Li ontem no blog do jornalista Luis Nassif a seguinte entrevista do embaixador na Argentina, José Botafogo Gonçalves, para Ariel Palácios do Estadão:
AS RELAÇÕES COMERCIAIS
“O nível de relacionamento é hoje muito intenso. Existe grande crescimento no setor dos investimentos das indústrias brasileiras na Argentina. Além disso, o país tem significativo consumo de produtos brasileiros. No mercado argentino, o Brasil consegue até competir com produtos da China. Além disso, as relações financeiras são intensas. E mesmo no setor agropecuário, por exemplo, vemos os casos de vários frigoríficos que atualmente estão em mãos brasileiras na Argentina. Tudo isso faz com que as relações entre os dois países não sejam resolvidas apenas pelo aspecto comercial de uma série de produtos, os chamados produtos sensíveis. Mas, ainda que seja compreensível essa atitude, falta, em ambos lados, uma visão integracionista.
A DESCOORDENAÇÃO NOS FÓRUNS
Na época em que eu estava no governo, o Mercosul falava com uma só voz, tinha representação unificada. Mas, no caso da OMC, jamais os quatro países aceitaram falar com uma única voz. O bloco jamais se fez presente em Genebra. Cada um fala por sua conta.
As relações com a China e a Índia devem ser vistas a longo prazo. Isso ainda não foi decidido no Brasil. Há uma crescente discussão, muitas vezes atada ao curto prazo. Quando se fala em China, as pessoas logo pensam em invasão de produtos chineses. Não se pensa a longo prazo.
SOBRE O G-20
O G-20 tem uma perspectiva interessante. Veja que há uma proliferação de “Gs”. É que o mundo está se reestruturando. Não dá para organizar o mundo ao redor dos grupos de antes. Por isso, os Brics (grupo que reúne o Brasil, Rússia, Índia e China) ocuparão cada vez mais espaço.
SOBRE BRASIL E AMÉRICA DO SUL
O teatro das operações da diplomacia brasileira no século 21 será a América do Sul.
O crescimento da economia do Brasil se intensificará mais ainda. Mesmo que a integração seja exasperadamente lenta, o Mercosul é uma unidade que vai se preservar. E os dois países associados ao Mercosul, o Chile e a Bolívia, vão gravitar ao redor do Mercosul. No caso da Venezuela, enquanto estiver a política bolivariana de Hugo Chávez, as coisas serão complicadas. O Brasil não tem nada de anti-Venezuela. Mas é o presidente Hugo Chávez que tem uma política anti-integração. Ele é quem não quer saber nada de mercado.”
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