Li hoje no site do jornalista Luis Nassif o seguinte artigo escrito por Weden:
“Na matéria do Estadão (Portal) “Audácia marca largada de Obama”, há uma questão que fica de fora: o enterro da cultura neocon.
Aliás, as discussões eminentemente econômicas da crise atual ocultam seriamente o deslocamento dos valores culturais e filosóficos que vêm se dando, com o fim do pensamento único.
A matéria citada acima poderia ganhar o título “Obama, os 100 dias que enterraram a cultura neocon”
Na era neocon (aprofundada por Bush) falar em líderes populares era falar em ditadores sanguinários; usava-se a expressão Eixo do Mal, dividindo o mundo entre bonzinhos e satânicos (os opositores aos EUA, lógico); condenar Guantânamo e os métodos da Guerra do Iraque era coisa de defensores de terroristas.
No Brasil, o neocon fez escola: Veja e seus pitbuls (e seu neomakartismo de difamação de tudo que parecia-lhes de esquerda), Ali Kamel e a negação do racismo, Olavo de Carvalho com seu desdém em relação ao que ele chamava de “queridinhos de ongs” (negros e indígenas), Arnaldo Jabor chamando de atrasados todos que duvidavam do neoliberalismo.
Foi uma época em que até os livros didáticos foram queimados em praça pública (diga-se: no espaço da mídia) se trouxessem uma visão diferenciada. Època também em que qualquer coisa que “cheirasse a politcamente correto” era sarcasticamente rejeitada. Fora os pudores excessivos, é lógico que respeitar o próximo é sempre útil.
Movimentos sociais foram criminalizados, bandidos pobres mereciam única e exclusivamente execução sumária. Investimentos sociais eram vistos como gasto e desperdício.
Mesmo na academia, teóricos críticos foram caçados como bruxas, e seus escritos condenados em páginas de jornais. Falar em Adorno, Gramsci, Habermas era motivo de riso. Relativismo cultural era concessão a incapazes da história, e lembrar os horrores da colonização era rejeitar “o bem que o ocidentalismo nos fez”.
Mas…o neoliberalismo acabou, levando consigo o pensamento econômico único, o governo Bush teve fim melancólico, a política do diálogo foi ressuscitada por Obama, dando fim à opção neocon, e a disputa ideológica está mais equilibrada.
Hoje o que é neocon é que parece atrasado e sem volta. Ainda há focos de resistência no Brasil.
Mas é questão de tempo.”
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