultados positivos da reunião, da qual, segundo ele, muita gente esperava uma “batalha campal”.
O presidente declarou também que aguarda com expectativa uma reunião marcada para o mês de julho, em Santiago, no Chile, na qual os ministros latino-americanos de economia vão discutir o impacto da crise financeira internacional nos países mais pobres.
A liberação de US$ 100 milhões dos Estados Unidos para os países latinos foi classificada por ele como “muito pequena”. Para Lula, o auxílio deve ser ampliado e deve contar também com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O presidente reforçou, contudo, a necessidade de os países do continente dependerem cada vez menos dos EUA para sobreviver. “Temos que começar a tomar conta de nosso nariz. Não devemos ficar pedindo favor. Essa era acabou”, enfatizou o presidente brasileiro.
Sobre o embargo econômico e a exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA), Lula avaliouque o assunto avançou de forma positiva, mas entende que as negociações nesse sentido fazem parte de processos antigos e que é preciso tempo para reverter os embargos.
De acordo com Lula, “os cubanos não estão pedindo a ninguém para representá-los (nas negociações com os EUA). Raúl Castro (presidente de Cuba) já deu quatro sinais de que quer conversar, agora cabe a Obama indicar alguém para negociar com vontade. Não vejo possibilidade de outra Cúpula das Américas sem Cuba; não há mais explicação para isso”.
Ele expressou ainda que foi criado o momento para um diálogo entre Washington e Caracas, após anos de tensas e complicadas relações diplomáticas.
"Eu disse ao Chávez: tua divergência era com o Bush e não com os Estados Unidos, este é o momento. Esse clima está pelo menos criado. A reunião permitiu dar um passo", afirmou Lula a repórteres antes de se preparar para voltar ao Brasil.”
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