segunda-feira, 6 de agosto de 2012
A SÍRIA SEM NEVOEIROS
“Merece reflexão um aspecto da atual ofensiva imperialista contra a Síria: é que entre as malhas da componente midiática dessa ofensiva têm aparentemente passado mais fatos do que sucedeu, por exemplo, no bem recente caso da Líbia. Uma das razões por que isso acontece decorre talvez do fato de que todos os elementos da operação já serem muito conhecidos. A máquina de mentiras imperialista está emperrando?
Por Correia da Fonseca, de Portugal
Plano estadunidense usa como disfarce os ideais democráticos da Primavera Árabe e uma falsa preocupação humanitária.
1. Nos primeiros dias, e mesmo nos seguintes, a comunicação social reprodutora das versões convenientes contou-nos estórias ingênuas em que quase só acreditava quem queria: em resumo, que um grupo de paisanos bem formados e ávidos de democracia tinha resolvido acabar com uma ditadura detestável, aparentemente quase que usando apenas as mãos nuas e pouco mais. Depois, decerto porque não se pode ocultar tudo durante todo o tempo, foram gotejando informações capazes de comporem outro quadro. Revelam que os espontâneos e inocentes combatentes pela liberdade manejam material bélico sofisticado, incluindo carros de combate, que dificilmente lhes teria caído do céu aos trambolhões sem que lhes tivesse partido as cabeças. Que os mesmos recebem ajuda, embora não se sabendo quanta e qual, da Arábia Saudita e do Qatar, estados onde a total penúria de respeito pelos tão invocados direitos humanos é aparentemente compensada pela estrita obediência à política de Washington. Que Israel, esse estado que detém, e de longe, o recorde mundial de desobediência a resoluções da ONU, e que, aliás, desde há muito ocupa ilegalmente uma faixa de território sírio, também está irmanado com o autodenominado “Exército Sírio Livre”. Que nem mesmo os homens da ONU/EUA declararam frontalmente que a responsabilidade pelos horrores havidos na Síria podem ser imputada exclusivamente às forças fieis ao presidente Assad, bem antes pelo contrário.
2. A esse breve arrolamento de fatos que têm como que passado pelas malhas da rede manipuladora que a TV, como elemento fundamental da ofensiva midiática desencadeada contra a Síria, tem querido erguer entre nós e a realidade, acrescentaram-se recentemente (escrevo estas notas no sábado, 28 jul) duas informações esclarecedoras, decerto entre várias outras. Uma delas até se reveste de aspecto um pouco caricato: trata-se da afirmação já reiterada de que o governo sírio disporia de “armas de exterminação em massa”, que no caso seriam armas químicas, e que estaria disposto a usá-las contra o “povo revoltado”. Todos, decerto, nos lembramos ainda da repetida afirmação de que o Iraque de Saddam Hussein possuía, também ele, “armas de destruição em massa”, e de que esse foi o argumento decisivo para "justificar" a invasão do Iraque pelos Estados Unidos & Cia., com o cortejo de horrores que aliás, ainda hoje, prossegue embora já não no seu apogeu. A outra informação recentemente prestada, e sem que dela haja motivo para duvidar, é a de que o ponto mais duro dos combates entre as forças fiéis ao governo e o tal “Exército Livre” é agora a cidade de Alepo. Ora, acontece que Alepo está encostadinha à fronteira com a Turquia, o que confirma, perante quem não tenha escolhido ser míope, que a Turquia tem vindo a ser a principal base das operações desencadeadas contra a Síria. Sem surpresas, aliás: a Turquia é, sabidamente e desde há muito, um peão da política norte-americana na região. Que essa sua condição seja agora de fato confirmada também pela TV é, pois, natural e inevitável nas circunstâncias atuais.
3. A mesma TV fornece uma outra informação verdadeiramente concludente no exato momento em que escrevo estas notas: citando um jornal diário, a apresentadora de um telenoticiário diz que na Turquia está instalada uma base que, com auxílios da Arábia Saudita e do Qatar, se destina a apoiar as forças antiAssad. É já a ”Operação AntiSíria” sem os nevoeiros mistificadores dos primeiros dias. Entretanto, havia sido divulgada uma outra informação, essa até um pouco patusca: as deserções entre os apoiantes do presidente Assad têm sido em número muito inferior ao que o “Ocidente” esperava e a que aconteceu na Líbia em relação a Khadafi. Querem ver que o dólar está perdendo o seu poder de convencimento?”
FONTE: escrito por Correia da Fonseca, de Portugal, no “O Diário.info”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=190228&id_secao=9).
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